Cooperação e construção coletiva no desenvolvimento de ações cidadãs e ambientais em áreas de risco e vulnerabilidade social

Camila Amormino Corsini

As favelas no Brasil ou aglomerados subnormais no Brasil são considerados como uma consequência da má distribuição de renda e do déficit habitacional no país. O bairro Jardim Felicidade, localizado na Região Norte de Belo Horizonte, Minas Gerais, possui uma população de 19.175 pessoas e é constituído por 26 setores censitários. De acordo com a classificação do Índice de Vulnerabilidade da Saúde, verifica-se que 50% destes setores censitários possuem classificação de risco elevado, 35% de risco muito elevado e 15% de risco médio, o que indica que este é um território de elevada presença de risco e vulnerabilidade social. 

De acordo com a Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (URBEL), o loteamento do bairro iniciou com aproximadamente 3.000 habitações com lotes de 160 m² em 1987. Entretanto, este planejado fugiu do controle e avançou para as áreas verdes do local. O processo de regularização das moradias só teve início em 2008, após um processo de luta popular que, devido à grande espera por regularização, ocasionou uma maior desvalorização do local com vendas de lotes a baixo custo, favorecendo a migração de novos moradores para a região. 

O bairro Jardim Felicidade é conhecido pelo seu alto nível de criminalidade e violência, principalmente no que diz respeito ao elevado número de homicídios, principalmente do público jovem, tendo o principal motivo a disputa por pontos de vendas de drogas. Além disso, a ocupação desordenada do bairro trouxe grandes impactos socioambientais para a região, através de moradias em áreas de risco, como em morros ou espaços íngremes e às margens do Tamboril, córrego que atravessa o bairro, resultando em assoreamento, perda de vegetação ciliar e enchentes. A presença de lixo e entulho às margens do córrego traz um aspecto muito negativo para a imagem da comunidade e ainda é um desafio para o poder público e para as lideranças comunitárias que buscam constantemente por formas de solucionar o problema. 

Com isso, com o objetivo da realização de métodos de cooperação e construção coletiva, horizontal e transparente, e com o intuito de desenvolver uma série de ações cidadãs a fim de impactar significativamente na realidade local, em 2011, surgiu a Associação Coletiva da Juventude. Através da união de jovens moradores do bairro na perspectiva de realizar intervenções e projetos na comunidade, a fim de garantir os direitos fundamentais, a produção, fomento e realização de atividades culturais, esportivas, empreendedoras, ambientais, solidárias, educativas e formadoras, proporcionando melhor qualidade de vida da população local, na realização de ações coletivas que despertem o protagonismo e participação juvenil, o empoderamento da população e na busca da diminuição da violência e do impacto ambiental.

Entre outras ações, a Associação se empenhou, no ano de 2017, em montar um processo de mutirão junto à REDE do bairro, de uma rua peatonal, estruturada para o lazer a partir de materiais reaproveitados. A associação também revitalizou um imóvel abandonado no bairro Jardim Felicidade através de vários processos de mutirão e, hoje, mantém a secretaria regular no local e atendimento com várias atividades e oficinas, promovendo o encontro e referência para a juventude e para moradores de uma forma geral, com atividades coletivas, empreendedoras, formativas e culturais. 

A questão ambiental tem sido pautada fortemente pela Associação Coletiva da Juventude, na realização de ações indispensáveis que ajudam a projetar essas lutas e a realidade atual que é de degradação, distanciamento do ser humano com a natureza e de descarte irregular de lixo às margens do Córrego Tamboril. É um trabalho árduo, mas que aos poucos, vai despertando e conquistando aliados na defesa da água e do meio ambiente. A realização do mais recente projeto denominado “Okupa Felicidade”, contou com a ação de oficinas ambientais na conscientização da importância e recuperação das nascentes presentes no bairro (Figura 1), essas pertencentes a Bacia do Ribeirão Isidoro, integrante da Bacia do Rio das Velhas o qual é subafluente do Rio São Francisco.

Figura 1: Antes e depois da recuperação da nascente do Córrego Tamboril
Fonte: Camila Amormino Corsini

Ainda, a Associação luta por mais espaços na comunidade voltados para o lazer, esporte e convivência com o intuito de integração comunitária, para que a comunidade passe a ser percebida por outras realizações para além do estereótipo de violência e degradação ambiental que carrega. 

No contexto pandêmico da COVID-19, o Coletivo realiza ações de arrecadação e distribuição de cestas básicas para as famílias mais carentes do bairro e continua planejando ações de empoderamento da comunidade e principalmente ao público da juventude através de processos coletivos que sejam desencadeados em práticas solidárias e emancipatórias para com as relações sociais, espaços públicos e naturais, criando um aspecto mais sociável, menos violento, acolhedor na comunidade e de harmonia com o meio ambiente.

Sobre a autora
Educadora ambiental, Associação Coletiva da Juventude e
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde da  Fiocruz Minas


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