ELE SÓ QUERIA BRINCAR…

Jacqueline Caixeta

Ele só queria brincar, mas não aguentava correr o tanto que os outros corriam.

Eles só queria brincar, mas ninguém entendia sua fala,  porque não estava dentro dos padrões da “normalidade”.

Ele só queria brincar, mas ninguém queria brincar com ele porque suas ideias eram esquisitas, estranhas.

Ele só queria brincar, mas suas habilidades motoras e intelectuais, não lhe ajudavam muito e ninguém entendia isso.

Ele só queria brincar e passou uma infância inteira tentando dizer isso às pessoas, mas ninguém ouvia.

E com isso o tempo passou e aqueles amigos que não brincavam com ele, também não se interessaram pelo adolescente que ele se transformou.

E se esse menino fosse o seu filho?

Como você se sentiria?

Alguma mãe e pai já parou pra pensar em tal possibilidade?

Não, infelizmente, muitos nunca pensaram que aquele menino que a escola insiste em incluir e atrapalha o rendimento da turma do meu filho, poderia ser meu.

Muitos pais que, muitas vezes até mandam o filho se afastar daquele menino “cheio de problemas”, nunca parou pra pensar que ele poderia ser seu filho.

A inclusão não é fácil, mas poderia ser bem mais suave se todos os pais começassem a pensar que precisam conversar com seus filhos e ajudá-los a acolher aquele coleguinha, ao invés de irem na escola reclamarem que o coleguinha fez isso ou aquilo, que incomoda seu filho, que não deixa a turma prestar atenção devido às suas características tão próprias. A escola tenta de todas as maneiras fazer com que os alunos se conheçam, se respeitem e aceitem as diferenças, no entanto, nada contra a maré porque não encontra pais que ajudam neste propósito.

É preciso sair do conforto de pais típicos e entrar na luta de pais atípicos para entender um pouco da importância e necessidade em ensinar seu filho a lidar com as diferenças. 

As diferenças de um coleguinha é só um grãozinho de areia que sua criança vai encontrar no mundo. À medida que ela for crescendo, vai encontrar, neste mundão de meu Deus, tanta diversidade que, se não aprender na infância a respeitar e lidar,  vai ter uma luta muito grande pela frente.

Os pais são responsáveis para falar de inclusão com os filhos. A escola cumpre seu papel, mas sozinha, é impossível fazer com que o acolhimento aconteça. Se seu filho chega em casa reclamando de algum coleguinha que foge ao padrão da dita normalidade, vá até à escola, procure saber do que se trata e aprenda, com a escola, a educar seu filho para a diversidade do mundo. As crianças precisam aprender que ser diferente é normal, que é na diferença que nos encontramos em nossas individualidades, que cada ser carrega em si características próprias e divergentes uns dos outros e que tá tudo bem. Viver e conviver com as diferenças só vai fazer  do seu filho alguém melhor no mundo, vai ensiná-lo o respeito e solidariedade sem que sejam ditas palavras, apenas nas ações do cotidiano. 

A convivência com a diversidade traz uma maneira mais leve de enxergar o mundo e se relacionar com o outro. É importante ter experiências assim na infância, pois, é na infância que mais aprendemos em toda nossa vida. O aprendizado que acontece na prática, na vivência, se eterniza na memória.

Aprendam, pais, a lidar melhor com as falas de seus filhos sobre os colegas diferentes e lhes ensinem a serem pessoas melhores aprendendo com seus colegas que todos somos diferentes e cada um carrega em si a dor e delícia de ser o que é. Coloquem-se no lugar dos pais atípicos e, quem sabe, vocês possam ser pais melhores para seus filhos lhes educando para uma vida mais fraterna diante a tanta diversidade.

Com afeto,

Jacqueline Caixeta

1 comentário em “ELE SÓ QUERIA BRINCAR…”

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