"Petista bom é pestita morto". E depois?

“Petista bom é petista morto”. E depois?

“Petista bom é Petista morto” é o que estava escrito em panfletos que foram jogados, na segunda, dia 05/10,  na rua em frente à casa onde estava sendo velado o corpo do ex-deputado Eduardo Cardoso, também ex-Presidente do Partido dos Trabalhadores.  Na terça, dia 06,  na Mackenzie, uma grande universidade de São Paulo,  apareceu escrito em um banheiro que “Lugar de negro não é no Mackenzie. É no presídio.”

É estarrecedor que muitos dos partidos políticos, inclusive aqueles que se auto denominam de esquerda ou democráticos, e boa parte da opinião pública brasileira,  considerem que o problema é tão somente dos petistas ou da população negra brasileira. Há que se perguntar, uma vez mais, quem seriam os próximos? Os comunistas? Os homossexuais?

A atualização de uma cultura da violência está na ordem do dia, e em grande medida é autorizada por boa parte da mídia e da opinião pública. A ideia implícita ou explícita é sempre a mesma: na impossibilidade de reduzir o outro aos padrões “corretos”, porque não simplesmente eliminá-lo?

Há que se ter coragem e disposição para separar aquilo que é legítimo política ou juridicamente, seja o parcial combate à corrupção e até mesmo a defesa do impedimento da Presidente da República, daquilo que nos aproxima cada vez mais, e perigosamente, da barbárie. Será que precisamos chegar ao cúmulo de ter que lembrar que aqueles que defendem, hoje, que “petista bom é petista morto” ou que o “lugar de negro é no presídio” certamente não vão parar por aí? Aliás, já não têm parado por aí.

Muitos dirão, e com boa dose de razão, que a barbárie já está instalada em boa parte do Brasil, bastando ver, para isso, o número de mortes perpetradas pela própria polícia contra os cidadãos civis brasileiros. No entanto, a aceitação da transformação de uma prática social numa legítima bandeira política sob o argumento de que tal ou qual grupo político ou racial é merecedor de tal tratamento, é criar condições para a definitiva institucionalização das práticas genocidas que continuamente assombram a humanidade.

Continuamente nós defendemos aqui que a educação não se esgota na escola. Ela acontece nos diversos ambientes em que os seres humanos se reúnem, se encontram, se amam, se violentam. O espaço público, o espaço da rua, é um destes ambientes. E não há dúvida de que os grupos que defendem que “Petista bom é petista morto”  e outras coisas parecidas estão se educando e estão nos educando. Calar diante desses argumentos e dessas práticas, sobretudo sob argumentos de claro oportunismo político, é contribuir para a insignificância da política e para o fortalecimento da barbárie. O oportunista silêncio de hoje é certamente uma das mais perversas formas de educação cívica que estamos vivendo.

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