Diversidade e igualdade de oportunidade – Parte II

Antônio Teixeira

Uma ampla capacidade de aprendizagem é pré-requisito
indispensável para o desenvolvimento da cultura e da ética
da igualdade de oportunidade.

A gênese do pensamento

A diversidade do pensamento é revelada por ditos populares do tipo: ouvi duas pessoas e achei pelo menos três opiniões diferentes”. Opiniões livres mudam de acordo com ambiência e contingência, fatores que interferem na comunicação entre neurônios. Quando as pessoas falam, emitem ondas sonoras em forma de partículas captadas pela audição que transmite os elétrons para os neurônios que sinalizam e informam. Opinião também muda por conveniência, talvez, na dependência de caracteres regulados pela diversidade genética.

Os mistérios da formação do pensamento são explicados parcialmente, mediante causalidade físico-química, pela neurociência da emoção e do sentimento, conectando coração e cérebro. O método dedutivo de investigação revela que a inteligência pode observar, relatar, e sugerir explicação para fenômenos logo accessíveis ao método científico indutivo, experimental, permeáveis à curiosidade da mente humana. Com a devida vênia, uma hipótese de gênese do pensamento pode ser sugerida pela análise da estrutura do DNA, cujas sequências de bases nitrogenadas, retém informação, memória e herança de caracteres hereditários.

A metáfora da linha-férrea

Ao forçar um padrão idêntico de ensino, o sistema educacional desperdiça a riqueza na diversidade genética de alunos com talentos diferenciados.

O DNA é a macromolécula que forma o cromossoma funcional. Na espécie humana existe 23 pares de cromossomos que compõem o genoma no núcleo de cada célula do corpo, cada um com cerca de 300 trilhões de bases nitrogenadas (Adenina, Citosina, Timina e Guanina que se emparelham em fita dupla (A-C, T- G) para formar os genes (Figura 1). Cerca de 65% do genoma humano tem origem em vírus, e o restante tem origem em bactérias, em protozoários, em metazoários, e em vertebrados. Uma prova da origem do DNA é a similaridade da sequência de bases em vírus, em bactérias, e em todos seres vivos do reino animal e vegetal. Os genes são traduzidos em proteínas formadas por unidades de aminoácidos. Cada aminoácido de proteína é similar ao seu análogo de protozoário, de bactérias, e de vírus. A unicidade de estrutura química de DNA e de aminoácidos é um denominador comum da ancestralidade de cada ser vivo.

Existem 30 mil genes, ocupando apenas 20-25%% do DNA total no genoma humano. A função de cada pedaço da fita dessas macromoléculas não é completamente conhecida. Mas, sequências de vírus e de bactérias são encontradas no genoma de todos os seres vivos, inclusive no Homo sapiens. Uma família desse DNA repetitivo que recebe o nome de transposon teve origem no genoma do vírus HIV que codifica as enzimas transcriptase reversa e transposase. Enquanto a transcriptase copia o DNA a transposase o insere em outros sítios daquele ou de outros cromossomos. Essa máquina herdada do HIV prova a nossa ancestralidade molecular. Tal ancestralidade explica por que sequências de DNA dos genomas do homem e do macaco são 99% idênticas. Então, é possível dizer a quem pertence aquele DNA? Sim, porque cada indivíduo tem modificações aleatórias do DNA repetitivo na carga de vagões de locomotiva.

O DNA pode ser comparado a locomotiva com chassi formado por açúcar, puxando vagões com containers de bases nitrogenadas, tendo uma carboxila como peça de engate. Cada célula germinativa – óvulo e espermatozoide, haploides – tem linha de trilhos para locomotiva com vagões que transportam 23 cromossomos. As demais células do corpo – somáticas, diploides – tem duas locomotivas para 23 pares de cromossomos. As macromoléculas de DNA viajam sobre trilhos ou linhas que se chamam cromátides, emparelhadas como fitas em hélices, ou entrelaçadas em torres tridimensional com diferenças de cargas elétricas. As variações das posições das cargas podem ser modificadas pela reprodução sexuada, quando os gametas dos parentais se misturam e a herança acrescenta diversidades aleatórias, com potenciais elétricos diferenciados.

Os genes servem de molde para a fabricação de proteínas que se ligam nas alças e curvaturas repetitivas de regiões variáveis de DNA. Essas estruturas (Figura 2) funcionam como torres digitais com potenciais elétricos que sustentam a sinalização e a comunicação entre as diversas células do corpo.

A sinalização complexa entre as inúmeras torres digitais em neurônios do cérebro pode explicar a elaboração do pensamento, cuja aleatoriedade e atemporalidade acrescenta diversidade singular às ideias. A essa complexidade de sinais devemos a interpretação de imagem, apreciação da composição de cores, profundidade e significado do olhar, valor agregado à apreciação de sabores mediante milhares de papilas gustativas, e percepção auditiva traduzida em energia e sons que antecipam a musicalidade tão rica nas espécies vivas, particularmente em pássaros e em humanos.

Confira a primeira parte desse texto.


Imagem em destaque:National Cancer Institute / Unsplash

 

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