“Hoje é dia de parquinho!”: conversa oceânica sobre brincar infantil 

Thais Ferreira Dutra

Havia algo de especial nos olhinhos dos pequenos naquele dia. Deixa eu te contar: os pés estavam saltitantes e os cabelos soltos em trancinhas acompanhavam o movimento do corpo. A pressa de encontrar os amigos transformava o corredor das salas de aula em pista de corrida, fazendo com que as mochilas de rodinhas ganhassem vida própria.

 A vontade de estar perto era tão grande que eu me perguntava se realmente tinham se passado apenas dois dias desde a última sexta-feira. A meninada se reunia para contar o que tinham feito no fim de semana, o que incluía quase sempre uma história mirabolante digna de filmes de sessão da tarde.

A mim, cabia responder à pergunta unânime: “professora, é verdade que hoje é dia de parquinho?”. Para os adultos, aquela era uma segunda-feira. Para eles, era dia de parquinho. 

Em 1927 o escritor Romain Rolland escreveu uma carta para Sigmund Freud falando sobre algo que ele denominou como “sentimento oceânico”. Por ora, vamos retirar esse termo do contexto psicanalítico e levá-lo para escorregar no parquinho lá da escola.

Um sentimento oceânico pode se expressar por meio daquela sensação de vastidão que nasce lá dentro da gente, onde se sente uma mistura de paz, liberdade e pertencimento. Freud acreditava que esse sentimento poderia surgir em momentos de intensa conexão e unidade com o mundo. 

A minha turma parece vivenciar isso no parquinho da escola. Entre universos de aventuras que vão se formando em pequenos grupos de crianças, parece nascer um pacto secreto com a liberdade. Aos poucos, elas vão construindo cenários brincantes que recriam a noção de si e do espaço, tornando tudo uma só coisa. O brincar leva a elas uma imersão no agora, evocando alegria e sensação de pertencimento.

Fico aqui, desejante de que para os pequenos, todo dia seja dia de parquinho. Até breve! 🙂

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