Fora da escola, já!
Jacqueline Caixeta
Muito se fala em interdisciplinaridade, mas fala-se, pensa-se e, na prática, o que vemos é muitas escolas ainda colocando cada componente curricular dentro de sua caixa e pronto.
O mundo nos mostra, a todo instante, que os conhecimentos se relacionam, que a matemática, por exemplo, pode estar presente em tudo. Que vemos física e química em situações cotidianas simples, que a arte perpassa por ações e sentimentos não só no mundo dos saberes, mas também nas relações de afeto. Enfim, vivemos de maneira multidisciplinar, e algumas escolas ainda insistem em não enxergar isso.
A lei de diretrizes e bases da educação e a nossa BNCC deixam claro que os componentes curriculares precisam conversar entre si, que há inúmeras possibilidades de se fazer uma educação mais libertadora e plural, no entanto, muitas práticas ficam presas na tradicional maneira de ensinar.
Conseguir enxergar as possibilidades da interdisciplinaridade é dizer que tanto ensino quanto aprendizagem podem acontecer sem amarras e de maneira dialética. É importante trazer para o espaço da escola a diversidade cultural do mundo que nos rodeia e perceber que conteúdos, componentes curriculares ou disciplinas, seja lá o nome que queiram dar, são um convite à ousadia de ir além, de sair da tal caixinha que todos falam tanto, e avançar em ações mais didáticas e políticas de se fazer a educação.
Outra maneira de possibilitar a interdisciplinaridade é quando propomos um trabalho de campo. Ao convidar para um trabalho de campo, estamos dizendo aos educandos: venham, saiam daí, deste espaço que, muitas vezes, te limitam de ver o mundo e como o conhecimento acontece. Venha ver com outros olhos o que os livros e professores estão tentando te ensinar. As saídas pedagógicas extrapolam toda e qualquer intenção de educar, elas vão além porque dizem do saber fora do contexto sala de aula, elas trazem o saber para a vida real e o relaciona com o mundo.
Ver como acontece o que os livros e professores dizem é fantástico! Ir em outros espaços e lidar com o conhecimento fora de um contexto diário é libertador. Poder enxergar os componentes curriculares acontecendo de maneira interdisciplinar, plural e dinâmica, desafia e estimula o aluno a querer ultrapassar os muros da escola e buscar no mundo toda relação do que aprende em suas aulas com o que, de fato, acontece na vida. É saber que todo e qualquer conhecimento existe com um propósito. Muitas vezes, alunos se perguntam o motivo pelo qual estão aprendendo determinado conteúdo, quando têm a oportunidade de sair, eles descobrem as respostas e aprendem a fazer novas perguntas.
Atividades fora da escola são ricas, não só em relação ao saber acadêmico de se fazer a interdisciplinaridade, mas também trazem oportunidades de um convívio social incrível. Muitos colegas, pouco se falam dentro da escola e, quando entram em um ônibus, transitam juntos e misturados em espaços novos, encontram possibilidades para uma conversa mais leve e descontraída. As relações entre os alunos precisam desse respiro do espaço na escola. Sair do ambiente de todo o dia é também uma maneira de enxergar e perceber o colega com outros olhos. Ter outros olhares para posturas e comportamentos do cotidiano faz com que eles possam se aproximar de colegas que não são do seu grupinho de sala de aula.
Vale a pena toda e qualquer oportunidade de levar esses meninos para fora da escola e fazer com que percebam o mundo, não só pela lente do professor e das páginas de um livro, mas pelos diversos olhares que toda a diversidade do conhecimento possibilita. Vamos desafiar nossos alunos levando-os para fora da escola. Precisamos libertá-los da maneira tradicional de ensinar e querer que aprendam, apenas lendo e ouvindo. É preciso que vejam, experimentem, questionem e vivenciem outros lugares em que se aprende tanto ou mais do que os bancos das escolas.
Com afeto,
Jacqueline Caixeta