Título de eleitor: a violência

Dalvit Greiner de Paula

A violência nunca foi critério de autoridade. Porém, o nosso medo de morrer, principalmente uma morte física brutal e desumana, nos faz obedecer. Nosso apego à vida – o que é correto, pois viver é bom! – muitas vezes nos faz obedecer o que não queremos, na medida em que acreditamos que a obediência é boa. Acreditamos que a obediência faz parte da ordem – e é verdade – e que a ordem é necessária a qualquer projeto. A questão está: qual projeto eu obedeço? É por acreditar na obediência que a política, muitas vezes, usa a violência como critério de autoridade (o que não é verdade).

O apego à vida e o medo da morte são usados por maus políticos como forma de vender proteção e buscar sua legitimidade pelo voto do eleitor. Ora, o Estado é o detentor do monopólio da violência justamente para conter a violência do homem contra o homem. Ou seja, num entendimento correto é: O Estado é o detentor do monopólio da violência para promover a paz e não para promover mais violência. Esse é o principal papel do Estado, pois se estamos todo o tempo preocupados com nossa segurança a gente para de trabalhar, de estudar, de construir as coisas boas da vida. O Estado deve promover a paz na Sociedade que o instituiu. E quanto mais paz na Sociedade, menos força militar, seja polícia ou qualquer força armada.

Porém, sabemos que não se promove a paz apenas com a guerra. É perfeitamente possível promover a paz por outros meios e sobre isso falaremos mais tarde. O que nos importa é que o Estado brasileiro – legítimo detentor do monopólio da força e que deve garantir a segurança dos cidadãos – faz de tudo para que a Sociedade esteja constantemente em guerra. O Estado brasileiro é o verdadeiro promotor da guerra civil em que vivemos e é essa situação que permite o surgimento do policial – civil ou militar – candidato a vereador, travestido de político.

Da mesma forma que falamos de uma bancada parlamentar que se apoia na fé religiosa que as pessoas possuem, a chamada Bancada da Bíblia, temos também a Bancada da Bala. Ou seja, uma frente parlamentar que se apoia no medo que as pessoas têm de morrer morte violenta e, assim, “vendem” ao eleitor uma ideia de segurança que não são capazes de promover porque pregam mais violência. São a favor de ideias que vão contra os Direitos Humanos como por exemplo redução da maioridade penal para 16 anos e armamento da população. Ou seja, buscam tirar o Estado do papel de garantidor da paz com uma estratégia muito simples: esvaziando a função dos policiais militares e das forças armadas e não propõem nada que não seja a promoção de mais violência.

Dentre os partidos políticos que participam dessa bancada os principais são o PSL – Partido Social Liberal, PR – Partido Republicano, PL – Partido Liberal, PSD – Partido Social Democrata, PP – Partido Progressista. Em geral, seus parlamentares e candidatos são policiais e ex-policiais, delegados e detetives da polícia civil, militares e ex-militares. Alguns ainda estão na ativa e licenciados de seus postos e cargos – o que aumenta o ônus para a população em função de um duplo salário. Outros são participantes de clubes de tiro e associações similares em ideias a estes partidos. Suas poucas propostas sociais são apenas para conservar privilégios de seus apaniguados e manter o nível de tensão e terror em que vivem a sociedade brasileira.

Nunca criam leis ou dão o suporte legal necessário para o combate ao crime organizado, porém, no seu contrário, criam leis e dão suporte a um arcabouço legal e policial que tem como alvo a população pobre e negra da periferia. Essa população jovem, negra e pobre que mora na periferia não é apenas alvo das operações policiais: é também alvo dos candidatos a vereadores que buscam discursar em seu favor. Assim, com essa contradição, querem uma sociedade que solucione seus próprios problemas e buscam “vender”, como disse anteriormente, uma falsa ideia de que a segurança é fundamental e o melhor é se armar.

Aproximadamente 20% dos candidatos a vereador em Belo Horizonte vêm dos partidos listados acima. Outros 20% vêm de partidos e ideias que se aproximam desses partidos. No momento da escolha preste bastante atenção nos seus candidatos. Mas, primeiro preste atenção em você: é o seu medo (de quê ou de quem) que move a sua escolha? Segundo: o que o seu candidato oferece? Uma proposta legal de paz para a Sociedade com muito suporte e promoção do Estado para o bem-estar de todos? Ou a promessa de armar o máximo de pessoas, direta ou indiretamente pelas empresas de segurança, para que vivamos numa terra de “cada um por si numa sociedade sem lei”.

Lembre-se sempre: o Estado não pode vender segurança. A segurança é um direito seu e um policial que se propõe candidato com promessa de armar a população vai contra o Estado e contra o seu Direito à Segurança. Ninguém pode te induzir a entender segurança como sinônimo de população armada por que está jogando com o seu medo. Quem o faz não merece a sua confiança, nem seu voto!


Imagem de destaque: Carolina Antunes / Palácio do Planalto

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