Por Luciano Mendes de Faria Filho
Há quase 72 horas a página do CNPq está fora do ar. E, o pior, é que não há nenhuma explicação pública sobre o que está acontecendo. Os problemas criados pela queda da maior plataforma de currículo do mundo são tão variados quanto grandes e de difícil dimensionamento. Uma busca pela rede mundial de computadores mostra, a partir das reclamações dos pesquisadores e alunos, alguns destes problemas, que vão deste a dificuldade de gerar e imprimir o Currículo Lattes, critério de seleção em muitos programas de pós-graduação e de muitos concursos públicos de acesso à carreira de ensino superior, dentre outros.
Pelo que o blog apurou, não houve nenhum problema intempestivo, como ataques de hackers, assim como não foi uma manutenção programada. O que está acontecendo parece ser o resultado de um investimento abaixo do necessário em tecnologia e em serviços de manutenção. Há anos a comunidade científica e, algumas vezes, o próprio Conselho Deliberativo do órgão vêm denunciando que o investimento na infraestrutura tecnológica e de pessoal do CNPq está muito aquém das grandes e diversas responsabilidades que lhe foram confiadas ao longo das últimas décadas.
De outra parte, parece estar ocorrendo também uma dificuldade de atual Direção do órgão em fazer a transição de uma situação que já erra ruim no governo Dilma, para outra muito pior sob o governo Temer. Os diversos contatos, extremamente amigáveis como já se registrou aqui, da comunidade científica com o novo Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação não parecem ter resultado em ações efetivas de restabelecimento de recursos para o CNPq.
Resultado do Universal 2016
De acordo com informações obtidas pelo Blog junto à área técnica do CNPq, há uma decisão da Diretoria Executiva do órgão de somente publicar os resultado do Edital Universal 2016 depois que forem pagos os projetos aprovados no Edital Universal de 2014, já que no ano passado o Edital não foi publicado. O Edital Universal 2016 prevê o investimento de 200 milhões de Reais em projetos de pesquisa cientifica em todas as áreas do conhecimento. As inscrições se encerraram em fevereiro e o resultado deveria ter sido publicado em julho, conforme estabelecido no texto do próprio edital.
Como se sabe, parte significativa dos recursos do FNDCT que deveriam ir para o CNPq financiar programas e projetos de pesquisa foram direcionados, pelo governo anterior, para o custeio do Programa Ciências Sem Fronteiras, contrariando o que foi prometido inicialmente pela Presidenta Dilma. Os cortes e contingenciamentos dos recursos do MCTI e do CNPq agravaram ainda mais a situação já difícil do órgão. Na atual conjuntura política e econômica do país não parece que teremos solução para os problemas estruturais do CNPq em curto prazo, o que pode comprometer ainda mais as políticas e ações de Ciência e Tecnologia no país,
Se não houver uma maior mobilização da comunidade científica em defesa do CNPq, corremos o risco de, num futuro próximo, termos mais do que a página do CNPq fora do ar. E, certamente, como já foi demonstrado na manutenção da (con)fusão do MCTI como Ministério das Comunicações, não bastarão abaixo-assinados e pequenas manifestações em nossas universidades, por mais que isso seja importante.