Sobre um DESpertar…

Janayna Alves Brejo

O Tema que iremos conversar hoje fala de algo muito íntimo, pois fala de quem somos, de quem queremos ser, sobre as mudanças necessárias para nos tornarmos pessoas melhores, pessoas que olham para além de seu próprio umbigo…

Dias atrás, eu estava ouvindo uma reportagem no jornal da manhã e fiquei chocada ao saber que o incidente se passou em um bairro próximo onde moro.  Ao ouvir o caso de violência desnecessária contra um sem-teto, me veio à mente a lembrança de outras pessoas que se encontravam na mesma situação…

No final da minha rua, existem dois restaurantes tradicionais, eles têm marquises onde alguns moradores de rua dormem todas as noites. Eu costumo passar por lá a pé, sempre bem cedo. Quando eles estão acordados, cumprimento-os, e recebo como resposta, calorosos “bons dias”. Digo calorosos, porque tenho a impressão de que eles recebem essa saudação com esse pensamento: “ela viu que estamos aqui, nos notou, pois somos seres humanos como ela”…

Penso que cumprimentá-los é uma questão de respeito às pessoas que são, independentemente de estarem em situação de rua.

Certa vez, achei até inusitado, passei distraída e não vi que estavam acordados… Daí a iniciativa veio deles: “Ei moça, bom dia”! Eu sorri e respondi: “bom dia, eu não tinha percebido que vocês estavam acordados”… Sorrimos então mutuamente, e eu segui meu caminho…

Sempre que retorno para casa, utilizo o mesmo itinerário, mas eles não estão mais lá, porque realmente fazem uso do local apenas para dormir… Acredito até que os responsáveis pelos restaurantes não se incomodam, pois percebo que os moradores de rua não deixam o ambiente bagunçado e nem sujo.

Voltando então ao episódio da reportagem, o sem-teto havia sofrido violência por parte das autoridades na esquina de uma rua, onde ele tinha feito de moradia. O jornal da manhã fez uma entrevista com o rapaz… Foi aí que fiquei admirada com a forma de falar daquela pessoa que estava ali, na rua, em situação tão vulnerável.

O rapaz disse que vende bombons nos semáforos, que trabalha como qualquer pessoa, apenas não tem emprego fixo, mas que busca por isso. Disse também que mora numa esquina debaixo de uma marquise, mas que tem o sonho de ainda conseguir pagar um aluguel. E completando afirmou: “sou ser humano como qualquer pessoa”.

Essa fala me tocou demais, pois parei para pensar se realmente estamos conscientes de que moradores de rua são mesmo seres humanos como nós somos…

Não dá mais para fechar os olhos e fingir que eles e muitas outras pessoas que estão em situação de vulnerabilidade não existem.  Se somos pessoas conscientes, temos que perceber e compreender que não é razoável vivermos olhando somente para o nosso próprio umbigo, não tem mais espaço para esse egocentrismo, para esse egoísmo.

Nós precisamos sim, aprender novos conceitos, ou seja, precisamos cultivar mais sensibilidade, mais paciência e mais compaixão dentro dos nossos corações por aqueles e aquelas que estão ao nosso redor, seja qual for a situação em que se encontrem.

Mesmo porque, se não nos comovermos diante de situações de violência, de falta de moradia, de pobreza extrema, onde iremos parar?

Infelizmente, muitas pessoas ainda vivem na ilusão, ou como diz o ditado popular “se a farinha é pouca, meu pirão primeiro”.  No entanto, a partir dessa reflexão que vocês fizeram comigo até aqui, eu os convido a trabalhar para que não sejamos mais assim, pois o mundo não precisa mais ser dos “espertos” mas sim dos “DESpertos”.

Despertos para olhar as pessoas à nossa volta com um olhar mais compassivo, buscando enxergar por trás do que elas aparentam ser…

É urgente permitir que as pessoas que estão à nossa volta sintam que não são invisíveis.

É imprescindível que nos importemos uns com os outros e que percebamos que não avançaremos enquanto humanidade se pensarmos somente em nós.

Temos, então, a oportunidade de quebrarmos a corrente da indiferença, de despertamos para a solidariedade, para a fraternidade, enfim, para a nossa verdadeira humanidade…


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