Formação de professores: reflexão e ação.

Rosa Acassia Luizari1

Em Educação, os metadiscursos a respeito da formação de professores tem indicado o conceito de “reflexão” como um componente a mais de análise teórica. Em seu ato de linguagem e com domínio em um campo consideravelmente explorado no meio acadêmico, Kenneth M. Zeichner discute o uso do conceito citado em programas de formação de professores que acontecem mundialmente. Relaciona esse conceito a três temas e um deles interessa-me sobremaneira: “a falta de correspondência entre concepções de formação docente reflexiva, na literatura especializada, e as realidades materiais de trabalho dos professores” (ZEICHNER, 2008, p. 535).

Zeichner vivenciou um contexto formativo em que a abordagem behaviorista de ensino parecia ser a base da formação docente nos Estados Unidos. Os professores deveriam agir de acordo com um determinado comportamento para atingir os objetivos de ensino com os alunos. Foi nessa época, na década de 1980, que ele publicou o primeiro artigo a respeito da prática reflexiva na formação de professores. 

Professores mais reflexivos a respeito da formação e das próprias práticas precisam ter a consciência de que não se obterá manuais a respeito de como atuar em sala de aula e resolver os problemas decorrentes do cotidiano escolar, por vezes imprevisíveis. Ações reflexivas requerem perspicácia e sabe-se dos inconvenientes e perigos decorrentes de atitudes impensadas em sala de aula e das anomalias de uma prática distanciada da teoria na ação. Os alunos não podem ficar entregues a si mesmos, mas exercitar as possibilidades de autodesenvolvimento sob a vigilância de profissionais preparados. Dessa forma, a ação docente planejada e não espontânea favorece o trabalho escolar eficaz.

É preciso proceder com circunspecção para ampliar os espaços de desenvolvimento das competências a serem desenvolvidas pelos alunos na escola. Do exercício profissional reflexivo cumpre afastar quaisquer resquícios da abordagem tradicional de ensino onde aluno e professor estariam em relações marcadas por hierarquia e disputa de poder que pouco contribuem para a resolução de conflitos internos dentro da escola. A realidade material de trabalho dos professores parece se contrapor ao estabelecimento de práticas docentes reflexivas. Verifica-se, desta forma, o enfraquecimento do exercício profissional coerente e com resultados efetivos que proporcionem motivação e interesse do aluno na construção de novas aprendizagens.

 

1 – Rosa Acassia Luizari é pedagoga formada pela UNESP e pós-graduanda em Teoria do Discurso e do texto pelo Centro Universitário Claretiano; Professora no Ensino Fundamental em Rio Claro-SP. Autora do livro Sinopse do Corpo (Helvétia Éditions, 2020). Membro Fondatore do Nucleo Accademico Italiano de Scienze, Lettere e Arti e membro da ACILBRAS- cadeira 525. Destaque Educacional e Cultural 2020, Comendadora da Justiça de Paz pela OMDDH. Email: rosa_luizari@yahoo.com

 

Para saber mais: 

ZEICHNER, Kenneth M. Uma análise crítica sobre a “reflexão” como conceito estruturante na formação docente. Educação e Sociedade, Campinas, v. 29, n. 103, p. 535-554, maio/ago. 2008. Acesse aqui


Imagem de destaque: Gerd Altmann / Pixabay 

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