Uma pequena história do cinema nacional – parte I

Alexandre Azevedo

Se os irmãos Lumière (Auguste e Louis) são considerados os pais do cinema mundial ao inventarem, em 1895, o cinematógrafo, a famosa máquina de filmar, Humberto Mauro é considerado o pai do cinema nacional. Nascido na cidade mineira de Volta Grande em 1897, Humberto Mauro, juntamente a um amigo, adquiriu, em 1925, uma máquina cinematográfica, dando, assim, início ao cinema em terras brasileiras. No mesmo ano, ajudou a fundar em Cataguases, cidade para onde se mudara, uma companhia cinematográfica de nome Phebo Sul América. Lá, filmou Na primavera da vida e Tesouro perdido, cujo sucesso deste fez com que o seu nome começasse a ganhar fama nacional. Vale ressaltarmos que Cataguases já era um centro cultural conhecido, berço da revista Verde, criada logo após a Semana de Arte Moderna, com o intuito de fortalecer e consolidar o movimento modernista em Minas Gerais.

Já com certa experiência em filmagens, Humberto Mauro seguiu para o Rio de Janeiro, onde ingressou na Companhia Cinematográfica Cinédia, o mais importante polo de cinema da primeira metade do século XX, mais especificamente, dos anos 30 e 40. Lá, Humberto Mauro filmou Lábios sem beijo e, em parceria com Adhemar Gonzaga, A voz do carnaval, apresentando ao público Carmem Miranda, uma das maiores estrelas de cinema de todos os tempos do Brasil. Na Cinédia atuaram atores e atrizes que marcaram definitivamente o cinema brasileiro, como Oscarito, Grande Otelo e Dercy Gonçalves. Aliás, não só eles, mas tantos outros, como Zé Trindade, Cyl e Dick Farney, Eliana Macedo, Adelaide Chiozzo, Sônia Mamede, Doris Monteiro, Fada Santoro, Ivon Curi e Julie Bardot estrelaram também os mais populares filmes da famosa Atlântida Cinematográfica, que, nos seus mais de 20 anos de existência, produziu cerca de 70 filmes, a maioria deles dirigidos por Carlos Manga, Watson Macedo, José Carlos Burle e Moacir Fenelon, esses dois últimos também fundadores da companhia. Eram comédias musicais, com os seus sambas e suas marchinhas de carnaval, as chanchadas como eram ditas, que logo caíam no gosto do público. Dentre esses filmes, podemos citar Nem Sansão, nem Dalila; Matar ou correr; Dupla do barulho; Colégio de brotos; Carnaval Atlântida; Vamos com calma; Esse milhão é meu e Sob a luz do meu bairro.

Outra importante companhia cinematográfica foi a Vera Cruz, isso já nos anos 50. Fundada na cidade paulista de São Bernardo do Campo, pelos italianos Franco Zampari (produtor teatral) e Francisco Matarazzo Sobrinho (industrial), a Vera Cruz produziu cerca de 50 longas metragens, dentre eles, o clássico O cangaceiro, dirigido por Lima Barreto², não o escritor carioca pré-modernista dos romances Triste fim de Policarpo Quaresma e de Recordações do Escrivão Isaías Caminha, mas o cineasta de Casa Branca, interior paulista, com diálogos escritos pela romancista Rachel de Queiroz, a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, em 1977. O cangaceiro, inspirado na vida do “famigerado” Lampião, o conhecido rei do cangaço, foi o primeiro filme brasileiro a ser premiado no festival internacional de Cannes, que, para muitos críticos e estudiosos do cinema, é o principal festival de cinema do mundo, mais importante até mesmo que o próprio Oscar norte-americano. Falando em Cannes, não podemos nos esquecer de O pagador de promessas, inspirado na peça homônima de Dias Gomes, tendo Glória Meneses e Leonardo Villar nos papéis de Rosa e Zé do Burro, dirigido e produzido por Anselmo Duarte, que recebeu, em 1962, a Palma de Ouro, principal premiação do citado festival francês, além de ter sido o primeiro filme brasileiro a concorrer ao Oscar, na categoria de melhor filme estrangeiro.  Era, portanto, o auge de nosso cinema. Um dos grandes nomes surgidos na Vera Cruz, foi o de Amácio Mazzaropi. Além de cineasta, o nosso Jeca foi ator, humorista e também cantor. Nascido em Taubaté, interior de São Paulo, cidade natal também de Monteiro Lobato, o criador do Jeca Tatu³, Mazzaropi, consolidado como um dos principais atores de cinema do Brasil, após atuar em filmes como Sai da frente, Nadando em dinheiro e Candinho, construiu, em sua fazenda, um grande estúdio cinematográfico, onde ali nasceu Tristeza do Jeca, o seu primeiro filme totalmente em cores, sendo também o primeiro filme transportado para a televisão, granjeando grande sucesso de público.

Continua…


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