De vilão a herói: O celular no contexto educacional de pandemia.

Marcus Periks B. Krause

Maria, já falei para você guardar este celular e responder essa atividade! 

Desliga o celular que é hora da redação, João!

Estas frases eram comuns até pouco tempo em muitas salas de aula. Quantas vezes o professor não teve que parar de ministrar aula para repreender alunos que utilizavam celular na hora da explicação do professor? Quantas vezes alguns professores tiveram que chamar a direção da escola para mediar um problema de mau uso do celular em sala de aula?  

Era muito comum encontrar cartazes nos átrios da escola com a frase: “proibido o uso do celular”, situação que levou até professores a serem acionados na justiça por reter celular de alunos. Em Sergipe, por exemplo, um pai acionou o professor de seu filho na Justiça, solicitando indenização por danos morais, porque o docente teria tomado o celular do seu filho durante a aula

Em muitas escolas no país, diretores e supervisores escolares conduziram alunos para a secretaria por desrespeito às regras do uso do celular, outros alunos foram punidos com suspensões e advertências. 

Até mesmo projetos de leis tramitaram na Câmara dos Deputados, para proibir o uso de aparelho celular nas escolas públicas do país, bem como muitos municípios aprovaram leis para regulamentar o uso dos referidos dispositivos em sala de aula.

O que antes era motivo de preocupação de muitos educadores, hoje, diante do cenário de aulas híbridas ou remotas, a história é totalmente distinta. O aparelho celular agora é visto como uma ferramenta indispensável no processo de aprendizagem, e sem ele, muitos alunos podem ficar excluídos do processo educacional ou terem maiores dificuldades para participar das aulas no formato remoto. 

Casos como o do aluno Luís Felipe Miranda, aluno do 6º ano da U.E. Janoca Maciel, no bairro Novo Seringal, Pedreiras/MA, que no início da pandemia, em 2020, ia até a casa de um colega de turma e copiava em seu caderno as atividades do celular do amigo, para, posteriormente respondê-las e levar até a escola. A direção da escola recebia as atividades deste aluno e entrega aos professores, fato que mobilizou este autor a buscar parcerias para executar um projeto escolar que minimize essa exclusão digital. O aluno foi contemplado com um tablet com chip e até hoje participa das aulas, agora de forma remota, fazendo uso do seu dispositivo tecnológico. 

Nas reuniões pedagógicas a discussão agora é outra, fala-se sobre estratégias pedagógicas e de inclusão digital para alcançar todos os alunos matriculados de modo que nenhum fique de fora. Projetos e ações no âmbito da educação surgem para minimizar o impacto negativo da exclusão digital, como doações de equipamentos, ampliação das redes de acesso à internet, etc. Pesquisas mostram que o número de excluídos digitais é enorme, e isso afeta diretamente aqueles que vivem em condições de exclusão social e digital. 

As redes públicas de ensino de todo o Brasil tiveram que traçar e medidas como instalação de internet em escolas do zona rural, como foi o caso do município de Pedreiras/MA, onde em algumas escolas que, antes da pandemia não tinham acesso à internet, passaram a ter; Aquisição e doação de chips para alunos como foi o caso da rede estadual de ensino do Maranhão, que distribuiu chips com créditos de dados móveis para que alunos do ensino médio pudessem acessar as plataformas de estudos, e muitas outras medidas surgiram Brasil à fora.

Muitos adolescentes já fazem o uso de aparelhos celulares em seu cotidiano, principalmente para jogos e diversão. A geração atual já cresce plugada em um aparelho celular, já é comum para muitas mães usarem o aparelho celular para acalentar seus filhos quando estão chorando. Atualmente, o celular é de fundamental importância na vida do cidadão, pois é usado para transações bancárias, solicitações de serviços públicos, dentre muitas outras funções, e agora, não por força de planejamentos pré-estabelecidos, mas por força da pandemia que suspendeu as aulas presenciais, o aparelho celular é usado como recurso essencial no processo ensino-aprendizagem. O celular deixou de ser um recurso alternativo na educação e passou a ser a principal ferramenta para manter o processo educacional em funcionamento. 

Essa realidade permeará o contexto das nossas escolas, pois mesmo após o retorno presencial das aulas, o aparelho celular passará a ser visto de uma outra forma, agora, como um “salvador da  pátria”, não mais como aquele vilão que atrapalhava a aula de muitos professores.


Imagem de destaque: Pixabay / giovannacco

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