Por uma educação cívica para a cidadania

Wojciech Andrzej Kulesza

Todo Sete de Setembro, as escolas se mobilizam para desfiles cívicos em praças públicas. As crianças arrumadas, apertadas em seus uniformes, prontas para passar orgulhosas na avenida. Os soldados são sua inspiração materializada nas fardas e insígnias dos colégios e embalada pela disciplina enquadrada no rufar dos tambores. Os jovens aproveitam o momento para festejar. Animados pela fanfarra, entoam gritos de guerra, perfazem acrobacias equilibrando balizas e desfraldando estandartes coloridos.

Este ano de 2022, quando se comemoram os 200 anos de nossa independência, o governo federal tentou politizar o desfile, como se este representasse um movimento de seus apoiadores, tendo em vista a disputa eleitoral. A festa se encolheu. O medo arrefeceu a alegria. Ao invés de reforçar a nacionalidade, a comunhão da escola com a nação brasileira, o que se viu foi uma decepção geral, um desencanto com as instituições, com as autoridades, fazendo estremecer quaisquer convicções cívicas.

Somente as chamadas escolas cívico-militares, idealizadas e promovidas pelo governo, cumpriram com sua missão: desfilaram como batalhões de soldados prestes a enfrentar uma guerra de verdade iminente. Deixaram as evoluções rigorosas do exército nazista para trás! Isso porque essas escolas, ao inculcarem valores e comportamentos em crianças e jovens que ainda não atingiram um desenvolvimento mental adequado para os receber com autonomia, impõem de forma autoritária um rigoroso adestramento.

Como toda festa bem-sucedida, o Sete de Setembro provocava um bem-estar, sensações positivas para viver, um certo relaxamento. Tanto é que, devido à sua proximidade com o fim do inverno e começo da primavera, depois do desfile as pessoas desfrutavam um feriado de lazer, ideal para quem se sente bem consigo e com seu país.  Afinal, esse era o sentido pedagógico da comemoração: afirmar a nacionalidade, a cidadania, a brasilidade, congregando a todos, todas e todes, para fazer valer um destino comum.

Porém, neste ano, a comemoração frustrada deixou um sabor amargo, povoou de incertezas as cabeças das gentes. A tentativa de usurpar nosso verde e amarelo, identificando-o com o partido do governo, mexeu com os ânimos do povo, provocou abalos, brigas e até mortes. A radicalização, assim estabelecida, transformou as eleições num momento de decisão sobre o futuro do país. Impelido pelo novo grito do Ipiranga, “democracia ou morte”, o povo correu maciçamente às urnas para derrotar o fascismo verde-amarelo.

Todavia, proclamados os resultados, os apoiadores do governo não querem reconhecer a derrota, manifestando seu desagrado, ameaçando com paralisações. Escudando-se no verde e amarelo, querem que prevaleça a minoria, rasgam a Constituição e exibem publicamente sua disposição antidemocrática, assediando e provocando, quando não agredindo fisicamente os passantes. Movimentando-se em torno de quartéis, que julgam estarem ao seu lado nessa reivindicação, contam com a tolerância do governo derrotado.

Aproveitando-se do clima instaurado pela proximidade do Campeonato Mundial de Futebol, insistem em colar as cores do uniforme canarinho em seus cartazes e faixas golpistas, depositando agora suas esperanças nas quatro linhas dos gramados. Quiçá queiram conspurcar nossa data cívica próxima de 15 de novembro, esta sim apropriada para se pôr o bloco verde-amarelo na rua a comemorar a República. Terão a coragem de macular o dia de nosso “pendão da esperança”, “pavilhão da justiça e do amor”?

Só nos resta torcer para que chegue logo o primeiro dia de janeiro de 2023, quando tomará posse o novo governo, e que possamos restabelecer, nas ruas, o sadio nacionalismo evocado nos versos que Olavo Bilac, dirigindo-se aos jovens, dedicou à bandeira brasileira:

Contemplando o teu vulto sagrado
Compreendemos o nosso dever
E o Brasil por seus filhos amado
Poderoso e feliz há de ser

Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil
Querido símbolo da terra
Da amada terra do Brasil!


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