Inclusão sim, preconceito não – Amanda Soares

Inclusão sim, preconceito não

                                                                                                                                                   Amanda Soares

Durante os ocorridos na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH) da UFMG, que se espalharam rapidamente pelos jornais impressos, pela televisão e em especial pela internet, vários estereótipos foram reforçados através de matérias tendenciosas desses diversos jornais e por pessoas tanto do meio interno da Universidade quanto externo. Ora, mas que estereótipos são esses? São os que dizem que a Filosofia é inútil, que todos os estudantes das “Humanas” (raramente dizem Ciências Humanas, pois não nos enxergam como cientistas) são maconheiros, a favor do trágico de drogas e contra o desenvolvimento do país, defendendo bandidos, menores infratores e tudo o que existe de “errado” neste país.

Acredito que grande parte dessas pessoas quando reproduzem esse tipo de pensamento, não tem a mínima noção do quanto nos fere e nos desestimula a continuar lutando por uma sociedade mais justa e democrática, afinal nos preocupamos em estudar profundamente as mais diversas variações na sociedade brasileira e refletir a respeito e assim tentamos derrubar o que o senso comum procura manter de maneira injusta em diversos casos. No entanto, quando surge esse sentimento de desanimo frente à sociedade, lembramos quão deficiente é a educação nesse país e como as pessoas recebem informações de forma distorcida e em alguns casos, inverídica, sendo assim, acabam fazendo julgamentos de maneira superficial.

Logo, frente a todos os acontecimentos no nosso ambiente acadêmico e todos os julgamentos vindo de diversos lados, desde colegas da Universidade até pessoas desconhecidas, informamos que não iremos desistir. Apesar dessa massa de negatividade que anda rondando a FAFICH, isso serviu para nos unir e pensarmos juntos medidas para que nós estudantes, professores, funcionários e frequentadores do ambiente, venhamos a modificar a situação atual de forma justa e inclusiva. Então que saibam todos, não existe jornal sensacionalista, pessoas racistas e higienistas que serão o suficiente para destruir a história carregada pelo Diretório Acadêmico Idalísio Soares Aranha Filho e também as lutas sociais recorrentes que diversos alunos da FAFICH participam com tanta dedicação. Não negamos que temos problemas que poderiam ter sido solucionados antes que essas matérias estourassem por aí, mas nos recusamos a ser essa imagem pintada pelo sensacionalismo presente.

Vale dizer nesse momento, que a questão com drogas nesse ambiente vai muito além da UFMG, é estrutural, algo que deve ser dialogado e debatido e que já passou do momento da sociedade refletir sobre como o Brasil vem tratando a respeito desse tema que ainda é polêmico, a sociedade deve abrir os olhos e perceber que morador da favela não é sinônimo de vagabundo, que jovem de classe média e alta não é sinônimo de santo. A população brasileira necessita de abandonar o discurso conservador e observar a realidade tal como ela realmente é. Precisamos falar sobre as drogas e quais as maneiras mais adequadas e humanizadas para resolver tal questão. Mais urgente ainda, devemos falar sobre o racismo que infelizmente ainda é tão presente em nossas vidas, é preciso derrubar esse estereótipo de que a Universidade não é lugar para os negros, é essencial combater o discurso de que existe uma hierarquia de raças, afinal em diversos momentos cotidianos as pessoas assumem uma postura racista e fortemente preconceituosa. A sociedade precisa se abrir para o diálogo e superar de uma vez por todas, essa terrível herança dos tempos coloniais que ainda insiste em existir.

 Não estamos romantizando com a situação problemática decorrente no D.A da FAFICH, não estamos santificando os chamados “meninos de fora”, apenas iremos tratar com cuidado e de maneira crítica o atual momento. Queremos que os moradores da periferia sintam-se a vontade para estar no ambiente universitário e que não se sintam menosprezados, porém não faremos isso mantendo uma “boca de fumo” como andam dizendo, mas sim propondo atividades de extensão que incluam esses jovens e que apresente uma Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas democrática e preocupada com a realidade social além das discussões em sala de aula.

 Acredito que o momento atual torna-se propício para citar um trecho de um grande artista brasileiro que faço questão de não esquecer: “A tua piscina tá cheia de ratos, tuas ideias não correspondem aos fatos, o tempo não pára”, nem precisaria dizer que Cazuza é autor de tal arte. Então, a todas aquelas pessoas que querem nos desestimular e desvalorizar deixo esse trecho e não se esqueçam que o tempo não vai parar mesmo, não é esse momento que define a FAFICH, e nós estudantes estamos empenhados em buscar transformações, debates necessários e comprovar que a Universidade é sim um espaço para todos e faremos nosso melhor para que isso vire realidade e não existam mais “pessoas de fora” e sim pessoas incluídas no meio universitário e estimuladas a participarem de atividades e debates. Então, desculpe jornalismo sensacionalista, mas iremos continuar lutando.

Amanda Soares é aluna de graduação de Ciências Sociais da UFMG e Colaboradora do Pensar a Educação Pensar o Brasil – 1822/2022

 

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