A palavra “protagonista”, de origem grega, significa “o competidor mais importante”. Passou para nosso idioma em sentido figurado, designando o personagem principal de uma encenação teatral. Por extensão, também designa todo sujeito que exerce uma função de destaque em qualquer campo ou atividade humana.
Na educação, a atribuição de protagonismo aos sujeitos varia conforme as concepções pedagógicas. Na pedagogia tradicional, por exemplo, o professor é o centro do processo educativo, hierarquicamente acima dos estudantes, e estes devem submeter-se totalmente à sua autoridade, através de uma metodologia de exposição e cópia. Ou seja, o protagonismo é dos educadores e os estudantes são meros coadjuvantes.
Já na pedagogia nova, que se desenvolveu no início do século XX na Europa e chegou ao Brasil pouco depois, invertem-se os papéis: o estudante torna-se o centro do processo educativo, fazendo do professor o coadjuvante, à disposição das vontades, interesses e necessidades imediatas dos educandos.
As correntes da pedagogia tecnicista, por sua vez, ao propor uma educação controlada, na qual ao docente cabe reproduzir os ditames do sistema e aos educandos não cabe mais que uma posição de adequação ao seu lugar de classe, podemos dizer que não há protagonismo de nenhum dos dois, nem educandos, nem educadores.
Outras propostas pedagógicas buscaram equacionar este problema. A pedagogia crítica de Paulo Freire, por exemplo, se inspira na pedagogia nova, ao colocar o educando como protagonista de seu processo de ensino, mas se diferencia dela ao considerar o papel central do professor: mediar a relação entre educando, palavra e mundo. Além disso, o educador é, junto com o estudante, um educando: aprende enquanto ensina e ensina enquanto aprende.
A pedagogia histórico-crítica reconhece o papel central do conhecimento elaborado pela humanidade como conteúdo a ser ensinado na escola básica. Para isso, o professor exerce o papel central de mediador entre o conhecimento, a realidade social e os educandos. Estes, por sua vez, devem ser considerados em sua realidade, de modo que o processo de apropriação do conhecimento contribua com a construção de sua autonomia como sujeitos no mundo.
Seja qual for a corrente pedagógica em questão, a ideia de que educandos e educadores são sujeitos do processo educativo é uma constatação que já não admite ser deixada de lado. Por isso, ao pensar a educação fundamental, entendemos que o protagonismo dos sujeitos é, ao mesmo tempo, condição para seu desenvolvimento, objetivo a ser alcançado com a prática pedagógica e direito de aprendizagem.
Por um lado, o protagonismo é condição porque não existe aprendizagem sem que os sujeitos se engajem diretamente no processo. Se a aprendizagem é uma relação entre sujeito que aprende (educando), sujeito que ensina (educador) e conteúdo ensinado, a aprendizagem efetiva não pode se dar sem considerar a construção progressiva da autonomia. Esta, por sua vez, deve ser forjada a partir da própria autonomia dos educadores em promovê-la, em sala de aula e fora dela.
Daí o desafio da escola em forjar o interesse dos educandos visando engajá-los no processo de ensino, para atingir sua aprendizagem. Se o estudante não for considerado protagonista do processo, dificilmente a escola vai promover um ensino integral, capaz de gerar aprendizagens significativas. Da mesma forma, se nós educadores não assumirmos nosso papel de protagonistas, não poderemos oferecer uma educação de qualidade.
Ao mesmo tempo, o protagonismo é objetivo porque cabe à escola favorecer a construção de uma autonomia cada vez maior nos educandos, de modo que a apropriação dos conhecimentos contribua para seu amadurecimento humano, sua capacidade de participar de decisões, dentro e fora da escola, com respeito aos princípios básicos da democracia. É objetivo porque sua prática efetiva por parte dos educadores contribuirá para que tenhamos cada vez mais autonomia e responsabilidade diante de nosso trabalho.
Por fim, o protagonismo é direito de aprendizagem dos educandos uma vez que os conteúdos a serem trabalhados na escola permitem aos sujeitos participar de modo crítico da vida em sociedade. Em uma democracia, só podemos participar das decisões como sujeitos. Logo, é direito de todo cidadão protagonizar a vida social. E a escola contribui para isso quanto cumpre sua função social.
Com efeito, nos perguntamos: se o protagonismo é uma condição, direito e objetivo de aprendizagem, como construí-lo cotidianamente na escola? Não se trata apenas de criar uma grêmio estudantil como instância separada de ação dos alunos, e esperar que ali se forje a autonomia dos educandos, sua capacidade de opinar e participar de decisões, seu senso crítico diante da realidade. Tampouco significa uma total falta de critérios, objetivos e atribuições aos educadores, de modo que seu trabalho seja fruto de uma autonomia absoluta que não existe. Nesse sentido, cabe a reflexão: quais são os espaços de protagonismo que não podem ser desconsiderados dentro da escola?
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