Entre a perplexidade e o medo, a ação!

Uma onda cada vez maior de perplexidade e medo toma conta do Brasil. Nas rodas de conversa, nas manifestações políticas, nas salas de aula, nas ruas, nos ônibus. E dela ninguém escapa, a não ser aqueles e aquelas que, fazendo uso das mais diversas violências, lucram com o medo.

Depois de várias décadas vegetando no parlamento, saindo da sombra apenas para agredir a democracia e as pessoas democratas, o capitão expulso do exército foi entronizado pelo empresariado, pelos pastores conservadores, pelas forças armadas e pela mídia, como o único capaz de dar continuidade ao desmantelamento do Estado brasileiro e à entrega de nossas maiores riquezas ao capital transnacional. E, de quebra, garantir o estabelecimento de uma pauta político-cultural antidemocrática e conservadora.

Já naquele momento, perguntava-se: como pode um cientista votar em quem é contra as ciências? Como pode um professor votar em alguém que é contra a educação e a escola? Como pode um jornalista votar em que defende a censura e o fechamento de jornais? Como pode uma mulher votar num machista? Como pode uma pessoa negra votar num racista? Como pode uma pessoa LGBTQIA+ votar num homofóbico e transfóbico? Como pode um cristão votar num defensor da tortura? Como pode um pobre votar em alguém que se compromete em tornar a sua vida um inferno? Dentre outras perguntas.

Depois de quase 4 anos de governo, as perplexidades não deixaram de crescer. Como pode um médico votar em quem é contra a medicina, as ciências e as vacinas? Como podem 50 milhões de pessoas votarem em quem foi responsável, por ação ou omissão, por meio milhão de mortes? Como pode alguém acreditar que “a verdade vos libertará” e votar em que fabrica e dissemina mentiras em escala industrial? Como…? Como…? Como…?

Não bastassem essas perplexidades que nos angustiam, elas vieram acompanhadas por um crescente sentimento de medo. Aos medos nossos do dia a dia, relacionados às inseguranças em que sempre vivemos no país, vieram somar outros medos, agora de caráter nitidamente políticos. Nada de sair de vermelho ou de carro com adesivos de partidos de esquerda ou causas feministas, LGBTQIA+, indígena ou quilombola; nada de se envolver em discussões públicas ou familiares sobre política e em defesa da democracia; nada de fazer festas com “motivos” democráticos ou “de esquerda”.

A soma de todos estes medos, boa parte deles profundamente arraigados em nossas culturas e subjetividades, e diante das perplexidades que nos tomam de assalto, a paralisia da ação e os adoecimentos têm sido uma saída que nossos corpos têm encontrado para obter algum alívio e repouso. Há que se cuidar da vida, há que se cuidar do corpo…

No entanto, felizmente, muitas outras pessoas têm demonstrado que, em meio às perplexidades e o medo, é preciso continuar agindo. E, hoje, mais do que nunca, essa assertiva é fundamental. O medo, se não enfrentado e elaborado, gera mais medo e insegurança; as perplexidades diante da realidade podem, salutarmente, nos fazer rever nossas crenças, conceitos, conhecimentos e sensibilidades, mas não podem nos paralisar. Ainda que a ação política não prescinda do cálculo e da estratégia e, portanto do conhecimento, não é fundamentalmente disso que ela se alimenta. A nós, democratas, há uma dimensão utópica de um país melhor para todes que nos faz levantar e agir. E hoje, mais do que nunca, mesmo diante das perplexidades e medos que nos invadem, o momento nos cobra uma ação política qualquer, mesmo que diminuta, contra as políticas de morte representadas pelo atual presidente da república e por seus poderosos apoiadores. “Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer!”.


Imagem de destaque: Brasil de Fato

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