O campo empresarial vem ressignificando uma palavra muito importante: colaboração. Colaborar quer dizer trabalhar junto. Co- junto, o mesmo prefixo de companheiro, colega, coletivo, cooperação, etc. Portanto, um prefixo muito importante, pois coloca os dois lados de um mesmo projeto em condições de igualdade para, juntos, realizá-lo. Na maioria dos casos, senão todos, somente os iguais estão juntos numa mesma empreitada. O colega é aquele que tem o mesmo legado que você, um legado que ambos deixarão; o coletivo é composto daqueles que fazem a mesma leitura de determinada coisa, determinado objeto; o cooperador é aquele que opera junto com você para atingir os mesmos fins. A outra parte da palavra –labor quer dizer trabalhar, laborar; na roça, o seu resultado é a lavoura; na cidade, existem os laboratórios. Lugares onde se trabalha. Portanto, colaborar quer dizer trabalhar junto, em condições de igualdade, na realização de uma tarefa ou parte dela. O colaborador é aquele que está junto, produzindo junto. Ambos são desejosos e trabalham para realizar esses desejos.
Assim, a classe burguesa-empresarial ressignificou a palavra colaborador para se referir ao trabalhador que faz o produto em troca de um salário e que será vendido a outros trabalhadores pelo dono da mercadoria, o seu patrão. Até aí, tudo bem não é mesmo? Seria fantástico se todos os colaboradores – patrões e empregados – recebessem o resultado das vendas em partes iguais. Mas, sabemos que não é assim que funciona. Você, colaborador, perde todos os direitos trabalhistas em troca de uma suposta liberdade para “ganhar” muito mais. Obviamente, o lucro que o patrão tira nas suas costas não diminuiu. Aliás, aumentou, pois o patrão já não transfere mais parte do lucro, em forma de impostos, para uma caixa comum. Por isso, a classe burguesa – por meio de seus gerentes, a classe média – criou a expressão colaborador para dizer que “você é um igual”. Uma mentira na qual você vem acreditando…
Dessa forma, buscam desvalorizar a palavra “trabalhador” e o próprio trabalhador como se, ao mudarmos do capitalismo industrial para o capitalismo financeiro, o trabalhador tivesse desaparecido. Grosso modo, só é trabalhador aquele que tem a necessidade de vender a sua força de trabalho em troca de salário. Vejamos bem: aquele que tem a necessidade. Ou seja, o trabalhador não vende a sua força de trabalho porque quer. Ele a vende por que tem necessidade. Necessidades, melhor dizendo: o trabalhador precisa comprar comida, pagar a água e a casa. Além disso, todo ser humano tem desejos que podem e devem ser realizados.
As necessidades humanas – comida, água e abrigo – foram transformadas pelo capitalismo em armas contra os seres humanos. Para o capitalismo sobreviver ele precisa do trabalhador. Alguém cujas necessidades não são satisfeitas pela natureza porque a natureza lhes foi retirada. Como assim? Você não precisa trabalhar para outra pessoa para obter comida e água. Você precisa mesmo é de um pedaço de terra! Num pedaço de terra você pode plantar a sua comida e sabendo que ninguém é dono das águas você vai até o riacho e capta a água necessária para sua sobrevivência. É nesse pedaço de terra que você vai construir o seu abrigo, a sua casinha. Todas as possibilidades de satisfação dessas necessidades foram retiradas das pessoas. Por isso, as pessoas têm a necessidade de trabalhar, vender sua força de trabalho, para satisfazer necessidades primárias para a manutenção da vida.
Além das suas necessidades, os seres humanos têm desejos. Esses desejos que os humanos têm podem ser materiais ou imateriais. Em geral, desejos materiais são adquiridos por trocas de excedentes enquanto que os imateriais são realizados coletivamente. A satisfação desses desejos vêm pelo trabalho humano. Assim, ninguém trabalha porque tem uma vontade imensa de oferecer a sua força de trabalho para outro. Além do suprimento de nossas necessidades, nós trabalhamos para satisfazer nossos desejos. Sem o acesso à terra, resta-nos trabalhar para nossa satisfação. Porém, o que fazemos é trabalhar para satisfazer as necessidades e desejos de outros.
Depois de tudo isso, o que nos fica? A escola precisa ensinar desde cedo que: 1) no capitalismo não existem colaboradores e sim trabalhadores. Se alguém te chamar de colaborador entenda que você não é igual a ele, pois quem assim te chama é o mesmo que te explora e, portanto, vocês não podem colaborar numa mesma atividade. Você está sendo explorado com outro nome, perdendo direitos e dignidade. Você não está ganhando mais; você está perdendo mais. Colaborador não é elogio, é trapaça! 2) Cada um de nós precisa de um pedaço de terra; se não temos talento para a terra, precisamos conhecer a terra. Crianças e adolescentes precisam aprender a cuidar da terra em todos os sentidos: manter a água limpa, plantar a própria comida ou entender os processos de plantio, valorizar o pequeno agricultor e conhecer os seus embaraços. Comida não nasce no supermercado!
Para finalizar, não custa repetir: a cidade só terá sentido e vida se apoiar a luta pela Reforma Agrária. Reforma Agrária não é um assunto de camponeses, mas de todos!
Imagem de destaque: Daniela Moura / Fotos Públicas