Uma questão de prova

Eduardo José Machado Monteiro

Recentemente em Belo Horizonte, mais precisamente no Colégio Loyola, tivemos um caso em que uma simples avaliação periódica de Língua Portuguesa tornou-se um episódio de repercussão nacional. Isso aconteceu pelo fato de que havia nela um texto do humorista/escritor/ator, Gregório Duvivier, e um minoritário grupo de pais considerou tal texto um explícito instrumento de persuasão político-ideológico usado pela professora que elaborou a prova para manipular os alunos. Esse mesmo grupo reivindicou, junto a direção da escola, uma providência a respeito. Para a surpresa de boa parte dos que conhecem aquela instituição, a direção anulou a prova num primeiro momento e posteriormente impôs a execução de uma outra avaliação sob a alegação de que os alunos precisavam confrontar o “contra ponto político”.

Para esse caso, duas leituras fazem-se necessárias. Uma refere-se à instituição descarada da censura e outra sobre a sutileza do Marxismo Cultural, uma teoria da conspiração difundida nos círculos conservadores e da extrema-direita.

Já era fato consumado e corriqueiro uma certa liberdade no ambiente de sala de aula até que começaram a disseminar essas ideias de manipulação, esquerdismo e “marxismo cultural”.

O episódio da prova de Língua Portuguesa do Colégio Loyola estabeleceu um receio para todos professores, pois até quem não quer entrar na seara das discussões políticas está sujeito a promovê-la. Estamos instituindo a pior das censuras na nossa sociedade, aquela que não precisa de lei para garanti-la, pois ela se estabelece no medo das pessoas às suas ações cotidianas ou, como no caso, na preparação de uma aula ou de uma avaliação.

Os direitos humanos nos garante a possibilidade de compreendermos os fatos cotidianos a luz das diversas perspectivas. No entanto, algo insano invade nosso dia-a-dia, quando ideias contrárias à vida humana são propagadas como algo natural, comum e normal. Mulheres, negros, homossexuais, minorias de um modo geral são taxados como transgressões à “naturalidade” do homem macho, de supremacia branca e de riqueza abundante.

Afrontar os direitos humanos é “contra ponto político”? Não é “contra ponto político”, não é o outro lado da moeda ou a visão do contraditório quando a opção é um atentadoa vida humana. Tortura não é outra visão deliberdade, é crime, é afronta aos direitos humanos.

“A regra é clara” quando falamos de direitos humanos ou deveria ser. Deveria, porque nos últimos anos uma extrema direita que propaga ideais fascistas ganha espaço na mídia, nas produções teóricas opinativas, sem que haja sequer algum endosso ou cunho científico. Absurdos que confrontam a ciência,como “a Terra é plana”, são declarados como possibilidade de “contra ponto político” e por mais que façamos disso piada, estão se fixando no nosso cotidiano sem nenhum argumento racional/científico, pois, em último caso,apela-se para “é minha opinião”.

Esse conservadorismo radical (paleoconservadores) defende uma sociedade pautada nos moldes da Idade Média, desconsiderando todos os avanços e conquistas dos últimos séculos e principalmente das últimas décadas.

O Marxismo Cultural propagado pela Escola de Frankfurt, diferentemente de Marx, entendia que a cultura era determinante para “libertar os seres humanos das circunstâncias que os escravizam”. Os “paleoconservadores” se apoderamdessa ideia e entendem que a Cultura e principalmente a educação é o meio mais eficaz para “modular amentalidade e visão política das pessoas”.

Nesse ambiente, podemos verificar várias ações do “novo” governo alterando a estrutura do Conselho Superior do Cinema, apoiando a Escola sem partido, reduzindo verbas das Universidades Federais e Institutos Federais, “sugerindo” os alunos perfilados cantando o hino Nacional, criando comissão para monitorar o Enem e avaliar o conteúdo das provas, entre outras.

A questão da prova do Colégio Loyola nem era de opinião, mas como o texto tratava de uma crítica feroz ao atual governo,pais adeptos dessa corrente paleoconservadora, mesmo que ignorantes a ela, dãodestaque exagerado, construindo uma repercussão gigantesca, a fim de propagarem essas ideiasde guerra ideológica.

A polêmica chega ao autor do texto e principalmente a comunidade escolar do Colégio e da sociedade belorizontina e,como um sopro de esperança, vemos a reação de pais e alunos contrários a essas ideias paleoconservadoras.

Manifestação em passeata, impulsionada pela censurapor parte da escola, sinaliza o respeito aos professorese a busca de uma formação de “cidadãos éticos, de espírito crítico, defensores da justiça social e dos direitos humanos. Não esqueçamos disso!

Imagem de destaque: Colin Behrens / Pixabay

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