Uma coisa tenho que concordar com as pessoas, o mundo está muito chato. Está difícil manter amizades, frequentar alguns espaços, comprar mercadorias e serviços sem questionar a índole dos indivíduos e das organizações. As relações não estão apenas líquidas como evaporaram em meio ao avanço de ideologias excludentes, nefastas e mortíferas. Isso acontece porque o fascismo da extrema-direita voltou a ganhar espaço, seus adeptos disseminam ignorância que infecta a sociedade com ódio e rancor.
Um discurso raso que não agrega e apenas excluiu, passou a ocupar o lugar das antigas utopias. Contrário aos sonhos de uma terra prometida, o atrativo do discurso fascista está no fato de ser concreto e direto, isto é, eu sou bom, o outro é mau. Eu sou “bem-nascido” no meu país e o outro é estrangeiro. Eu sou superior, o outro por sua vez é inferior e nem deveria existir.
Os xingamentos e as agressões físicas são manifestações da violência, expressão da chatice que inebria a sociedade. No passado as chamadas piadinhas e brincadeiras eram corriqueiras pelo desconhecimento do que era considerado uma ofensa. Com a maior civilidade e sensibilidade sobre as palavras, tais expressões e comportamentos tornam o mundo chato, pois, continuamos ouvindo adjetivações que indicam a repetição de erros, com o agravante de sabermos suas consequências.
O mundo está chato, porque as pessoas ficaram chatas, sem utopias e sem desejo de participar de uma coletividade. Parece que a frase: jamais fomos modernos; faz muito sentido. Essa chatice significa que perdemos nossos sonhos, dando espaço para exaltação da pessoa MÁ e um CACO. Que mundo maçante em que a ignorância é valorizada, a agressão é comemorada, a ameaça significa coragem, impunidade é dom divino, e, hipocrisia passou a ser moralidade. Realmente, a sociedade está chata!
MÁ e um CACO, sem o jogo de palavras proposto, indica um xingamento que irmãos pretos e pretas escutam com certa frequência. Em nosso país o uso dessa expressão está cada vez mais naturalizada, não mais como suposta brincadeira como alguns alegam, mas como símbolo do ódio presente em uma sociedade desagradável. Nas mídias sociais diariamente acontece a exibição de vídeos e áudios que se proliferam com um roteiro enfadonho sobre racismo, sexismo, etarismo, aporofobia, xenofobia e LGBTI+fobia.
Profissionais de diversas áreas estão sofrendo com a chatice que se instalou, um exemplo no esporte é o jogador de futebol Vinícius Júnior do Real Madrid, principal alvo dos torcedores adversários na Espanha. O atleta brasileiro aparece como o caso de maior visibilidade midiática, mas muitos outros sem o mesmo status social no esporte ou fora dele, sofrem com as agressões de uma pessoa MÁ e um CACO.
A falta de educação não pode ser a resposta, já que falamos de um processo socializador e civilizatório, porém, é constatado que algo está truncado. Muitos grupos estão propagando valores contrários à vida coletiva, exaltando o egoísmo que rompe com o contrato social. Aniquilar o outro ou apagar sua humanidade passou a ser a grande recompensa em uma sociedade chata.
Sem novas utopias, o mundo ficou chato e deu lugar ao imediatismo da vingança e da barbárie. Um discurso reclamado por parte da população que flerta com o fascismo, uma postura impertinente ao assumir com orgulho ser uma pessoa MÁ e um CACO.
O futuro da sociedade é tenebroso, as juventudes que sempre foram a esperança, estão sendo ensinadas em um cenário muito chato. A falta de altruísmo e das utopias coletivas apenas afirma a vitória do individualismo, caracterizado na antipatia do eu e na morte do outro.
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