Marielle Costa (IBRAM)
Martha Marandino (FEUSP)
Pesquisa busca caracterizar o perfil desses profissionais para fundamentar a Política Nacional de Educação Museal/PNEM
Ao longo de mais de 100 anos de desenvolvimento da Educação Museal no Brasil, é muito perceptível a evolução das práticas, metodologias e demais processos que tocam os aspectos educativos dos museus. As discussões sobre a prática educativa, sobre as condições para a sua realização, sobre a formação e profissionalização dos educadores e sobre o tratamento dado ao trabalho educativo pelas instituições, geraram diversas reflexões e proposições. Esse movimento vem dando forma e estabelecendo as especificidades da educação museal como campo do conhecimento, abordagem pedagógica, atuação profissional e perspectiva política na esfera da memória.
Um dos aspectos decisivos para isto é a grande mobilização dos profissionais museais pela qualificação da função educativa dos museus. De tão potente, deu origem à Política Nacional de Educação Museal – PNEM e estimulou a criação de novas Redes de Educadores em Museus, a exemplo da organização que já atuava no Rio de Janeiro (RJ) desde 2003. Também fortaleceu a atuação desses grupos e seus vínculos internos.
Mas para uma transformação mais profunda da realidade, é importante que os anseios e reivindicações da sociedade ressoem na atuação do poder público. Cabe aos órgãos formuladores de políticas públicas ter sensibilidade e gerar mecanismos de escuta para perceber, compreender e priorizar as diversas demandas que chegam a eles. Sem, contudo, levar em conta as condições estruturais do Estado para a viabilização de respostas para o atendimento do interesse público. Exercendo esse papel, o Instituto Brasileiro de Museus – Ibram, assumiu a interlocução com a sociedade civil organizada, com museus, instituições culturais e universidades, e passou a conduzir o processo que deu origem à Política Nacional de Educação Museal.
A implementação da PNEM gerou desdobramentos nos âmbitos das práticas, das pesquisas e das políticas culturais e educacionais do país, mas ainda é necessário dados mais robustos sobre a realidade deste campo. De fato, o planejamento estratégico da implementação e acompanhamento da PNEM evidenciou a falta de um diagnóstico sobre as condições de realização das práticas educativas em museus e processos museais no Brasil e a necessidade crescente de levantamento de dados específicos sobre Educação Museal. Este panorama não permitiu, até o momento, o estabelecimento de parâmetros para verificação do impacto, nem da adesão dos profissionais e instituições às proposições da PNEM, apesar dos esforços empreendidos nesse sentido.
Em 2010, a Coordenação de Museologia Social e Educação – Comuse, do Departamento de Processos Museais – DPMUS do Ibram realizou uma pesquisa dirigida aos educadores dos museus integrantes do Ibram, presentes em apenas 9 dos 27 estados (Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina) e em 4 das 5 regiões do país. O propósito foi conhecer a organização dos educativos dos museus que tiveram sua gestão atribuída ao recém criado Instituto e a análise dos dados obtidos foi apresentada no 1º Encontro de Educadores do Ibram, ocorrido no Museu Imperial/Ibram, entre junho e julho de 2010. Essa foi a ocasião seminal da construção da PNEM, pois os resultados da Pesquisa e das discussões que ocorreram nesse Encontro, registrados na Carta de Petrópolis, foram os subsídios tomados para elaboração de uma política para o campo.
Dados de cunho genérico, tais como a existência ou não de setor educativo em museus brasileiros foram obtidos e divulgados em 2011 na publicação Museus em Números – Volumes 1 e 2. Além disso, em 2014, o Ibram realizou a Pesquisa Anual de Museus – PAM, primeira ação de monitoramento do Plano Nacional Setorial de Museus – PNSM, instrumento de implementação da Política Nacional de Museus, de planejamento e projeção de agenda para o campo museológico, elaborado de forma participativa durante o 4º Fórum Nacional de Museus.
Em 2019 o Ibram fez uma nova consulta ao campo, atendo-se à observação de aspectos que expressam as condições de desenvolvimento da função educativa nos museus que o integram. Os resultados apontam a necessidade generalizada de melhorias relativas à gestão, distribuição de recursos humanos e orçamentários, capacitação e autonomia para os profissionais de Educação Museal, criação de mecanismos estruturantes para o desenvolvimento de ações educativas, comunicação das ações, e à integração de agentes diversos da sociedade na realização da função educativa nos museus.
Neste momento está em curso a aplicação e análise da Pesquisa Educação Museal Brasil – PEM Brasil, realizada em cooperação com a Universidade Federal da Bahia– UFBA e a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia– UFRB, por meio do Observatório de Economia Criativa da Bahia, integrado por pesquisadoras e pesquisadores de ambas universidades. O alinhamento conceitual desenvolvido pela equipe da PEM Brasil é uma das etapas do produto 1, o “Desenho Avaliativo”. Um dos instrumentos para esse alinhamento foi a realização de entrevistas semiestruturadas com agentes diversos do campo da educação museal: educadores, articuladores, pesquisadores, técnicos, perguntando como estes vêem o panorama atual da educação museal no Brasil; quais as expectativas que têm sobre a realização de uma pesquisa nacional com esse tema e; que sugestões teriam para a difusão da pesquisa e de seus resultados.
A PEM busca responder perguntas e expectativas, já que se trata da primeira pesquisa nacional sobre práticas em educação museal. Ela permitirá orientar o trabalho e gerar subsídios para que a PNEM seja realizada e adequada à realidade, por meio da produção de indicadores para um acompanhamento do trabalho desenvolvido em Educação Museal. Há a previsão da produção de séries históricas, de um banco de dados amplamente acessível e de análises sobre os mesmos.
Recentemente, em agosto de 2022, e após um longo período de debates, formulou-se a nova definição de museus. A comunidade internacional que forma o Conselho Internacional de Museus/ICOM buscou uma nova concepção para identificar essas instituições, a partir das demandas do século XXI.
“Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade, que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o patrimônio material e imaterial. Os museus, abertos ao público, acessíveis e inclusivos, fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Os museus funcionam e comunicam ética, profissionalmente e, com a participação das comunidades, proporcionam experiências diversas para educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimento”.
Neste novo momento dos museus, os educadores museais no Brasil têm o enorme desafio de atuar, promover e se envolver na educação museal de forma ética, a partir dos princípios da inclusão, da diversidade, da sustentabilidade, da participação das comunidades e da reflexão e partilha de conhecimentos. Os dados da PEM serão, desse modo, fundamentais para que esses princípios possam ser fomentados.
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