Convite à Leitura: “De guri a cabra-macho. Masculinidades no Brasil”

Vinícius de Abreu Bolina¹

Existe nas Ciências Humanas a “teoria fenomenológica dos atos”. Ela procura explicar como nós humanos constituímos ou somos constituídos pela realidade social através da linguagem e dos gestos, por exemplo. Quando Judith Butler diz que gênero é performativo, ela mostra que ele é constituído por “repetições estilizadas de atos”, todos os dias por meio de nossos gestos corporais, movimentos, por nós, pela forma como nos vestimos, caminhamos, pelas pessoas e lugares que convivemos, histórica e socialmente, criando uma ilusão de “eu”. Muito resumidamente é assim que constituímos nossa crença sobre nosso gênero, e sobre o que somos nós, por exemplo. Em viagem a trabalho ao Brasil em 2017, Butler sofreu ameaças e ataques de ódio de alguns setores sociais conservadores que, ao se apropriarem do conceito de gênero, o retiraram do contexto e fizeram valer sobre ele seus valores, os valores da sua ideologia. Curiosamente esses mesmos setores chamavam a perspectiva teórica de “ideologia de gênero”.

Falando sobre o gênero masculino (em suas diferentes possibilidades), Marcio Caetano e Paulo Melgaço da Silva Junior organizam o brilhante “De guri a cabra-macho: Masculinidades no Brasil” com trabalhos de pesquisadores/pesquisadoras das diversas regiões do país que abordam as diferentes formas como as performatividades das masculinidades legitimam a lógica de domínio dos homens, de Porto Alegre a Salvador, da Amazônia Oriental ao Rio de Janeiro, da escola à literatura, do teatro à unidade socioeducativa, das ruas às rodas de conversa entre homens. Os trabalhos têm auxílio das lentes da antropologia, sociologia, estudos culturais, psicologia, saúde coletiva, literatura e da educação. É obra essencial para um panorama nacional e interdisciplinar de como os sentidos e os significados – no plano cultural de um país imenso como o nosso – implicam nos vários modos como cada homem produz sua masculinidade ao decorrer da vida, vendo e vivendo os marcadores de raça, classe e sexualidade.

 

1 – Licenciando em Sociologia, Universidade Federal de Santa Maria. 


Imagem de destaque: Editora Lamparina

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