No dia das professoras e dos professores quem tenta responder as perguntas somos nós!!!

Tiago Tristão Artero

A Lei Educacional foi sancionada em 1827 por dom Pedro I (em 15 de outubro). Somente com o projeto de Antonieta, deputada estadual em Santa Catarina, negra, para a criação do Dia do Professor (e feriado escolar, Lei Nº 145, de 12 de outubro de 1948) que foi possível, em 1963, ser oficializada em todo o país, pelo presidente da República João Goulart.

No entanto, as contradições são muitas e podem ser elencadas em forma de questionamentos que estão, é claro, atrelados às próprias contradições sociais de maneira ampla e outros pontos específicos desta profissão…

Por que as escolas enfileiram crianças, jovens e adultos?

Por que há uma padronização de conhecimentos e engessamento nas ações?

Por que escolas parecem-se com prisões e fábricas?

Por que o ensino não é laico?

Por que Exu não está nas escolas? Jesus, Espírito Santo e os Santos Católicos são melhores que as divindades genuinamente brasileiras como Kaofé, Tupã, Jaci, Sumé (indígenas) e uma variedade de Orixás?

Por que a escola ainda ensina que a mercadoria Pau-Brasil é a única interpretação para o nome colonizante “Brasil”, esquecendo-se da “Pindorama” e de que um colonizador Américo Vespúcio não merece ser homenageado em terras latinas Aby Ayala?

Por que aquilombar-se, lutar pelo teko porã e valorizar conhecimentos e a cultura das aldeias, das ruas e dos terreiros é tão penoso no sistema atual?

Por que professores (homens… pois o termo “professor” não engloba as mulheres) ganham mais que professoras?

Por que há tanta repressão da atividade docente e desrespeito à liberdade de cátedra? – incluo aqui ataques às reflexões sobre gênero, ao olhar crítico sobre as situações sociais alavancadas pela sociedade empresarial e patriarcal, abafamento das histórias seculares não contadas e de outros saberes não aceitos no ambiente escolar.

Por que quase não há professoras e professores indígenas nas escolas brasileiras (com uma população de 1.000.000 de indígenas)?

Por que só há professoras e professores negrxs nas etapas da educação em que o salário é pior e em outras etapas a quantidade de negras e negros docentes é pífia?

Aliás, por que o salário é pior nas séries iniciais e aumenta no Ensino Médio e Ensino Superior (e aqui não digo que seja alto nestas esferas)?

Por que ainda aceitamos que professoras e professores da escola pública tenham uma (ainda baixa) “relativa liberdade de cátedra” e as/os contratadas sejam minados em sua capacidade/liberdade em desenvolver conteúdos com as/os alunas?

Por que aceitamos materiais apostilados extremamente fragmentados e que violentam a liberdade de cátedra?

Por que os conhecimentos populares, tradicionais, quilombolas, indígenas, das/dos ribeirinhas, dentre outros, são considerados folclores e não estão presentes no contexto escolar?

Por que o genocídio epistemológico é pouco falado (e há poucos esforços para a superação) no contexto escolar/universitário?

Por que o racismo pedagógico ainda perdura, espantando outras maneiras de relacionar-se no (e com o) processo de ensino-aprendizagem?

Por que escolas públicas que possuem relevantes produções e geração de conhecimento (como os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e outras no nível municipal e estadual) não são alocadas como inspiração para um projeto de reestruturação escolar pública para todo o Brasil?

Por que alguns povos e comunidades são considerados como “objetos de pesquisa” e não possuem protagonismo naquilo que falam sobre eles? (ver no youtube em “25 Anos de História dos Índios no Brasil (11.12.2017)” a partir das 02 horas e 02 minutos).

Por que os saberes impostos pelo sistema empresarial (capitalista, como queiram) são tão proeminentes no contexto escolar, numa perspectiva de conhecimento eminentemente criada (e escrita) pelos dominantes?

Por que influências de grupos como (ou com pensamentos próximos) o Escola Sem Partido ainda orbitam o ambiente escolar?

Por que há tão grande pressão de várias partes e que atingem as iniciativas escolares que buscam lógicas que valorizem o ser humano e todo tipo de vida na Terra questionando a insustentabilidade do modo de vida moderno e refletindo sobre as causas das misérias e opressões?

Certamente há infinitos outros questionamentos, alguns com respostas que remetem a formação recebida por professoras e professores, outras relacionadas a repressão da atividade docente e, ainda outras, que mostrarão como o capital, o patriarcado e as opressões estendem-se ao ambiente escolar.

O que não podemos é: deixar de questionar e debater por que a escola existe e quais diversidades de escola queremos.


Imagem de destaque: Ato de alunos, professores e funcionários da UERJ. 21/05/2015. Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil

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