Isabella Carvalho de Menezes1
Ivangilda Bispo dos Santos2
O Museu do Ouro/Ibram foi inaugurado em 1946, na cidade de Sabará/MG, possuindo acervo e narrativa museológica que abarcam predominantemente o período colonial mineiro. Desde 2016, a área educativa da instituição vem atuando de forma sistemática para a conscientização da necessidade de preservação do Rio Sabará e das águas, por meio do reconhecimento de práticas desenvolvidas por diversos sujeitos da cidade. A seguir, apresentaremos três projetos de pesquisa e extensão desenvolvidos pelo museu, em parceria com o poder público local e universidades, que se fundamentam no engajamento ecocidadão nos âmbitos cultural, escolar e comunitário.
O projeto “Itinerários Educativos” promove percursos e inter-relações entre a exposição do museu e a cidade, a partir de eixos temáticos previamente selecionados. O intuito é proporcionar o aprofundamento e a problematização de determinadas temáticas, o que geralmente não é possível no formato tradicional de visita. A iniciativa teve como tema piloto “O Itinerário da Água” e foi desenvolvida pelo curso de graduação em Museologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com o Museu do Ouro e a Prefeitura de Sabará.
A Escola Municipal “Professora Marita Dias”, localizada no bairro Adelmolândia, foi convidada para participar do itinerário, que contou com o envolvimento dos professores de História, Geografia, Português e Ciências, num trabalho interdisciplinar. Entre as atividades realizadas pelos/as alunos/as estão o estudo de objetos do museu relacionados aos usos da água, visitas de campo aos rios, chafarizes, fontes, lagoa; entrevistas com moradores, encontro com escritor e produção de textos literários, construção de maquetes sobre saneamento, exposição, produção de jornal estudantil.
Outra iniciativa, o projeto de pesquisa e extensão “Mãe Domingas: educação pelas águas do Rio Sabarᔳ mobiliza a memória das antigas lavadeiras da cidade para sensibilizar moradores sobre a necessidade de proteção do rio e suas águas. Tal ação é realizada conjuntamente com o grupo de pesquisa “Polis & Mnemosine”, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Minas Gerais (FaE/UEMG); o Programa de Mestrado em Educação da UEMG; o curso de Museologia da UFMG e o Museu do Ouro, com a participação da Faculdade de Ciências da Educação da Universidade de Laval, no Québec/Canadá. O projeto “Mãe Domingas” – nome retirado de uma antiga ponte sobre o Rio Sabará – já organizou roda de memórias, entrevistas narrativas, trilhas de sensibilização, oficina de fotografias, oficina de plantas, entre outras ações. O projeto também promoveu diálogos entre saberes tradicionais das lavadeiras e o conhecimento científico.
Já o Projeto “Cânticos das Águas” é realizado conjuntamente entre o Museu do Ouro, o Rancho da Cultura (no bairro Pompéu/Sabará) e a Secretaria Municipal de Educação da cidade. Destina-se aos estudantes do 1º ano do Ensino Fundamental. Contempla três momentos: (a) uma visita ao Rancho da Cultura, com o intuito de aprofundar o conhecimento dos alunos sobre os rios; (b) uma visita ao Museu do Ouro, para instigar a reflexão sobre os usos da água pelo homem no tempo; e (c) a criação coletiva de um cântico sobre as águas em sala de aula. No Rancho da Cultura, encontramos diversidade de flora, mina de água, lagoa, criação de animais e brinquedos construídos com material reciclável. As crianças conhecem um minibioma, fazem uma pequena trilha e são estimuladas a refletir sobre a preservação das águas por meio de músicas e poesias criadas pelo proprietário do local, o poeta e escritor, Silas da Fonseca.
No Museu do Ouro, as crianças são divididas em equipes para, de forma lúdica, desvendarem desafios que são colocados pelos chamados “Guardiões” do lugar. Roda d’água, bateias, bacias, gomis, jarras, talheres, tamborete sanitário, entre outros objetos, medeiam conversas sobre o uso das águas na mineração e no cotidiano das casas, sobre as fontes de captação da água e o saneamento, em diferentes momentos históricos. Na escola, num terceiro momento, os estudantes produzem coletivamente um cântico para homenagear as águas. As apresentações preparadas pelos alunos são feitas anualmente, no museu, no Dia do Meio Ambiente.
Nessas ações, busca-se abarcar uma educação que contemple vários espaços de sociabilidade ao considerar a água enquanto patrimônio natural e cultural com importante valor histórico na conformação urbana do município de Sabará, o que envolve os seus usos e representações. O Museu, por sua vez, pode ser entendido também como espaço de compartilhamentos de vivências, que atua na mediação e sistematização de conhecimentos a fim de colaborar para a construção de uma sociedade mais sensível às questões ambientais do entorno. Além de apresentar alguns dos projetos educativos em andamento, deixamos o convite para que os/as professores/as desenvolvam ações que inter-relacionem memória, história, educação ambiental e educação para as águas. As escolas que estão atuando no Ensino Remoto Emergencial podem propor atividades que coloquem em pauta a importância dos rios, a relação dos moradores mais antigos com a água, os usos da água no presente, no passado e que perspectivas temos para o seu futuro.
1Historiadora, Mestre em Educação, Técnica em Assuntos Educacionais do Museu do Ouro/Ibram. E-mail: isabella.menezes@museus.gov.br
2Historiadora, Mestranda em Educação: Conhecimento e Inclusão Social pela FaE-UFMG. E-mail: ivangildabs@yahoo.com.br
³À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais- FAPEMIG, nossos agradecimentos pelo apoio financeiro concedido ao projeto de pesquisa.
Para saber mais:
BRASIL. Plano museológico: Museu do Ouro. Ministério da Cultura. Instituto Brasileiro de Museus. Vol. 4. 2017.
Imagem de destaque: Trecho do Rio Sabará. Acervo digital do projeto “Mãe Domingas”.