Romerito Costa Nascimento
Já refletimos no texto anterior a real necessidade de se buscar uma educação inclusiva que garanta o direito ao aprendizado de pessoas com deficiência. Neste novo texto, buscaremos refletir sobre a importância de haver a interlocução entre Escolas especiais e escolas inclusivas.
É necessário dizer que este texto não tem a pretensão de se posicionar contra ou a favor desta ou aquela modalidade de ensino, mas buscará refletir sobre o que se pode retirar da relação entre estes dois “universos”. Lugares de conhecimento importantes que, certamente, darão o tom no aprendizado do Estudante com deficiência.
A construção do conhecimento – todos nós sabemos – não é trajetória recente e nem está pronto e acabado. O mundo já passou por várias transformações por causa desta dinâmica e, sem sombra de dúvidas, ainda será possível prever e vivenciar muitas outras mudanças. O caminho é sempre de novas descobertas e de processos contínuos e descontinuados, que vão dando a tônica no processo e sentido aos métodos, teorias e fundamentos, forjando aquilo que chamamos de ciência.
Com o processo de inclusão de pessoas com deficiência não é diferente. Inicia-se com uma visão segregacionista onde,por incapacidade de as instituições comuns de receber este público, preferia colocá-los em instituições que fossem um ambiente “favorável” às suas necessidades específicas. Este tipo de instituição trazia também o retrato de uma sociedade que – a pesar do discurso se pautar no “estamos nos importando com estes sujeitos” – demonstrava que, na realidade, havia uma intolerância com o “diferente” e, portanto, devia retirá-los de circulação para que não ficassem visíveis e não incomodassem com seus corpos e seus pedidos de esmola. Todavia, ao longo do processo, com as evoluções e involuções próprias da humanidade, dentro destas escolas, saberes foram construídos. Tais conhecimentos ora garantiam a reinserção social destes sujeitos ora os segregavam ainda mais. Mas não deixavam de dizer sobre uma realidade diferente, mas que em alguma medida e em algum momento poderia ser universal.
Dizendo de nossa seara, a orientação e mobilidade (OM) – método no qual se ensina a umapessoa com deficiência visual a se locomover por espaços fechados e abertos – se torna um instrumento importante, respeitando as devidas proporções, para professores que desejam trabalhar espacialidade com as crianças e despertar outros sentidos para além da visão.
Como este, vários outros saberes e técnicas foram construídos, aprimorados e aplicados dentro das chamadas escolas especiais e hoje ainda são utilizados nas chamadas Salas de AEE (Atendimento Educacional Especializados) equipamento importante no apoio à escola inclusiva.
Todavia, nem todo conhecimento construído ao longo destes anos pela Escola Especial vem sendo aproveitado a contento. Com o advento da Escola Inclusiva ou Escola Comum, pensou-se em inaugurar um novo tempo. Um tempo onde tudo seria novo, diferente, com saberes e práticas inovadores. Para isso, dever-se-ia acabar com as primeiras escolas, extinguir seu funcionamento. Tudo que estava lá não tinha mais serventia. A musicalidade, os teatros, o aprendizado do instrumento, o trabalho manual, tudo isso não deveria mais existir.
Ora, então se esqueceram de que o trabalho manual melhora a coordenação motora, desenvolve o tato e possibilita o aprimoramento da criatividade e improvisação. Por acaso se esqueceram de que o teatro a música, em fim, as artes, elevam o humano às abstrações e despertam sensibilidade? Não, não se esqueceram disso, só depositaram nas mãos de um único profissional que, como as salas de AEE, também são multifuncionais e precisam saber tudo de todas as deficiências, como o atendimento deve ocorrer, as implicações psico-sociais de todas as variações de deficiências e, comose não bastasse, ele deve ser inovador, fazer tudo diferente do que a famigerada Escola Especial vinha fazendo com seus vários profissionais especializados.
Obviamente, este modelo não tem dado certo. Nenhum profissional consegue ser multitarefa, ainda mais com o universo de especificidades que o campo da deficiência comporta. Por isso, instala-se a confusão, onde professores, apesar de estarem cercados de equipamentos tecnológicos e de materialidades, não atendem a contento os estudantes em suas especificidades.
Por outro lado, as escolas Especiais que ainda conseguiram sobreviver, estão sucateadas, atendendo um público mínimo de pessoas e, obviamente, voltada para dentro de seus muros. O saber lá existente e construído por vários anos não é aproveitado pela Escola Comum e corre um sério risco de ser esquecido por ainda não ter sido estudado à fundo e servido de ferramenta para capacitação de professores de AEE.
Esta polarização, certamente, não contribuiu e nem contribuirá para o aprimoramento de ambas as modalidades. É imperativo que as modalidades conversem e possam aprender, transmitir saberes, aprimorarem suas práticas e, principalmente, garantir o aprendizado das pessoas com deficiência.
Sem esta interlocução, não será possível atender as especificidades de cada pessoa com deficiência e não garantiremos que este saber não se perca. Para isso, é necessário que deixemos de buscar inventar novamente a roda e aproveitemos a roda existente para acrescentarmos um pneu novo e aprimorado.
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