“O necessário para dar uma instrução completa”: projetos educacionais em exposição nas vitrines de 1922

Luana Goulart¹

2022 se aproxima, e nele, o bicentenário da emancipação política do Brasil! Efeméride que possibilitará refletir sobre o 7 de setembro de 1822 e seu lugar na história. Para sua celebração, já estão em andamento projetos e preparativos, e neles a intenção em fomentar um sentimento de pertencimento da população brasileira a uma determinada memória e identidade nacional. 

Dentre as comemorações da independência do Brasil de outros tempos, está a Exposição Internacional realizada em 1922 na cidade do Rio de Janeiro, então capital da República, que festejou seu centenário. Evento de grandes investimentos que buscou afirmar a modernidade brasileira aos turistas – nacionais e estrangeiros -, e aos representantes de delegações de países participantes que a visitaram, na intenção de incluir o Brasil no então considerado “mundo civilizado”, assentado na ciência e no trabalho, tomados como pilares do “progresso” das nações. 

O centenário da independência e a exposição internacional – divulgada por meio de livros, revistas, e catálogos -, foram matérias de destaque na imprensa da época, compondo edições especiais comemorativas de jornais de grande circulação. Por exemplo, o popular jornal carioca A Noite, fundado em 1911 por Irineu Marinho (com sua última edição no ano de 1964) foi publicado no dia 7/9/1922 em duas partes. Junto a outras matérias, destacou o pavilhão do Distrito Federal chamando atenção para trabalhos em exposição, produzidos em escolas profissionais. 

Em um dos pavimentos do pavilhão dois grandes salões foram destinados à exposição de trabalhos produzidos por estudantes de duas escolas femininas e de escolas de ensino profissional masculino, considerados representantes de 3 variantes da educação profissional: artística, apresentados pela escola Souza Aguiar; pedagógica, pela escola Visconde de Cairú, e técnica pela escola João Alfredo, com modelos idênticos aos do Museu de Geometria Descriptiva, comentando positivamente parte dos seus trabalhos expostos. Esses trabalhos produzidos por estudantes e divulgados pelo jornal variavam nas temáticas, sendo eles de desenho industrial, marcenaria, tornearia mecânica, entre outros.

A Noite tratou também de divulgar o livro ilustrado “Escolas Profissionais” do Dr. Álvaro Rodrigues, indicando-o como guia para os visitantes do pavilhão do Distrito Federal, destacando quanto auxiliaria na compreensão dos trabalhos expostos e no entendimento de que naquele momento o ensino profissional teria alcançado grande importância em função do progresso nacional.

Ao final da matéria, foram transcritos “arquivos da instrução”, a respeito do projeto apresentado pela escola Visconde de Cairú, no qual promovia-se um novo método mais moderno para a educação cívica. Nele, os “arquivos” – coleção de documentos que todo e qualquer cidadão deveria conhecer nas suas relações com o Estado, instituições particulares e com os deveres da Constituição Brasileira e para com os habitantes do país -, tratariam da instrução cívica e permitiriam, nas palavras do jornal, “uma instrução mais completa”.

A presença da educação cívica e o destaque ao ensino profissional na exposição internacional noticiada na edição especial de A Noite sugere ter sido esse tema de relevância e de debate à época, na busca por qual modelo educativo atenderia melhor às expectativas e interesses para um Brasil moderno. Ao que parece, os editores do periódico, defendiam ser a educação cívica e o ensino profissional modelos educativos necessários para compor um projeto de sociedade que fosse ideal para o futuro do país.

Uma aproximação com projetos de educação que estiveram em curso em tempos do centenário da independência do Brasil (1922) pode servir para reflexão e ação quanto às comemorações em 2022, visto que, possivelmente ainda estará em vigência a gestão do atual presidente da república, Jair Bolsonaro, protagonista de discursos em apoio à presença de militares em instituições públicas de ensino, apoiador aberto da ditadura militar (1964 – 1985), regime que tornou obrigatório a disciplina de educação moral e cívica em estabelecimentos de ensino no país.

Sem dúvida, a educação é um campo de disputas! Tanto no passado, no presente, e no que está por vir, a formação da população, considerada um dos pilares para determinado projeto de nação, tem sido tema polêmico e amplamente discutido. Nesse sentido, cabe a todos nós cidadãos, conhecer tais projetos, refletir e questionar, por exemplo, a respeito daqueles que consideram necessária a educação cívico-militar na educação brasileira.

 

¹Graduanda do curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, bolsista de Iniciação Científica pelo CNPQ e integrante do Núcleo de Ensino e Pesquisa em História da Educação NEPHE/UERJ. E-mail: goulart797@gmail.com


Imagem de destaque: A Noite, 07/09/1922, p.01. Hemeroteca Digital Brasileira – FBN. 

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