Afinal, o que é o D.A. da FaFICH? – Igor Rocha

Afinal, o que é o D.A. da FaFICH?

Igor Rocha

Escrevo este texto na véspera do primeiro de abril, que na brincadeira popular é conhecido como o dia da mentira. É interessante essa data pois me veio à mente agora algo que parece ter saído de alguma das mentes mais inventivas que possam existir: a sala do Diretório Acadêmico da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG foi fechada, por decisão da Congregação da Faculdade, e a mobilização para reverter esse quadro se resume a pessoas ou ligadas à gestão ou ao movimento estudantil.

Todos lá estudam bastante, sabem da história. Estão cansados de saber que fechar D.A. de universidade já foi medida adotada por ditaduras, também sabem de cor e salteado que, especialmente o da FaFiCH tem uma longa história a ser contada na resistência à ditadura que tivemos em nosso país. Isso seria motivo suficiente para justificar uma comoção ampla, geral na faculdade, entre os discentes. Mas não, não gerou e, sendo honesto, me surpreenderá e muito se ocorrer ao longo desse processo. Amigos, pessoas próximas ou mesmo comentários que vejo na internet me apontam para outro rumo.

Honestamente, também julgo que seria um tanto quanto leviano, nesse momento, dizer que se tratou de uma decisão “ditatorial” a de fechar a sala. Nem retoricamente disse ou direi, ao menos nesse contexto, algo do tipo. Grande parte dos meus colegas dizem que essa medida de fechar a sala foi um “mal necessário” diante da situação, outros inclusive a aprovam (!) diante, usando as palavras dessas pessoas, “o que o D.A. virou”. Não a sala, mas se referem à instituição. Erroneamente? Sim. Mas voltarei a esse tema.

A questão mais problemática, que me estarrece quando eu penso na FaFiCH que eu fiz e faço parte e também pensando em sua tradição política é uma enorme indiferença reinante e disseminada diante do fato de que a sala do mesmo diretório acadêmico que, em vários momentos da história, foi um símbolo de resistência política, está (ao menos institucionalmente, segundo medidas anunciadas pela FaFiCH) fechada. É esse o nosso grande problema.

E de onde veio essa indiferença? Poderia ficar horas e horas tentando achar uma resposta, mas aqui posso somente esboçá-la: a indiferença que reina diante do fato se deve ao abandono da sala do D.A. que veio junto com um processo de apropriação desse espaço por um movimento estudantil que, hoje, não representa mais nada além de si mesmo. Em algum momento da história recente, o acordo que talvez tenha existido de uma ocupação e disputa democrática por espaços se deteriorou ao ponto de sobrar o que se tem hoje. Essa indiferença está na fala de alguns amigos que, hoje, na pós graduação, não entram naquela sala desde o terceiro período da graduação e de outros que evitam passar no mesmo corredor da sala do D.A. Não se identificam e nem fazem parte daquele ambiente, que também não faz questão de não ser hostil a quem não se apropriou dele antes.

A FaFiCH, hoje, inclusive, pode ter tudo, exceto uma disputa democrática por espaço: “pintar de branco” x “pichação” numa espécie de brincadeira de gato e rato, sem fim, sem qualquer um dos lados ceder ou negociar de forma a evitar a degradação do ambiente sem impedir qualquer intervenção; “quero estudar” x “quero festa” sempre com um lado tentando de todas as formas se impor perante o outro sem haver qualquer espaço para que haja ações culturais (o que envolve festas) mas sem se perder de vista que uma faculdade é uma instituição de ensino, acima de tudo, e pessoas lá trabalham, estudam, cumprem prazos, entre outros; enfim, pouco diálogo, pouca discussão, e uma disputa que se limita a marcar um território e tentar expandí-lo além das “linhas inimigas”, e os incomodados que se retirem. Exemplo disso vi isso na fala de uma aluna da “Charanga Feminista”, iniciativa que admiro e apoio, que disse, no Facebook, que “o campus é muito grande e tem muito lugar para estudar” ao ser questionada sobre o barulho do ensaio atrapalhar o estudo na biblioteca.

O resultado disso é se intensificar uma relação de “nós” x “outros” de forma que, hoje, os espaços em toda a FaFiCH não são ocupados e disputados democraticamente, e tudo se resume a se apropriar deles de tal forma que se tornem hostis ao restante da comunidade. Creio que isso explique o sentimento que muitos colegas têm em relação ao D.A., tanto a sala quanto a instituição, pois dela fazem parte não meus colegas, mas “os outros”, aqueles que me atrapalham a estudar, que são coniventes com o tráfico ou com a venda de bebida a menores ou qualquer coisa que eu identifique fora do meu lugar, fora do “nós”.

O que isso tem a ver com segurança? Ora, a meu ver, nada produz mais insegurança do que um clima instaurado de desconfiança, hostilidade e indiferença permeando a relação com algum espaço de convivência. Lamentavelmente, é isso que vejo na FaFiCH. Lamentavelmente também, não vejo nas dez medidas anunciadas pela Congregação possibilidade disso mudar.

A meu ver, a solução estaria em fundar-se novamente um acordo geral da comunidade acadêmica e universitária com a FaFiCH. Como? Precisamos falar a respeito.

Doutorando do Programa de Pós-Graduação em História da UFMG

 

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