Protagonismo dos estudantes: entre o individualismo e o empoderamento? – Roberto Rafael Dias da Silva

Protagonismo dos estudantes: entre o individualismo e o empoderamento?

Roberto Rafael Dias da Silva

Durante a segunda metade do século XX, nas teorias pedagógicas, estabeleceu-se como consenso que as práticas pedagógicas progressivistas seriam aquelas que considerassem as condições culturais dos estudantes e desenvolvessem seu protagonismo. Protagonismo, naquele momento, representava a formação de um sujeito em condições de intervir livre e autonomamente no mundo social. Em muito inspirado nos aportes das pedagogias iluministas – vale lembrar da maioridade kantiana como exemplo significativo -, o campo educacional traçava como horizonte formativo a composição de um sujeito autônomo – livre e esclarecido.

Atualmente, essa busca pelo protagonismo tem adquirido novos delineamentos e, inclusive, sendo reposicionada no interior de uma nova gramática educativa, com relações mais estreitas com as demandas do mundo da economia. Alguns estudos têm nos mostrado que os discursos sobre o protagonismo juvenil, tal como esboçam-se em nosso tempo, incorporam novas demandas voltadas à filantropia e à promoção de práticas de intervenção individualistas. Explicamos: na medida em que o Estado torna-se cada vez mais “mínimo” nas suas formas de governar, há um discurso que interpela os indivíduos a agirem por si mesmos no mundo social, produzindo soluções e privatizando as responsabilidades coletivas. Zygmunt Bauman, importante sociólogo, expõe que as formas de representação política entraram em declínio, parecendo emergir formas individualizantes de intervenção, geralmente indicadas na formulação “conte com seus próprios recursos!”

Na leitura que estamos propondo para este momento, então, sugerimos uma cautela no uso pedagógico desta importante noção. Regina Souza, estudiosa do tema, afirma que o problema dessa forma de protagonismo juvenil é que se instaura um modelo de participação política ancorado nas “atividades”, o que pode reduzir o campo formativo dos estudantes. Ao mesmo tempo, explica-nos que, nas condições de um “ativismo privado”, corremos o risco de apregoar modelos que tomem os jovens como objetos da política e não sujeitos das políticas mobilizadas em seus possíveis contextos de ação.

Ampliando essa linha de raciocínio, podemos reconhecer como esses novos contornos do protagonismo juvenil articulam-se com as demandas do capitalismo neoliberal. Conseguiríamos facilmente listar um enorme grupo de empresas, grupos econômicos ou organizações não-governamentais que investem fortemente em temáticas como empreendedorismo juvenil, resiliência, desenvolvimento de capacitações, oficinas de educação financeira nas escolas, etc. Sempre coloca-se como alvo privilegiado os estudantes, dimensionando que os jovens necessitam realizar investimentos em sua vida pessoal e profissional, mantendo-se ativos (e competitivos) nas tramas do mercado. No limite, reduz-se o protagonismo juvenil ao campo da liberdade de escolha dos estudantes, associada à busca por constituir-se como seu próprio “centro de referência”.

Como abordamos ao longo deste breve texto, está em curso um significativo deslocamento discursivo em torno dos sentidos políticos referentes à formação de estudantes protagonistas. Constata-se a emergência de pautas pedagógicas individualistas e individualizantes, atrelando a escolarização juvenil às voláteis demandas do mundo empresarial e fazendo da juventude um objeto destas intervenções políticas. Como professores, interessa-nos interrogar: podemos esgotar nossas formas de trabalho pedagógico nestas condições esboçadas na Contemporaneidade? Acreditamos, de maneira otimista, que nosso papel adquire intensa potencialidade política na medida em que possamos demarcar outras formas de reflexão, menos centradas no indivíduo e nas condições meritocráticas. Apostar em formas democráticas que revitalizem a escola enquanto arena pública, que visem uma formação humana desencadeadora de empoderamento e formas subjetivas alternativas e que, enfim, potencializem sentidos de protagonismo juvenil mais cooperativos e críticos.

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