A ecologia pedagógica do bem-estar animal 

Thais Salgueiro Souza
Vagner Luciano Coelho de Lima Andrade

Não atire o pau no gato (tô)
Porque isso (so)
Não se faz (faz-faz)
O gatinho (nho)
É nosso amigo (go)
Não devemos maltratar os animais
Miau!

Cão, gato, coelho, hamster, camundongo, porquinho-da-índia, calopsita, cacatua, jabuti, iguana, peixe ornamental tem se tornado realidade em muitas casas e apartamentos. É só perguntar na sala de aula e vem a constatação: vive-se em uma época, onde cada vez mais informações sobre a saúde e o bem-estar dos pets se ampliam. Cães, gatos e outros bichos são vistos como membros da família, e por isso, os educadores precisam buscar discutir este tema com os alunos.  Bicho de estimação como tema educativo visa ampliar harmonia, desses amiguinhos fofinhos com o ambiente citadino em que vivem, consolidando uma completa saúde física e mental.

As aulas de ciências atestam que os animais vivem em liberdade, adaptados ecologicamente à natureza. Com a ampliação das comunidades humanas, historicamente, muitos seres vivos foram domesticados e outros permanecem ainda em liberdade, em seus habitats, cada vez mais reduzidos pela ação humana. Eis aqui um problema para a sala de aula, pois num mundo que cada vez mais ama pets, o que o homem está fazendo com as espécies silvestres? É um antagonismo que não cabe aqui.

Mas falando em liberdade, será que ao serem domesticados, os animais perderam sua liberdade? Discussões, juris simulados, painéis e murais podem decorar a sala com este tema. Mas é importante ensinar aos alunos que os pets precisam ter acesso facilitado ao que se conhece-se como “5 liberdades”.  Neste contexto, pedagogicamente pode-se dividir a sala em cinco grupos, cada um com pesquisas sobre cada tipo de liberdade e socializar. Mas educadores, para preparar a sugestão de atividade, conheçam a seguir, as liberdades das quais estamos falando.

1 – Livre de fome e sede: O animal precisa ter acesso a comida e água de qualidade, em quantidade e frequência específicas para cada espécie. Além disso, a água deve sempre ser oferecida de forma limpa e fresca.

2 – Livre de dor e doença: Relacionado especificamente a saúde física, como doenças, ferimentos e dores. Deve-es sempre garantir a prevenção, diagnóstico e tratamento correto aos animais.

3 – Livre de desconforto: Eles devem estar livres de desconforto térmico (expostos ao sol e a chuva) e possuir um abrigo e local para descanso que sejam confortáveis para cada espécie.

4 – Livre para expressar seu comportamento natural da espécie: É necessário que se tenha um espaço e instalações adequadas para que cada espécie tenha a liberdade de se comportar naturalmente.

5 – Livre de medo e estresse: Além da integridade física, os animais também precisam evitar sentimentos negativos que os levam ao sofrimento mental. Por isso, não devem ser expostos a situações que geram medo, estresse e ansiedade.

Após o conhecimento das cinco liberdades, pode-se promover uma roda de conversa sobre cuidados essenciais para o bem-estar dos animais, não esquecendo é claro e expor o oposto, a agressão, o abandono e o sofrimento de muitos cães e gatos que estão nas ruas, avenidas e também em rodovias e estradas rurais. Precisamos mudar isso!

Assim entende-se que professores do ensino básico são parceiros ideais dos médicos veterinários, pois ambos têm um papel importante na disseminação dessas informações. Através da educação, o conhecimento e entendimento das 5 liberdades passam a ser observadas por toda a sociedade, ampliando a qualidade de vida dos bichanos. As ONGS são de extrema relevância em fazer a ponte entre a pedagogia e a veterinária construindo diálogos, mudando mentalidades, quebrando paradigmas.

Vamos agora apresentar algumas possibilidades didático-pedagógicas, por disciplina. Nas Artes, pode-se explorar a representatividade dos animais no cotidiano dos homens pré-históricos. Basta promover um seminário sobre pinturas rupestres e a representatividade ecológica nas pinturas, discutindo a centralidade que algumas espécies animais tinham para as comunidades cavernícolas. A Biologia é o prato cheio da questão e não precisa nem evidenciar nada, pois a Zoologia é uma importante área desta disciplina que versará sobre animais domésticos e silvestres, sua situação, preservação e conservação. Nas Ciências Sociais, é possível pensar que todo o progresso humano da contemporaneidade se deu gradativamente em etapas sucessivas, após a agricultura e a domesticação de animais.

Pensando no desenvolvimento pedagógico, em termos de anos iniciais, tem-se uma gama de atividades sobre animais de estimação: música, pintura, desenho, escultura, dança, teatro. Na Educação religiosa é importante discutir, por que algumas religiões têm deuses representados por formas animais, como no Egito Antigo e como alguns animais são sagrados, como a vaca no hinduísmo. A Filosofia pode tecer discussões sobre a afetividade e sobre a ampliação de animais nas casas e apartamentos, desde o começo deste século e o porquê. A Geografia, apresenta o índice de adesão de pets nas capitais dos 27 estados e mais o Distrito Federal e por último, a História completa o ciclo, trazendo a linha evolutiva entre homem e animais ao longo dos séculos;

Concluindo, um professor e um veterinário são peças fundamentais para se construir uma nova ordem societária, onde além do entendimento pedagógico do aumento de pets, que se possa discutir a emergência de se erradicar, cães e gatos que ainda estão esquecidos pelas esquinas das cidades, mendigando por alimento, desidratados, com alguma patologia e mil problemas. Essa é outra aula e sobretudo, emergencial.

Sobre a autora
Médica Veterinária formada pela Faculdade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC) – 2018. Com atuação na área clínica de cães e gatos. Faz parte de um projeto ambiental que promove a vacinação polivalente em massa de cães no estado de Minas Gerais com ênfase na erradicação da cinomose.


Imagem de destaque:  Thais Salgueiro.

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