Extermínio da diversidade: um movimento genocida do mundo moderno

Tiago Tristão Artero

A Modernidade está em crise! A tentativa de igualdade (igualdade em quais padrões?) e valorização das diferenças (diferente de quem? quem é o ideal e quem é o diferente?) falhou! É preciso pensar na diversidade, na “inter” e “trans” culturalidade.

O mundo moderno cansa e vemos movimentos dos mais diversos buscando alternativas a essa lógica. Qual é ela?

De que o outro sempre incomoda; as formas “outras” de viver não são aceitas.

O fenótipo do “outro” incomoda, o jeito de andar do “outro” incomoda, o sotaque e a língua do “outro” incomoda, o cabelo do “outro” incomoda, suas roupas / comidas / moradia / relações sociais / poligamia / soberania alimentar… tudo coisa do outro e que incomoda.

O direito à diversidade não existe desde a invasão pelo mundo do Estado Moderno, em meados do século XV.

Sistemas pluri jurídicos existem (ratificados no papel), como existe na Bolívia, ainda que, de fato, a hegemonia global colonizante torne os ambientes cada vez mais inóspitos para quem “ouse” desrespeitar o norte/americano/euro/centrismo.

Mesmo no Tribunal Penal Internacional, com representantes de muitas etnias, o lugar de visão é eurocentrado, adaptado aos processos de mercantilização. Assim podemos estender para a ONU, OMS, etc, etc.

No Falas da Terra, exibido em abril de 2021 pela TV Globo, tivemos representantes do MS Terenas e também Guarani Kaiowá. 

Fátima Bernardes, em seu programa, ficou impressionada ao saber que as mulheres Kaiowá vivem em uma sociedade matriarcal, ainda que, provavelmente, não saiba, na prática, o que seja isso. Difícil saber, mesmo. Até porque o pretenso protagonismo do patriarcado advém de todo um sistema de relações (hegemonicamente impostos) adaptado à figura masculina e ao que seriam atividades naturalmente ligadas às aptidões masculinas. Enquanto que os cuidados, as funções e trabalhos ligados aos cuidados (cuidados da casa, da limpeza, cuidados das crianças, doentes e idosos) seriam realizadas pela mulher.

Pode-se dizer, com toda certeza, que o patriarcado, a homofobia, a destruição da natureza, a subalternização de povos e suas culturas, a xenofobia e as opressões das mais diversas são problemas da colonização, de colocar um padrão de comportamento e de vida como sendo o ideal e as demais formas de vida como sendo coisas do “outro”.

Para diferenciar o que é padrão (o que é “certo”) do que é “o outro”, utiliza-se o prefixo “etno”. A academia faz isso… desejando estudar o “outro”, assim o faz utilizando o termo etnomatemática, etnofilosofia, etnofísica, etnomedicina, etnohistória, etc. O pensamento binário que insere um modelo correto e o que são os outros, coloca até a mulher (ainda que branca) como sendo o “outro”.

O conceito de desenvolvimento está ligado a um etapismo e destruição de culturas teoricamente provisórias que, ao evoluir, chegará ao mundo germânico, ou inglês, ou estadunidense, ou algum outro mundo alinhado ao patriarcado e ao poder do Capital.

Para exemplificar o etapismo, significa dizer que os indígenas irão evoluir e chegar numa outra cultura, urbanizada, empreendedora, falante da língua portuguesa/brasileira. Ribeirinhos, Nordestinos, Nortistas, irão se adaptar e as peculiaridades de sua cultura servirão apenas para as/os turistas consumirem, mas não será mais algo a ser vivido como alternativa à intensa mercantilização da vida. Aprendemos essa “uniformização da vida” em casa, na escola, na política, no mercado de trabalho.

O extermínio da diversidade ocorre diariamente. O que é sistematicamente nomeado como racismo, preconceito e xenofobia, em verdade, são “sentimentos” que vivem dentro de nós e que brotam como parte de nossa formação, da uniformização promovida por coisas impostas, como o sistema jurídico hegemônico, a política dominante e a escola moderna.

É de dar medo, mas a morte sistemática da diversidade (de modos de vida, de outras formas de relação social e da natureza) é legitimada por sentimentos que aprendemos a sentir, por coisas que aprendemos a aceitar, em muitos casos, à base de muitos remédios.


Imagem de destaque: Pixabay 

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