A literatura tem sido minha melhor morada em tempos de distanciamento social. As redes sociais estão cada vez mais enfadonhas e monótonas. Sinto que, cada vez mais, compartilhamos solidão.
Estamos sós?
Essa é uma das muitas inquietações que a leitura de Uma furtiva lágrima, de Nélida Piñon, evoca em mim:
“Ao mesmo tempo é bom saber que estamos sós no mundo, não nascemos de uma ninhada.” (PIÑON, 2019, p. 7).
A audácia da escritora também me encorajou, para que, também eu, não tivesse medo da dramática experiência da escrita em primeira pessoa, pois:
“Falar em primeira pessoa requer audácia. Mas é uma opção natural. Enquanto falo por mim, ou penso por mim, incorporo os demais à minha genealogia. Não ando sozinha pelo mundo.” (PIÑON, 2019, p. 7).
Seco minhas lágrimas. Sigo as de Nélida. Somos múltiplas, plurais, muitas. Eu leio outras mulheres. E na companhia de Nélida, compreendo que:
“Escrever é o que sei fazer. Narrar me insere na corrente sanguínea do humano e me assegura que assim prossigo na contagem dos minutos da vida alheia. Pois nada deve ser esquecido, deixado ao relento. Há que pinçar a história dos sentimentos a partir da perplexidade sentida pelo homem que, na solidão da caverna, acendeu o primeiro fogo.” (PIÑON, 2019).
Vivo há quase um ano reclusa na minha caverna. Por isso escrevo. Todos os dias. Conto meu tempo. E como demora a passar…
Convite à leitura:
PIÑON, Nélida. Uma furtiva lágrima. Rio de Janeiro: Record, 2019.
Imagem de destaque: Editora Record / Divulgação