No Cristianismo a figura do pai tem uma importância fundamental. O lugar de destaque que o catolicismo dá aos padres em detrimento das madres é representativo da assimetria de poder em relação a gênero dentro da visão de mundo que prega. Deus é literalmente “Deus Pai” e não “Deus Mãe”, de acordo com os textos canônicos dessa tradição.
No caso chinês, Confúcio, que produziu há 2.500 anos atrás e desde então nunca deixou de ser lido e relido pelos habitantes do Leste Asiático, também dá um lugar central para o pai em sua visão de mundo. A Piedade Filial é um dos pontos mais importantes de seu pensamento, indicando que os filhos devem ser gratos a seus pais e obedecê-los irrestritamente em nome da ordem do mundo. A relação entre governantes e governados é também pensada a partir dessa relação. O universo político deve ser entendido como uma extensão da natural relação entre pais e filhos, respeitado a assimetria original em que essas relações se estabelecem: os que chegam devem ser gratos aos que aqui já estavam, pois acumularam a cultura e a organização da qual irão desfrutar e manter.
No século XIX europeu, momento em que os modos de ser desse continente se espraiam em escala global via imperialismo, o pai adquire um lugar importantíssimo no modelo de família nuclear burguês. Modelo apoiado pela maioria dos pensadores contratualistas do Iluminismo, o mundo público é a arena habitada pelos homens, pais de família, que lutam por garantir a riqueza da família e da nação enquanto se espera que a esposa fique contida no ambiente doméstico garantido a constituição de uma população saudável para a construção do futuro da nação.
No início do século XX, Sigmund Freud lança sua teoria do inconsciente e junto com ela a célebre frase: “o pai já não é senhor em sua própria casa”. A consciência, a certeza masculina, que se ancorava há séculos no discurso racional, estava ameaçada pela presença inquietante e poderosa do inconsciente, algo que tendia a ser localizado exclusivamente nas mulheres.
Na metade do século XX, Jacques Lacan procura aprofundar as considerações freudianas sobre o inconsciente, o lugar do masculino e do feminino na cultura e, consequentemente, sobre o que é ser um pai ou uma mãe. Chega ao conceito de “função paterna”, desconectando atitudes e insígnias da paternidade do gênero que o deu suporte ao longo de séculos: o gênero masculino.
Seria um engano tremendo achar que essas concepções se sucedem uma à outra, em termos de eliminação da ideia anterior e substituição pela mais recente. Vivemos em meio a todas essas concepções que circulam concomitantemente umas com as outras em nosso contexto histórico atual. E meio a essas citadas somem-se outras que nos limites desse breve artigo não puderam ser mencionadas, mas que igualmente inflacionam a polissemia do conceito de pai e paternidade com o qual lidamos cotidianamente. Portanto, a pergunta segue sendo pertinente de ser feita: que Pai é o Pai celebrado no Dia dos Pais? Ou que Pai queremos celebrar, para além da meia, da cueca, da gravata ou do lenço de presente…
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