João C. R. Andrade*
Esse trabalho sugerido para leitura, Sentidos da Educação e projetos de Brasil: séculos XIX e XX, foi organizado pelas professoras Maria das Dores Daros (UFSC) e Elaine A. Teixeira Pereira (UDESC). É uma produção realizada entre 2016 e 2017 envolvendo algumas Universidades e vinculada ao Projeto “Pensar a Educação, Pensar o Brasil”, no Projeto de pesquisa “A Educação Nos Projetos De Brasil: espaço público, modernização e pensamento histórico e social brasileiro nos séculos XIX e XX”.
O livro busca analisar a construção de sentidos e projetos de Brasil durante os séculos XIX e XX a partir de diferentes documentos, memórias, aportes teóricos, e oportuniza uma compreensão dinâmica dos tempos e experiências, durante a construção daqueles processos, bem como as disputas nesses movimentos. Sentidos se constitui das seguintes partes: introdução, apresentação, nove artigos e, ao final, informações sobre os autores/as.
No artigo de Leonardo Gomes, Sidmar Meurer e Marcus Taborda, “A noção de Educação Social como possibilidade heurística para a pesquisa em História da Educação”, temos uma discussão acerca das potencialidades heurísticas do conceito de educação social, sobretudo, ao campo da história da educação brasileira. Sua potencialidade emerge ao proporcionar compreensões de processos educativos, e dos sentidos construídos acerca dos mesmos, para além dos processos escolarizantes.
Em a “Imprensa periódica e juventude no século XIX”, de Mônica Jinzenji, a autora busca compreender algumas dimensões das representações e fazeres juvenis, de modo particular durante o período imperial, sobretudo, após 1850, através de pesquisas em jornais da época. Essas fontes oportunizaram analisar as representações acerca da “mocidade”, as leituras juvenis e as práticas de escrita dos mesmos, durante aquela temporalidade histórica.
No trabalho de Gustavo Santos e Ilka Mesquita, “Os estudos Jurídicos da Faculdade de direito de São Paulo no ordenamento político do século XIX”, recorre-se a dimensões de memórias, estatutos, dissertações e teses daquele curso, buscando explicitar aspectos das potenciais relações entre uma cultura jurídica e cultura política no ordenamento político do século XIX. Aquelas relações emergiam, predominantemente, de ativismos vários, das variadas práticas acadêmicas na faculdade de direito de São Paulo à época e visavam, sobretudo, fundar uma certa modernidade à política brasileira.
O texto de Luzinete Santos e Ilka Mesquita, “No Brasil ninguém pode gabar-se: o país de cores de Bernardo Guimarães”, possibilita-nos entender as potencialidades da literatura, como objeto de análise ao campo da história da educação. No caso, analisa-se os repertórios, as estratégias de ação do autor de “Rosaura, a enjeitada” – processos estes potencializadores de uma certa identidade nacional e de um movimento de formação de sentidos de uma educação e projetos de país.
No artigo de Luísa Paula e Luciano Mendes, “Sob o olhar alheio: o intelectual e suas representações,” os autores, usando a autobiografia, trabalhos memorialísticos, biografias curtas e pequenos excertos de apresentação do jornalista Aurélio Pires, buscam situá-lo historicamente e problematizam aquelas construções, fundados na perspectiva das “representações instituídas” (Anísio Teixeira: a poesia da ação), analisando e problematizando as representações de intelectual e mestre, construídas a respeito de Aurélio Pires.
De autoria de Laísa santos, Luzianne Santos e Raylane Barreto temos “Sobre a modernidade pedagógica dos grupos escolares sergipanos: o que revelam as memórias de professores (1920-1949). Nesse trabalho, as “representações narradas” dos diversos alunos/professores entrevistados e as análises documentais acerca dos grupos escolares, oportunizam analisar a diversidade, e mesmo as contradições acerca dos múltiplos sentidos que emergem daquelas instituições escolares, por vezes, não atendendo aos ideários republicanos dos planejadores à época.
No texto de Maryluze Siqueira e Raylane Barreto, “Formação de professores e o projeto de modernização do rural em Sergipe (1940 – 1950)”, as autoras, analisando documentos de variadas naturezas, a partir do conceito de repertório, buscam compreender algumas ações realizadas por variados agentes públicos, visando a formação de professores às singularidades da educação rural, almejando sua modernização.
O artigo de Elaine Pereira, Tatiane Modesti e Maria Daros, “Educação e modernização: projetos para o meio rural em circulação no Brasil da década de 1950”, é fundado no conceito de repertório cultural e analisa aspectos da modernização educacional para o meio rural que circularam no Brasil. Analisou-se dois artigos da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (RBEP) e encontros internacionais da educação rural, explicitando os projetos de modernização educativa para o meio rural, que circulam pelo Brasil, atentando-se a seus limites e potencialidades.
No trabalho de Letícia Wiggers e Elison Paim, “Memórias do fazer-se professor da educação profissional no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC)”, se analisam as experiências, na perspectiva thompsoniana, que emergem das memórias dos docentes, além de documentos escritos de várias naturezas. Atenta-se às dimensões processuais experienciadas no cotidiano dos profissionais a partir de suas múltiplas relações, proporcionadoras do fazer-se professores.
Boa Leitura de,
Sentidos da Educação e Projetos de Brasil, Séculos XIX e XX. Organizado por Maria das Dores Daros (UFSC) e Elaine A. Teixeira Pereira (UDESC). O livro faz parte da Coleção Pensar a Educação, Série Estudos Históricos.
* João C. R. Andrade é professor de história com a EJA/Betim/M.G, Mestre em Educação pela FAE/UEMG e integra o grupo de pesquisa Polismnemosine /PPGE/FAE/UEMG. É colaborador do Projeto Pensar a Educação, Pensar o Brasil.