Do quintal eu vejo o Brasil

Claudia Hlebetz

Paulo Freire, o grande educador brasileiro, escreveu em seu livro “À sombra desta mangueira”, publicado em 1995, que o Brasil, da forma como ele o entendia, não existiria para ele sem o seu quintal. A percepção do seu entorno começou ali, no espaço mais próximo de sua vida cotidiana, onde ele sentava à sombra da mangueira para aprender a ler e escrever, desenhando as letras no chão de terra; onde brincava e onde descobria o mundo escrito com letras minúsculas, como dizemos por aqui.

Do quintal ele seguiu conhecendo a rua, o bairro, a cidade do Recife, Pernambuco, o Brasil, a América Latina e se descobriu recifense, pernambucano, nordestino, brasileiro e latino-americano… O quintal o ajudou a pensar o Brasil e o mundo mais além.

O que Paulo Freire nos ensina? Que o espaço ao nosso redor é um espaço feito das relações com as pessoas do nosso convívio ou com as pessoas que são nossas referências. Essas relações a gente estabelece no espaço coletivo que é a cidade. Que é um espaço feito, também, de nossas memórias, do que fica em nossa lembrança, do que é significativo para nós. Compreender a nossa própria história é o primeiro passo para compreendermos e entendermos a história do país.

Vivemos um tempo de individualidades exacerbadas onde nos distanciamos cada vez mais dos laços de pertencimento que nos unem à nossa coletividade. Quando falamos de sociedade é importante lembrar que estamos falando de relações: políticas, econômicas, culturais, sociais. Todas e todos nós somos afetadas e afetados, ao mesmo tempo, pelas pessoas e pelo espaço ao redor. Somos seres feitos de ideias, pensamentos e afetos.

Nossa vida é feita das histórias que contamos e é através de nossas comunidades narrativas que estabelecemos nossos laços de pertencimento que dão significado ao tempo e ao espaço ao redor. A História é feita de vida cotidiana, por isso só poderemos enxergar o Brasil e a sua História a partir do nosso lugar. Esse é o nosso patrimônio, esse é o nosso acervo que quando se torna significativo, amplia nossa percepção sobre o mundo ao redor e sobre as inúmeras possibilidades de transformá-lo num lugar de justiça, igualdade e solidariedade para todos e todas.

Histórias de vida, pertencimento, ancestralidade, memória, território, narratividade são, assim, alguns dos fios condutores do Projeto Histórias de Pindorama. O projeto tem por objetivo contar a História do Brasil para crianças e adolescentes de forma lúdica, utilizando-se da brincadeira e da contação de histórias. A pesquisa sobre a História do Brasil dará estrutura a uma coleção de Caixas da História temáticas com cenários e personagens que irão retratar um momento ou tema dessa história.

Relacionando Leitura, Literatura e História, queremos desenvolver um projeto que será compartilhado virtualmente com conteúdo acessível, disponibilizado de forma gratuita com vídeos, rodas de conversa, podcast, livro de referência, livro literário-narrativo e a caixa de contação de histórias com cenários e personagens para imprimir, recortar e montar.  O site estará pronto em fevereiro de 2023.

A Caixa da História Virtual ‘Independência do Brasil: a criação de uma nação’ é a primeira caixa da coleção e estará disponível no site Histórias de Pindorama em março de 2023. Ela é o resultado de nossa participação no Edital Retomada Cultural RJ 2 com apoio institucional da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

Queremos destacar nessa Caixa da História sobre a Independência do Brasil, os alicerces de uma nação que se constituiu a partir dos processos de colonização e de apagamento de nossa ancestralidade e, assim, refletir sobre o Brasil e seus territórios: o povo e suas memórias de existência, luta e resistência.

 

Sobre a autora
Claudia Hlebetz é formada em História pela PUC/RJ, especialista em ação educativa e cultural em museus pela UNIRIO e em literatura infanto-juvenil pela UFF, mestra em ciência da informação pelo CNPq/IBICT-UFRJ/ECO e doutora em educação pela UFF.

Em 2005 criou a Emabrinq Serviços e Brinquedos Educativos Ltda., empresa que tem como fio condutor o projeto Histórias de crianças, que tem como fios condutores identidade e memória, os territórios das infâncias, brinquedos e brincadeiras, as histórias e o patrimônio narrativo brasileiro e latino-americano.


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