Volta às aulas: medo e insegurança.

O medo ronda as cabeças e os corações de milhões de trabalhadoras(es) da educação no Brasil, assim como das famílias dos quase 50 milhões de alunos(as) das escolas brasileiras. Enquanto o mundo inteiro vê a pandemia se arrefecer e a ação dos governos para garantir segurança sanitária à população, inclusive escolar, no Brasil, o Governo Federal e muitos de seus aliados em estados e municípios agem justamente no sentido contrário, investindo no caos, na insegurança e na morte.

Dessa necropolítica resultam, não apenas a estarrecedora cifra de meio milhão de mortos e o descontrole do combate à pandemia, mas também a sensação coletiva de que, cada dia mais, nos aproximamos de um abismo sem fim.  Em todos os campos e dimensões da vida social, a expectativa, infelizmente, é que, aqui as trevas ainda perdurarão por um longo tempo.

É neste contexto que vários estados e municípios estão obrigando professoras(es) e demais profissionais da educação a voltarem às atividades presenciais. Há, é claro, uma resistência dessas(es) profissionais e de suas organizações sindicais em fazê-lo, assim como há grande insegurança das famílias em enviar suas crianças e adolescentes de volta às salas de aula. De outro lado, muitas famílias, mais e mais, pressionam para que as escolas voltem à normalidade da vida cotidiana, ainda que sob algum risco de contaminação.

Todes sabemos que não é sem razão que haja uma insegurança coletiva sobre o assunto. De um lado, o Estado – nas três esferas de governo – não fez sua parte dotando as escolas de condições sanitárias e tecnológicas para receber as(os) profissionais da educação e os(as) estudantes, nem muito menos investiu em esclarecimento e formação que permitam tomadas de decisões baseadas em evidências científicas sobre a pandemia. Da parte das(os) profissionais da educação e de suas organizações sindicais faltam dados e pesquisas brasileiras que mostrem que é possível voltar às aulas com segurança.

Diante desse impasse e dessa insegurança que, pela própria natureza, capilaridade e abrangência da escola, atinge ao conjunto da sociedade, urge que os centros e grupos de pesquisa em educação e saúde façam pesquisas e divulguem conhecimentos junto à população escolar a respeito do impacto, no Brasil, da volta às aulas no aumento ou não dos casos de infeção pela Covid-19. Os poucos estudos existentes não são comunicados facilmente às professoras, aos professores e às famílias para que possam tomar decisões esclarecidas e com alguma  margem de segurança.

A comunidade científica brasileira, que tem travado uma batalha incessante contra o obscurantismo e as mentiras amplamente divulgadas, inclusive pelos governos brasileiros, tem a responsabilidade, mais do que nunca, de se voltar de forma decisiva e incisiva para o conhecimento da realidade das escolas, do que vem acontecendo nas redes que já voltaram ao funcionamento. Não apenas para ajudar na garantia das condições sanitárias e pedagógicas de funcionamento das mesmas, mas também para evitar mais mortes desnecessárias no Brasil.  A batalha pelo esclarecimento envolve, mais do que nunca, a escola e a população que a habita. E este é o nosso grande desafio neste momento.


Imagem de destaque: Divulgação MST/Brasil de Fato

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Volta às aulas: medo e insegurança.

Editorial do Jornal Pensar em Educação em Pauta 321

O medo ronda as cabeças e os corações de milhões de trabalhadoras(es) da educação no Brasil, assim como das famílias dos quase 50 milhões de alunos(as) das escolas brasileiras. Enquanto o mundo inteiro vê a pandemia se arrefecer e a ação dos governos para garantir segurança sanitária à população, inclusive escolar, no Brasil, o Governo Federal e muitos de seus aliados em estados e municípios agem justamente no sentido contrário, investindo no caos, na insegurança e na morte.

Dessa necropolítica resultam, não apenas a estarrecedora cifra de meio milhão de mortos e o descontrole do combate à pandemia, mas também a sensação coletiva de que, cada dia mais, nos aproximamos de um abismo sem fim.  Em todos os campos e dimensões da vida social, a expectativa, infelizmente, é que, aqui as trevas ainda perdurarão por um longo tempo.

É neste contexto que vários estados e municípios estão obrigando professoras(es) e demais profissionais da educação a voltarem às atividades presenciais. Há, é claro, uma resistência dessas(es) profissionais e de suas organizações sindicais em fazê-lo, assim como há grande insegurança das famílias em enviar suas crianças e adolescentes de volta às salas de aula. De outro lado, muitas famílias, mais e mais, pressionam para que as escolas voltem à normalidade da vida cotidiana, ainda que sob algum risco de contaminação.

Todes sabemos que não é sem razão que haja uma insegurança coletiva sobre o assunto. De um lado, o Estado – nas três esferas de governo – não fez sua parte dotando as escolas de condições sanitárias e tecnológicas para receber as(os) profissionais da educação e os(as) estudantes, nem muito menos investiu em esclarecimento e formação que permitam tomadas de decisões baseadas em evidências científicas sobre a pandemia. Da parte das(os) profissionais da educação e de suas organizações sindicais faltam dados e pesquisas brasileiras que mostrem que é possível voltar às aulas com segurança.

Diante desse impasse e dessa insegurança que, pela própria natureza, capilaridade e abrangência da escola, atinge ao conjunto da sociedade, urge que os centros e grupos de pesquisa em educação e saúde façam pesquisas e divulguem conhecimentos junto à população escolar a respeito do impacto, no Brasil, da volta às aulas no aumento ou não dos casos de infeção pela Covid-19. Os poucos estudos existentes não são comunicados facilmente às professoras, aos professores e às famílias para que possam tomar decisões esclarecidas e com alguma  margem de segurança.

A comunidade científica brasileira, que tem travado uma batalha incessante contra o obscurantismo e as mentiras amplamente divulgadas, inclusive pelos governos brasileiros, tem a responsabilidade, mais do que nunca, de se voltar de forma decisiva e incisiva para o conhecimento da realidade das escolas, do que vem acontecendo nas redes que já voltaram ao funcionamento. Não apenas para ajudar na garantia das condições sanitárias e pedagógicas de funcionamento das mesmas, mas também para evitar mais mortes desnecessárias no Brasil.  A batalha pelo esclarecimento envolve, mais do que nunca, a escola e a população que a habita. E este é o nosso grande desafio neste momento.

Imagem de destaque: Divulgação MST/Brasil de Fato

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