A atuação dos jornalistas no programa de entrevistas na data de 02 de setembro gerou incômodo aos que, minimamente, conhecem o ofício do jornalismo e a própria Constituição. Muitas das vezes, as perguntas elaboradas denotavam uma defesa pelo descumprimento das leis por parte de promotores e juízes e o ataque ao exercício do jornalismo. É o obscurantismo escrachado e naturalizado numa evidente glamourização da ignorância e isso nos impele a apoiarmos as manifestações pela democracia no dia 07 de setembro.
Promotor e juiz, por lei, não podem agir da maneira que atuaram na Lava Jato e um(a) jornalista, por lei, está autorizado a fazer o que Glenn fez, ele agiu dentro da lei. Esse princípio elementar está sendo ignorado e isso é grave.
Demonstra desconhecimento das leis, mau caratismo ou ignorância.
Questionaram o próprio jornalismo, dado o teor das perguntas. Que tipo de formação aqueles jornalistas tiveram?
Digo isso porque havia jornalista questionando se o Glenn não pesou as consequências dos vazamentos para o futuro da Lava Jato. Ele respondeu que “corrupção é corrupção”, portanto, deve ser vazado e não cabe a ele decidir o futuro desta operação.
Foram feitas perguntas infantilizadas, demonstrando desconhecimento da própria profissão e alinhamentos da mídia às elites e setores conservadores.
Uma jornalista questionou se não era melhor colocar os hackers no lugar dos jornalistas (ou seja, contraditoriamente, no lugar dela mesma), pergunta que ignora princípios que ela deve ter aprendido no primeiro ano da sua graduação.
Precisou o Glenn falar para o jornalista de “O Globo” que o método de análise do material foi o mesmo usado em parceria com “O Globo” em 2013 e 2014 e que foi aceito por eles.
O que isso reflete sobre a nossa sociedade?
Não cabe ao Greenwald definir o futuro da Lava Jato, mas sim exercer o seu papel de jornalista. Como bônus, dar aula às (aos) jornalistas brasileiros.
Isso reflete o pensamento pouco reflexivo e hipócrita, forjado na formação da nossa sociedade e reforçado pela cultura patriarcal e elitista na qual estamos imersos. Os espaços para questionamento são pequenos e menores ainda neste governo, fato que deveria ser defendido ferreamente pelos profissionais que atuam na mídia (na educação e em setores públicos diversos).
A capacidade de mudança, a crítica ao status quo, o aprofundamento em saberes que podem promover alterações no domínio do capital sobre nossas vidas são minorados por mecanismos de controle apoiados por diversos setores da nossa sociedade. Isso ocorre no espaço escolar, no jornalismo, nas igrejas e templos e em agremiações das mais diversas, para que a opressão se mantenha intacta, mesmo que, para isso, os oprimidos tenham que ser convencidos de que estes mecanismos são válidos e lutarem por eles (pelos mecanismos de opressão).
Glenn Greenwald teve que dar aula aos jornalistas da mesma forma que professor@as politizad@as necessitam, a todo momento, convencer a própria categoria de que a atuação docente deve ser preservada naquilo que a própria lei já garante (como liberdade de cátedra, ensino laico, etc).
Parece que, hoje, atuar dentro da lei é coisa de esquerdista. Que bom, por um lado, pois estamos do lado certo. A Constituição de 88 é coisa de esquerda? Defender a democracia e ser contra discursos e ações que ofendem a lei deveria ser papel das pessoas dos mais diversos posicionamentos políticos, mas, atualmente, está estigmatizado como sendo papel da esquerda.
A esperança na justiça, no jornalismo e na educação continua, mas será em forma de ação, como divers@s juristas, educador@s e jornalistas (como o próprio Glenn) fazem. Isso se reflete na política e esta se articula na atuação dos indivíduos na sociedade e nos setores que a compõem.
Participar de manifestações em defesa de uma educação pública, de qualidade e laica, da defesa do meio ambiente e das terras reservadas aos indígenas é defender a própria democracia. Dia 07 de setembro é só a materialização das ideias que, numa crescente, farão uma avalanche contra as destruições promovidas contra a democracia.
Imagem de destaque: TV Cultura/ Reprodução
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