Ao se iniciar esta reflexão evidencia-se a aplicabilidade da fala de Mário Sérgio Cortella, quando ele afirma que o conhecimento serve para encantar as pessoas e não humilhá-las. Antropologicamente, “estereótipo” é um conceito infundado, frequentemente depreciativo: uma imagem preconcebida e sem fundamento de determinada coisa, pessoa, grupo ou situação. Estereótipos são utilizados principalmente para definir e limitar ações pessoais e sociais. Sua aceitação é amplamente difundida motivando, às vezes, desconforto, discriminação, dor, homofobia, intolerância religiosa, machismo, preconceito, racismo e xenofobia. Ribeirão das Neves, Minas Gerais, por vezes é alvo de preconceitos, quando a caracterizam com os estereótipos de “cidade dormitório”, “cidade presídio” ou adjetivos como “periferia”.
Recentemente o município foi denominado pejorativamente como “Ribeirão das Trevas”, numa publicação do Diário Oficial de MG datada de 07/09/2013. Estas questões ferem o povo nevense, sendo necessária uma contextualização histórico-geográfica que caracterize a formação desses estereótipos, desconstruindo-os no imaginário popular. Faz-se necessário, com base em elementos históricos, mencionar e desconstruir o estereótipo de cidade pobre, marginalizada e periférica conforme Neves é popularmente conhecida. Somente assim será possível a construção de um novo caráter identidário que permita a identificação de potencialidades locais e a construção de novos paradigmas e possibilidades. Ribeirão das Neves se orgulha de seu nome, de seu povo e de sua história.
As primeiras referências do passado sobre as terras nas quais se insere o município datam do início do século XVIII, com a consolidação da Capela Rural de Nossa Senhora das Neves em 1747, mas seu crescimento somente impulsionou-se após a implantação em 1938, da Penitenciária Agrícola. Historicamente, o município passou a ser nacionalmente conhecido pelos seis presídios inseridos em seu território municipal. Lamentavelmente, com o contexto de industrialização e urbanização consolidado a partir do século XX, parte das paisagens naturais e rurais da região de Ribeirão das Neves foram esfaceladas com a proliferação clandestina de loteamentos destinados a abrigar no período noturno, centenas de pessoas que trabalhavam fora, gerando degradação, exclusão e alienação. Dentro desta perspectiva, Neves se inseriu por muito tempo como uma cidade considerada “dormitório”, pois a maior parte de seus moradores trabalhava na capital mineira ou nos municípios vizinhos. Apesar de esta realidade estar em mudança com novas perspectivas econômicas no município, a população nas últimas décadas cresceu muito. Isso fez de Ribeirão das Neves, o 7º colocado em população do estado de Minas Gerais, ficando atrás apenas de Belo Horizonte, Uberlândia, Contagem, Juiz de Fora, Betim e Montes Claros e apresentando a 67º colocação nacional, estando à frente de capitais como Vitória (ES), Rio Branco (AC), Boa Vista (RR) e Palmas (TO) ede outros municípios mineiros bastante populosos, como Santa Luzia, Ibirité, Sabará e Vespasiano. Culturalmente, há acontecimentos que inserem a cidade de Neves no cenário cultural nacional, em decorrência dos nascimentos do jogador de futebol Wilson Piaza (25/02/1943) e do cartunista Henfil (05/02/1944). Historicamente, o município agrega potencialidades para a promoção e consolidação dos turismos ecológico, prisional, rural e pedagógico, esperando-se assim novas perspectivas. Considerando que a atividade turística contribui para o desenvolvimento ambiental, social, cultural e econômico, os estereótipos de “cidade dormitório”, “cidade presídio” ou “periferia” estão com os dias contatos com o surgmento de novas possibilidades. Identificar tempos e espaços camponeses que se legitimam em meio à conurbação metropolitana e processos correlacionados evidencia a existência de paisagens, modos de ser e estar, saberes e fazeres que potencializam atividades específicas do turismo rural e ecológico, bem como o pedagógico. Isso traz à tona novas perspectivas de geração de renda, novos postos de trabalho e novos modelos socioeconômicos.
Assim é preciso inventariar e consolidar o turismo ecológico e rural, com diferentes destinos turísticos municipais. Neste sentido, faz-se necessário criar itinerários educativos com ênfase na abordagem técnica e pedagógica das realidades e identidades locais, tendo as bacias dos Ribeirões Areias e Neves, afluentes do Rio das Velhas e do São Francisco, como recortes espaciais para compreensão da relação homem/natureza através da contemplação e análise do mosaico de paisagens urbanas e rurais nelas inseridos. Diante de seu contexto histórico, Ribeirão das Neves se consolida como um laboratório de ecologia urbana, sendo a roteirização pedagógica uma proposta que contribui teórica e metodologicamente para o estudo do meio atendendo interdisciplinarmente disciplinas como Ciências Biológicas, Geografia e Históriana qual estudantes da educação básica, da educação de jovens e adultos, do ensino técnico-profissionalizante e do ensino superior estudariam in loco conteúdos atuais como Ecologia Aplicada, Espaço Geográfico e Processos Espaciais, Meio Ambientee Urbanidade, Organização dos Espaços Urbano e Rural, População e Dinâmicas Demográficas, dentre outras possibilidades pedagógicas. É neste contexto de desenvolvimento sustentável que Ribeirão das Neves se prepara através de ações concretas de proteção do meio ambiente, redução da pobreza e das desigualdades sociais tornando a cidade boa para aqueles que nela vivem e todos que a visitarem.
Imagem de destaque: Igreja Nossa senhora das Neves. Foto: Arquidiocese de Belo Horizonte
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