A leitura democrática de paisagens na cidade e em seu entorno: debates e proposições

Vagner Luciano de Andrade

O presente texto destaca que o modelo de relação entre o Ser humano e a cidade deve se subsidiar em relações equânimes que tornem o espaço urbano mais viável para todos que nele habitam. Assim, educar pela cidade e para a cidade pressupõe entendimentos legais mais complexos. Neste ensejo, os anos iniciais, através dos conteúdos de Geografia e História são um importante caminho para se conhecer a cidade dos alunos. Assim consumo, cultura, ecologia, educação, lazer, moradia, problemas sociais, saúde, segurança, trabalho, transportes, dentre outros temas fomentam a percepção citadina gerando sentimentos de pertencimento, de identidade com a paisagem urbana.

No contexto impertinente de cidade formal versus cidade informal, as ocupações urbanas dentre outras, são exemplos de busca de uma denominação comum que explicite o imaginário coletivo de todos que tecem a ordem/desordem social. Camilo Torres, Dandara, Eliana Silva, Granja Werneck/Izidória (Esperança, Rosa Leão e Vitória), Irmã Dorothy e Willian Silva, destacam-se na paisagem da urbe segregada, e excludente enquanto resistências que se consolidam no seio da cidade e precisam ser legitimadas enquanto bairros oficiais com acesso a todos os serviços básicos e atendimentos aos direitos fundamentais das pessoas.

Assim, a leitura de paisagens numa cidade educadora e em seu entorno pressupõe aanálise, a interpretação sobre diferentes realidades percebidas no âmbito de uma contínua tessitura urbano-rural. Camponeses, indígenas e quilombolas, num contexto recente se apropriaram de diferentes recortes espaciais e fazem/refazem a cidade construindo, desconstruindo e reconstruindo sua essência. Como a cidade se reinventa, continuando sendo tão atrativa e surpreendente? Respostas se multiplicam! E então a urbe se fundamenta como eixo problematizador rico e inexorável aos alunos e professores.

Sendo uma questão muito mais profunda e complexa, portanto, interdisciplinar, não deve, jamais, ficar restrita à formação do 1º ao 5º ano, permeando o restante do ensino fundamental e prolongando pelo ensino médio. Mas tematizar a urbe apenas na sala de aula é limitar-se ao tema. A cidade e seus cenários são visitados e revisitados consolidando contextos significativos e geradores de posturas, entre todos que dela se apropriam. São as múltiplas e diversificadas paisagens citadinas e suas nuances e projeções: paisagem artística, paisagem biológica, paisagem filosófica, paisagem geográfica, paisagem histórica, paisagem literária, paisagem religiosa e paisagem sociológica, dentre outras.

Convergindo para ampliar a consciência sobre a importância dos elementos patrimoniais, estas ações educativas formais e não formais são significativas na reconstrução idealizada da paisagem urbana promovendo percepções, reconstruções e reflexões. Justifica-se aqui, a pertinência desta ação metodológica associada à visita técnica, enquanto possibilidade pedagógica para a discussão da leitura da paisagem. Visitar a cidade se instrumentaliza como uma ferramenta de análise sociocultural, associada às ações de educação e de turismo educacional que resignifica a percepção dos alunos. O/a aluno/a passa a ser diferenciando, pois se trata do leitor turista, que lê e interpreta paisagens e patrimônios, sendo, portanto, um leiturista, um leitor de mensagens das paisagens. O encerramento da educação básica não deve jamais interromper essa construção de relações entre os citadinos e suas cidades, devendo prosseguir por outras searas.

Como exemplo, têm-se as atividades educativas do BH Itinerante, um curso de extensão na área da educação ambiental dividido em vários módulos (Abrindo caminhos; Agenda 21;Trabalho em rede; Mão na massa; Pé na estrada; Alfabetização ecológica; Água; Fauna e flora; Ar; Solo; Conflitos urbanos; Ser humano e a cidade; Agentes ambientais em ação; Novos rumos). Constata-se neste curso de formação, que a percepção educativa da paisagem se vincula ao tempo/qualidade da experiência, às atividades/percursos realizados e à sua respectiva apropriação por parte dos cursistas.

Os recortes espaciais utilizados metodologicamente pelo BH itinerante, demostram que a educação ambiental pressupõe uma formação inicial cidadã advinda da educação básica. Num processo de concepção lúdico-pedagógica de educar para a cidade e seu entorno, as atividades externas consistem em travessias urbano-rurais com leituras interdisciplinares pelas paisagens. Os módulos pretendemvincular diretamente os alunos cursistas em atividades educativas simuladoras de uma ação direta com os problemas urbanos e seus contextos. Ao final do curso, os alunos se tornam agentes de uma tessitura denominada de “Rede Ação Ambiental”. Os agentes ambientais em ação se configuram como ativistas, como forças de resistência. Previsto para ocorrer no 2º semestre de 2019, a turma do 39º BH Itinerante prevê a sistematização pedagógica de toda esta questão.Na data de 08/08/2019 conforme programação oficial da PBH inicia-se a nova turma em formação.


PARA SABER MAIS

Cidades Educadoras

BH Itinerante/Assufemg

Imagens: Gerência de Educação Ambiental da Prefeitura de Belo Horizonte

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