Educação e Política: O momento pede combate aos criminosos e defesa da civilidade

Aurélio Ferreira
Rudá Ricci

No Brasil dos últimos anos, especialmente desde o segundo semestre de 2016, cresceu o número de desempregados, de desalojados, de desalentados, de pessoas desassistidas no acesso à saúde, à educação, à habitação e despossuídas de condições básicas para a sobrevivência. Foi também o momento em que pessoas embrutecidas passaram a dominar as tomadas de decisões mais importantes sobre o destino das políticas públicas e dos investimentos do capital financeiro. A dureza e crueza da vida cotidiana brasileira passou a determinar tanto ações corriqueiras do dia a dia, o que se deu através de comportamentos violentos em muitas dimensões, frente a diversos grupos sociais e uso de termos chulos, toscos, bizarros, quanto aquelas ações que impactaram e continuam impactando situações abrangentes, de âmbito nacional e internacional. Passamos a vivenciar a banalização da violência, da morte e um forte desprezo à vida.

Tais comportamentos não são fruto da aleatoriedade. Tais modos de agir são uma expertise adquirida com o claro objetivo de enfrentar e eliminar qualquer oponente. A intenção é dominar pelo medo. Daí a necessidade, aos olhos dessas pessoas, de atacar instituições estatais, instituições civis e pessoas que sempre tiveram importância preponderante no processo de inclusão e de transformação das vidas das pessoas mais fragilizadas.

Instituições como o SUS, as universidades federais e estaduais, institutos de Pesquisa como o IBGE, Fiocruz, institutos federais de ensino, apenas para citar algumas das instituições públicas e todos os tipos de ataques às ciências e à Educação, que levaram aos maiores cortes financeiros das principais instituições que poderiam, inclusive, mostrar caminhos produtivos e transformadores, para o enfrentamento de tantas outras crises pelas quais passam nosso País.

Quais os resultados dessa desenfreada condução?

Total de mortes pela COVID-19, de acordo o Ministério da Saúde: 688.395 mortes registradas até o dia 07 de novembro de 2022. Desse total, de acordo com apontamentos e análises científicas, aproximadamente 400 mil mortes poderiam ter sido evitadas, se as vacinas tivessem sido adquiridas na época em que foram oferecidas ao governo federal; se houvesse planejamento e coordenação das ações entre os governos federal, estaduais e municipais; ações conjuntas e bem coordenadas entre todos os órgãos da saúde e demais órgãos oficiais na criação e na manutenção de ações destinadas a proteger as pessoas com uso de máscaras, álcool, distanciamento e demais medidas de combate à expansão do vírus.

Os condutores das políticas de combate à COVID-19 são os mesmos que conduzem também as políticas para a criação e geração de emprego e renda. Em dados do IBGE, divulgados em 12 de outubro deste ano, mostram que o número de desempregados é de aproximadamente 9,5 milhões de pessoas; pessoas que desistiram de procurar emprego porque não têm condições de fazê-lo, são de aproximadamente 5 milhões de pessoas, enquanto outras 86 milhões de pessoas trabalham na informalidade.

Passados 3 anos e mais de 11 meses de governo, o povo brasileiro já soma mais de 113 milhões de pessoas em insegurança alimentar e 33 milhões de famintos, e não foi apresentado nenhum projeto, minimamente consistente, por parte do governo federal, com objetivo claro de enfrentar a pobreza, que pudesse transformar a vida das pessoas mais necessitadas. Em vez disso, os mais pobres foram obrigados a comprar ossos para fazer sopas, pele de frango, soro de leite, para manter suas próprias vidas e a dos seus.

Questões como: saúde dos mais pobres e a morte de todos eles; desemprego e subemprego; desmatamento e destruição ambiental; destruição das instituições públicas de educação e daquelas que produzem ciência; ataques sistemáticos às instituições estatais e civis que se posicionam em defesa da vida e da convivência civilizada, passaram a ser a base que estrutura todo o modo de agir desse governo que insiste, mesmo depois da derrota nas eleições, em pensar e agir contra o povo e contra princípios republicanos básicos.

Mais uma vez venceu a DEMOCRACIA. Apesar disso, aqueles que visam o poder a qualquer custo insistem em tomar o governo. Como destroem tudo que tocam, não sabem fazer outra coisa, senão aprofundar a destruição desse resistente e resiliente “tecido” que é a sociedade brasileira.

Este instante histórico é novo. Mas sua novidade se dá, sobretudo, porque juntamente com tantos ataques, uma pequena parcela da sociedade brasileira não consegue mais esconder sua face preconceituosa, racista, fascista, xenófoba. Nesse mesmo instante histórico desponta também a face daquela maioria de brasileiros e brasileiras que amam a vida; pessoas corajosas que, apesar de terem mais de 90 anos e de terem ultrapassado a obrigação de votar, teimam em votar porque se concebem como atores políticos. É também daquelas que apesar de terem apenas 16 anos de idade, teimam em defender a cidadania e não importa se vivem no Vale do Jequitinhonha, no ABCD paulista, em Caruaru, Novo Triunfo, Duque de Caxias, Morro do Papagaio, Morro do Alemão ou em qualquer lugar desse imenso e complexo país, de um povo cada vez mais corajoso e apaixonante.

Para retomar a construção e redirecionamento do Brasil, é crucial e urgente a criação de um centro de informação com fortes características científicas e sociais, com condições de combater informações inadequadas e as mentiras (fake news) que passaram a ocupar os vários espaços da vida cotidiana, com prejuízos de múltiplas dimensões. Trata-se de um centro que visa também ser dirigido e ser formado por cientistas, movimentos sociais, sindicatos, religiosos, ONGs e demais grupos sociais interessados e comprometidos com a ciência, com a verdade, com a Educação, com a cidadania, com a democracia, com a civilidade do povo brasileiro.

Sobre os autores
Aurélio Ferreira é professor de Filosofia do IFMG. E-mail: aurelio.ferreira@ifmg.edu.br

Rudá Ricci é cientista político e presidente do Instituto Cultiva. E-mail: rudaricci@gmail.com


Imagem de destaque: Wiki Favelas

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