Bendita seja a consciência

Sueli Abreu Guimarães

A visão distorcida e postura de desprezo em relação aos avanços científicos, os quais tornaram possível a vida humana mais consciente e digna, menos alienada e mais crítica, têm servido de combustível para ataques sucessivos, nos últimos anos, por parte de governos e asseclas. A intransigência e o negacionismo ainda ocupam palcos e, contraditoriamente, são entoados em pregações para inculcar a necessidade de alcançar liberdade, segurança, ordem, em nome do progresso. Surpreendentemente, apregoa-se liberdade de escolha ao mesmo tempo em que se estimula levante em prejuízo da convivência pacífica, tolerante e respeitosa. Mais ainda, age-se sem pudor, encontrando até mesmo quem sirva de “bucha de canhão” para desafiar normas de igualdade e tolerância com convicção de que para “homens de Bem” não existem limites.

A desvalorização e demonização de avanços sociais são costuradas com expressões odiosas que impressionam, tentando fazer com que sentimentos nobres como solidariedade e compaixão sejam rebaixados e asfixiados para dar lugar ao niilismo e promover uma certa “esquizofrenia de grupos”. O preocupante é que parece não haver limites à imaginação perturbada daqueles que pensam o mundo dividido entre estes e aqueles; nós e o resto; que vibra ao entoar ladainha temerária, própria de quem só sabe dividir, subtrair e atormentar. Num mundo em que informação reveste muitos de pseudo poder, desejar construir conhecimento e envidar esforços para que isto aconteça é para gente forte, resistente e muito, mas muito, humana. O achincalhamento praticado pela ignorância, pelos peitos estufados por despautérios, tem como predileção atacar a ciência. As afirmações irrefletidas dizem muito e entrega, sobretudo, o limitado olhar de quem fala sem necessária empatia e corresponsabilidade cidadã; fere de morte a democracia ao desconsiderar o convívio com o divergente; desconhece que o conhecimento não tem pretensões lacradoras porque constrói e recria; favorece e fomenta a busca contínua do saber.

Importa, mais do nunca, selar compromisso com o despertamento e desenvolvimento da consciência, responsabilidade individual e inalienável, já que todo homem nasce livre e esta é uma condição e não concessão. Assim, inteligentemente, em busca de cuidadosa reflexão pela satisfação em ser humano, o pacto social deve acontecer a favor da vida, a qual sempre celebra o espírito de fraternidade. E, se ou quando for identificada atuação em algum grau do que já se entendia pertencer à categoria do já superado, ultrapassado, acesso ficará o sinal de alerta sugeridor de que “retrato de barbárie” é indicativo de primitividade moral e não de involução. Desta forma, consciente e responsável pelas próprias itinerâncias no mundo, não haverá espaço para mitos, semideuses ou mesmo ignóbil messias. Fé não é sinônimo de ignorância. Enfim, não há mal algum em se reconhecer falível, contudo, há pressa em superar incoerências, ainda mais quando atitudes impedem o bem comum e celebram a irracionalidade.

Sobre a autora
Doutoranda em Educação e membro do Grupo CORPO/UFBA.


Imagem de destaque: Galeria de imagens

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *