Especialistas indicam caminhos de reconstrução da educação

Malu Araújo

O esvaziamento das políticas públicas voltadas para a educação, a implantação de uma agenda política ultraconservadora nas escolas e o aniquilamento do direito de ter direitos são alguns dos retrocessos apontados pela educadora Denise Carreira, coordenadora Institucional da Ação Educativa  e pelo cientista político Fernando Abrucio, coordenador do Centro de Estudos de Administração Pública e Governo da FGV (Fundação Getúlio Vargas),  durante a mesa “Retrocessos na educação: qual o caminho para reconstruir as escolas públicas? , mediada pela jornalista e diretora da Jeduca Cíntia Gomes.

Durante o 6° Congresso Internacional de Jornalismo da Educação, os convidados apontaram caminhos para a reconstrução de um plano educacional baseado na realidade pós-isolamento e em uma agenda guiada pelo interesse público das escolas – e não pelo viés ideológico dos governos. Nesse sentido, eles também abordaram quais pontos os jornalistas setoristas da educação devem observar e enfatizaram a necessidade da desmistificação de que o Brasil é um país que “abraça” a agenda ultraconservadora.

Caminhos para a reconstrução
Para o cientista político Fernando Abrucio, vai ser preciso “articular a educação com as outras políticas sociais diante da pandemia”, fazendo valer principalmente os direitos conquistados na Constituição de 1988. A partir disso, deverá ser criado uma “formulação de colaboração territorial”  entre as escolas,  áreas intersetoriais, municípios, estados e, por fim, o governo federal. Segundo Abrucio, essa colaboração será vital para a criação e desenvolvimento de políticas públicas em cada região do país.

Já para a educadora popular Denise Carreiro, não há como reconstruir as escolas públicas sem “retomar o planejamento público”,  sem  investir no financiamento educacional e sem “derrubar o teto de gastos”, que conta com mais de oito ações de inconstitucionalidade no STF (Supremo Tribunal Federal). A educadora traz também o “dever do estado brasileiro em abordar as questões de gênero”, uma vez que as crianças e adolescentes possuem o direito de acessar conhecimentos científicos e humanísticos. A especialista defende ainda colocar no “centro da roda o debate e o enfrentamento sobre o racismo”, para radicalizar e ampliar as políticas públicas destinadas a essa parcela da população.

O papel do jornalismo
Outro aspecto enfatizado pelos convidados durante a mesa foi o papel fundamental que o jornalismo profissional exerce ao denunciar e reportar os escândalos e desafios da educação no país, principalmente, diante de propostas com viés ideológico como o movimento “escola sem partido”.

Denise enfatiza a necessidade dos jornalistas setoriais em educação buscarem sempre por “fontes plurais e diversas”, tendo cautela ao falar com instituições empresariais, muitas delas comprometidas com políticas educacionais, investigando sempre “os interesses que estão em jogo”, com uma visão crítica em relação ao papel desses agentes no país.

O cientista político Fernando Abrucio destacou três pontos centrais para a desconstrução da “lógica de guerra cultural contra políticas públicas”: olhar a experiência internacional, comparando e percebendo a inconsistência do modelo atual no país; trabalhar com dados e evidências para facilitar e entender melhor o debate sobre as políticas e, sobretudo, escutar os pais dos alunos que estão na escola pública sobre o que eles pensam em relação aos impactos dessa agenda conservadora. Abrucio acredita que, quando acontecer isso, “vai acabar esse debate de escola sem partido”.

Edição: Ronald Sclavi

Texto original publicado aqui


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