Feliz Velho 2020

Dalvit Greiner

Falamos muito em década perdida na economia quando os ativos não se valorizam o suficiente para produzir ganhos significativos no Capital. No Capitalismo é assim: se não ganhou um centavo além das expectativas, tudo está perdido. No Capitalismo não existe espaço para perdas: tudo tem que ser ganho. O Capital tem que se reproduzir continuamente senão vai se perdendo e morre. É como se o Capital e o Mercado fossem dois seres vivos que se retroalimentam vorazmente. O problema é que – os contadores sabem disso – todo ganho resulta numa perda, portanto a soma é zero.

Assim, apesar de todos os desprazeres que tivemos neste ano de 2020 representado, principalmente, por centenas de milhares de mortes evitáveis de brasileiros ainda temos centenas de milhares de vivos que lutam, diariamente, em todas as filas desse país. A todas as filas, agregamos mais uma: a fila do auxílio emergencial. Auxilio importante que não deixou a economia despencar de vez e de uma só vez. Auxílio negado pelo governo de plantão, suado pela oposição e agora reduzido pela banca financeira que comanda o Banco Central do Brasil. Auxílio que foi negado pelo governo de plantão porque retirava dinheiro para aqueles que pagam a conta, os trabalhadores, daqueles que não produzem nada. Sempre é bom lembrar que o Estado e nenhum de seus governos produzem algo ou alguma coisa: quem produz riquezes são apenas os trabalhadores. Assim, o auxílio não é uma ajuda como diz o nome, mas é o retorno de uma pequena parcela daqueles valores que a classe trabalhadora produziu. Auxílio que chegará a zero se não intensificarmos nossa luta.

León Trotsky afirmou, certa vez, que a imprensa burguesa por ser dividida em dois grupos: aquele que mente sempre e aquele que mente de vez em quando. Não estamos falado de fakenews. Estamos falando da grande imprensa, criminosa e impune. A mentira da vez que deve ser inculcada na cabeça dos brasileiros é a da Reforma Administrativa. Essa ideia de que o Estado brasileiro é grande é conversa para boi dormir. E boi dorme? Não como a gente imagina. Esse é um mecanismo muito bom para acalmar o boi e depois mata-lo. Essa conversa mole é para enrolar os brasileiros. Veja bem: essa reforma não mexe nas forças de segurança, não mexe no fisco, não mexe nos altos salários do poder judiciário: os juízes se protegem aumentando os salários escadinha abaixo. Acalmado o boi bravo, podemos usar as polícias e mata-lo quando quiserem.

Outra mentira da grande imprensa é o crescimento da indústria que temos tido ultimamente. No noticiário do dia, as indústrias no Brasil estão produzindo a todo vapor, como se não tivéssemos saído de um doloroso processo de depressão com a perda de 1.559.442 empregos nos meses de março, abril e maio, dos quais apenas 390.578 voltaram a trabalhar. Compara-se o tamanho do buraco e dizem em letras garrafais e vozes tonitroantes: produção industrial cresce, avança, sobe… Apenas palavras positivas que desconhecem os milhares de trabalhadores desempregados. Trabalhadores que ainda necessitam de uma parte daquilo que produziram, que erroneamente chamamos Auxílio emergencial. O próprio Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED aponta isso. Basta ler a página cinco. Na página seis encontraremos o número de 37.960.236 empregos formais no Brasil. É o que chamam de estoque! Ora, com 230 milhões de brasileiros, temos no mínimo 115 milhões em idade de trabalho. Temos, no mínimo mais 2/3 de trabalhadores que tentam sobreviver de todas as formas licitas e possíveis.

Nessa batida, tentam mexer no FUNDEB. O Estado mínimo quer ser o máximo para as escolas particulares. É uma confusão sobre o que é público, porém iniciativas privadas, como diz o nome, são privadas e, por isso, não podem sofrer interferências do Estado. Nem boas, nem más. Mais uma conversa para boi dormir: o Estado querendo retirar dinheiro da educação pública para financiar duplamente a educação privada: subsídios governamentais e mensalidades dos pais. Mensalidades que serão abatidas no Imposto de Renda. Àqueles que criticam a bolsa-escola (uma parte do bolsa-família vem daí) lembrem-se do desconto sobre a educação no seu Imposto de Renda. A classe média já recebe a sua bolsa-família, que é muito maior do que aquela que se dá aos mais pobres.

Nesse fim de ano faremos festas grandes sem aglomerações: só na força do pensamento e da internet (quando possível). Estaremos juntos e unidos. É uma excelente oportunidade para dar muita atenção àquela nossa família pequenininha. Na virada do ano pularemos sete ondinhas imaginárias: vão passar todas as mazelas! E vestiremos branco. Sidra, espumante, champagne: o que o dinheiro der para comprar. Assim, vamos encerrar o velho 2020 que, apesar de tudo, vi como um ano positivo: evitamos muita coisa ruim. E, o que é melhor, não nos evitamos.


Imagem de destaque: Kelly Sikkema / Unsplash

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