2020 foi um ano pesado.
Foi um ano em que eu aprendi a agradecer pelo privilégio de poder ver o mundo desde a minha janela.
Estive protegida.
Milhares de brasileiras e brasileiros não tiveram esse privilégio e se expuseram ao cruel vírus. Hoje são mais de 180 mil mortos de COVID-19 no Brasil.
E também a violência destruiu os sonhos de muitas famílias, muitas das quais, moradoras de favelas.
Em 2020 eu também aprendi que a literatura infantil não é algo menor. É algo que exige sensibilidade, sabedoria, poesia.
Por isso meu convite à leitura neste derradeiro e melancólico final de 2020 é o livro Da minha janela, de Otávio Júnior.
Ganhador do prêmio Jabuti de 2020, o livro foi publicado num mundo sem pandemia, sem coronavírus. A leitura deste livro foi um refúgio para mim, um respiro num momento de tanta dor e tanta barbaridade: crianças sem escola, sendo executadas dentro de casa, no portão, enquanto brincavam, enquanto sonhavam…
Da minha janela mostra a vida numa favela carioca com cores, com poesia…
Mas o silêncio e a beleza da vida em cores desde a janela numa favela muitas vezes são interrompidos pela feiura das balas de fuzil: “da minha janela escuto sons que me deixam muito triste. Às vezes não posso ir à escola, nem jogar bola lá fora”.
Da minha janela é um livro que fala de um sonho.
Fala da esperança daqueles que desde a janela, esperam pelo momento em que o sol nascerá…
Dica de leitura:
Otávio Júnior. Da minha janela. São Paulo: Cia das Letrinhas, 2019.