Por Luciano Mendes de Faria Filho
O catecismo é, ao mesmo tempo, um gênero literário e uma metodologia de ensino largamente utilizados, sobretudo pela igreja católica. No entanto, o sucesso pedagógico (e editorial) da fórmula catequética fez com que a sua utilização transbordasse do mundo religioso para o ensino de várias outras matérias, sejam elas de cunho literário ou profissional. Ainda no século XIX era muito comum os jornais publicarem catecismos os mais diversos, focando assuntos que iam da agricultura à política.
Uma das características do catecismo é que ele, de um modo geral, se destina a um leitor pouco afeito à prática de leitura de textos mais sofisticados ou, do mesmo modo, a um ouvinte que, suposta ou realmente, teria dificuldade de entender discursos mais complexos. Num e noutro caso, trata-se de “ensinar” algo a uma pessoa com pouco contato com um assunto em sua forma mais complexa ou sofisticada. Em outras palavras, o catecismo é uma espécie de tradução, para o iniciante, de um assunto por demais complexo para o seu entendimento.
Disso decorre uma segunda característica do catecismo: ele envolve sempre perguntas claras e respostas objetivas. Nesse sentido, o catecismo, em tese, não pode dar lugar à dúvida e a possíveis interpretações que fujam à ortodoxia estabelecida para o entendimento do assunto. A precisão das perguntas e das respectivas respostas é uma das marcas de um catecismo bem organizado.
Todo esse preâmbulo vem a propósito de dois documentos, publicados abaixo, enviados pela Equipe do MEC aos responsáveis, nos Estados, por interpretar e operacionalizar as determinações da MP do Ensino Médio em seus respectivos sistemas de ensino. Não é que, nos documentos, a Equipe do MEC se vale do “bom e velho” método catequético para explicar a MP para seus pares (ou impares?), das diversas unidades da federação?
De duas uma: ou o MEC considera o assunto por demais complexo para o seu pleno entendimento pelos profissionais das Secretarias Estaduais ou, por outro lado, pensa que tais profissionais não têm familiaridade suficiente com o tema para entendê-lo da forma precisa e devida. Ou, em terceiro lugar, essas duas coisas coisas juntas!!! Quem conhece a Equipe atual do MEC sabe que ela é suficientemente prepotente para pensar e agir assim.
Mas, haveria, ainda, uma quarta hipótese: a de que mais do que considerar a MP complexa ou os profissionais das Secretarias Estaduais mal formados, a própria Equipe do MEC pode ter considerado a MP confusa! A considerar o debate que hoje se estabelece sobre o tema e os documentos publicados abaixo, parece que, de fato, é isso que aconteceu.
O problema, dentre outros, é que, por melhor elaborado que seja (e esse não é o caso do Catecismo do MEC sobre a MP), o catecismo não opera milagres. E essa seria a única fórmula capaz de salvar a MP do descrédito e extirpar os seus defeitos de nascimento. Mas, infelizmente, muitas pessoas do MEC parecem acreditar em milagres desse e de outros tipos!
Perguntas e Respostas Novo Ensino Médio – primeira parte
Perguntas e Respostas Novo Ensino Médio – segunda parte