Tarcísio Mauro Vago
É muito doloroso perder um estudante com tanta vida pra viver, agora e depois.
E é sempre irreparável, porque é perda pra sempre, é dor pra sempre, é tristeza pra sempre.
A sua psicóloga disse em sua mensagem no Facebook todo o sentimento que nos dilacera.
Ainda tão longe estamos de um mundo em que “tudo o que move é sagrado”…
Um mundo em que todas as pessoas possam realizar o direito sagrado ao seu corpo — maior direito entre os direitos.
Estamos tão longe, e ainda vivemos momento de retrocesso civilizatório, com a necropolítica que nos põe a todos(as) em perigo, nesse Brasil brutal que emergiu e se vai espalhando por todos os lugares, nos fazendo perder a noção e o sentido do que seja uma vida em comum, em que todos(as) tenham a oportunidade de ser, de estar, de viver.
A “estética da brutalidade” está se impondo, e não temos conseguido (ainda) reagir, respirar, (re)conquistar os espaços de sociabilidade que garantam o direito de todos(as) a existir. Temos perdido muito, estamos perdendo, estamos perdendo muito…
O Brasil Brutal anda vencendo muito…
Nos perdemos com o Lucca. Nos perdemos sem o Lucca.
Um jovem não “escolhe” morrer.
Essa não é uma “escolha”, não pode ser uma “escolha” de um jovem.
O que dizer de um mundo em que essa “escolha” seja possível?
Esse mundo é que ainda não escolheu respeitar a Vida do Lucca como o Lucca a desejava. Lucca não era o “problema”. O mundo é o problema, o mundo foi o problema do Lucca.
E o Lucca só queria ser o Lucca. E ser feliz por ser o Lucca.
Não foi ele que não conseguiu. Quem não conseguiu foi o mundo: não conseguiu ser um mundo em que a vida do Lucca fosse possível.
Nós somos esse mundo. Ainda não conseguimos “amar uns aos outros” como somos uns e outros, umas e outras.
Ainda não, e estamos longe de conseguir.
E no entanto é preciso continuar fazendo esse mundo de um jeito em que o Lucca (que continua em nós) seja o Lucca do jeito que o Lucca desejava ser.
É o mínimo que podemos, para honrar Lucca Gomes Souto.
Em nome da Equipe Pensar Educação, Pensar o Brasil, fazemos memória de Lucca, querido aluno da Faculdade Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, mais uma vítima da transfobia que assola nosso país.