O direito à literatura na primeira infância: contribuições da Bebeteca/FaE/UFMG

Ana Carolina Silva Correia¹
Bárbara Poliana Rodrigues Torres Versieux²
Mônica Correia Baptista³

Coletivo Geral Infâncias

A Bebeteca UFMG, inaugurada em outubro de 2011, integra ensino, pesquisa e extensão. Seu objetivo principal é potencializar a formação de professoras e outros profissionais para atuarem como mediadores e promotores de leitura literária junto a crianças de zero a seis anos de idade. Situada na Biblioteca Alaíde Lisboa, na Faculdade de Educação da UFMG, a Bebeteca possui um acervo de aproximadamente 2.000 títulos, que atende tanto às formações por intermédio dos projetos, quanto às pesquisas comprometidas aos temas relacionados às crianças, infâncias, Educação Infantil, literatura e consequentemente, ao direito à literatura de qualidade.

Mas, o que significa dizer que literatura é um direito? Antônio Cândido (2011) nos provoca a refletir sobre o que é indispensável para nós como seres humanos. Ao considerar a literatura no seu sentido mais amplo, no qual apreende criações de toque poético, ficcional ou dramático em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, conclui que a fabulação é imprescindível. Para o autor “[…] a literatura parece corresponder a uma necessidade universal, que precisa ser satisfeita e cuja satisfação constitui um direito” (CÂNDIDO, 2011). Assumir a literatura nessa perspectiva é também assumir o papel importante que as instituições educativas devem ter no processo de imersão das crianças na cultura. 

O Programa Bebeteca afirma este direito através da formação, visto que se compromete com a ampliação dos conhecimentos e experiências acerca da obra literária. Devido a pandemia advinda do Covid-19, os projetos que antes eram realizados de maneira presencial precisaram ser adaptados para o modelo remoto, que apesar de limitar o acesso e manuseio dos livros, possibilitou que mais pessoas de diferentes regiões do Brasil pudessem participar dos nossos encontros, o que tem sido muito positivo.

Atualmente, são desenvolvidos os seguintes projetos na Bebeteca:  01) “Tertúlia Literária: quem lê também tem muito a dizer” – a partir da aposta de que, para apoiar a formação das crianças como leitoras de literatura, as professoras devem ser elas mesmas leitoras de literatura, realizam-se encontros mensais para conversar sobre obras escolhidas previamente a partir de um tema norteador. O tema deste ano foi “Mulheres na literatura”; 2) “Projeto de formação de mediadores e promotores de leitura literária” (PROLLEI) – por meio da leitura de textos teóricos, especialistas em literatura infantil discutem critérios de qualidade de livros e trazem temáticas importantes, como os livros para bebês, livros não-ficcionais, livros ilustrados, relações étnico-raciais na literatura etc. 03) “Nana neném: entre livros, histórias e canções” – esse projeto busca fazer com que as professoras se apropriem do repertório que envolve a arte, a literatura, os contos orais e as canções, para discutir atividades que apostam na sensibilização para as culturas infantis no trabalho com os bebês; 04) Projeto “O que tem nesta Bebeteca?” – são realizados encontros mensais nos quais os participantes têm a oportunidade de conhecer nosso acervo para conversar sobre as obras, as temáticas e as mediações junto às crianças pequenas.

As ações desenvolvidas no âmbito dos projetos da Bebeteca/FaE/UFMG configuram-se como forma de resistência ao atual contexto político. A Política Nacional de Alfabetização – PNA – do atual Ministério da Educação – MEC – tem representado uma ameaça às concepções e diretrizes que, ao longo de mais de duas décadas, vinham pautando as políticas de formação de professores e de compra e distribuição de livros. O Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) 2022 e a coleção “Conta pra mim” são exemplos desse momento de inflexão. Os princípios expressos nas orientações e diretrizes contidas nesses programas governamentais subjugam as crianças, colocando a ênfase em conteúdos escolares, em habilidades e competências a serem atingidas por meio de atividades carentes de significado para as crianças e distantes dos seus interesses e desejos. 

Diante do contexto atual e da luta por assegurar às crianças uma educação que as respeite como seres capazes, cognitiva e emocionalmente, é relevante retificar o quanto programas como a Bebeteca FaE/UFMG são oportunos e necessários. A formação das subjetividades infantis, marcadas pelo simbólico, pela imaginação e pela fantasia encontram na literatura um referencial e um suporte para garantir às crianças o direito de sonhar e ampliar suas experiências. Como Yolanda Reyes (2012, p.28), acreditamos que, embora ler literatura não transforme o mundo, pode fazê-lo ao menos mais habitável. O fato de nos vermos em perspectivas e de olharmos para dentro de nós mesmos contribui para que se abram portas para a sensibilidade e para o entendimento sobre nós e sobre os outros.

 

¹Ana Carolina Silva Correia é graduanda do curso de Pedagogia FaE/UFMG e bolsista do Programa Bebeteca FaE/UFMG. E-mail: anacorreia@ufmg.br 

²Bárbara Poliana Rodrigues Torres Versieux é professora na Educação Infantil, Pedagoga pela FaE/UFMG e Voluntária do Programa Bebeteca FaE/UFMG. E-mail: barbaratorres22@hotmail.com 

³Mônica Correia Baptista é professora Associada da FaE/UFMG e Coordenadora do Programa Bebeteca FaE/UFMG. E-mail: monicacb.ufmg@gmail.com

 

Para saber mais:

BAPTISTA, M. C. & MICARELLO, H. Literatura na educação infantil: pesquisa e formação docente. Curitiba, PR.: Educar em Revista, v.34, n.72, p.169-186, nov./dez. 2018. Acesse aqui

BAPTISTA, M. C. ; LÓPEZ, M. E. & ALMEIDA JÚNIOR, J. S. de. Bebetecas nas Instituições de Educação Infantil: Espaços do Livro e da Leitura para crianças menores de seis anos. Belo Horizonte: Educação em foco, ano 19, n.29, 2016. P.107-123.

CÂNDIDO, Antônio. O direito à literatura. In: ___. Vários Escritos. 5 ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul/ São Paulo: Duas Cidades, 2011.

REYES, Yolanda. Ler e brincar, tecer e cantar: literatura, escrita e educação. São Paulo: Pulo do Gato, 2012.


Imagem de destaque: Arquivo Bebeteca

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