No Mês da Consciência Negra, resistir e avançar

Raquel Barreto Nascimento*

Há algumas décadas, em 20 de novembro é comemorado o Dia Nacional da Consciência Negra. Neste ano de 2020, ainda que atípico, alguns Institutos e Organizações vêm desenvolvendo trabalhos e ações de conscientização sobre o racismo, sobretudo nas plataformas digitais. Esta data, que rememora a morte de Zumbi dos Palmares (1695) – último líder do Quilombo dos Palmares – tem um significado especial para a população negra, pois relembra e valoriza seus ancestrais, bem como reforça a necessidade de luta de seu povo para ocupação e permanência nos espaços de poder.

Historicamente, a população negra é alvo de prática de racismo que se articula nas diversas esferas da sociedade. Apesar de há 31 anos ser considerado crime o preconceito que toma como razão a cor do indivíduo (Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989), não são isolados os casos em que cidadãos negros são discriminados e marginalizados em decorrência de sua raça. Seja nos postos de trabalho, nos transportes públicos, nas instituições escolares ou em outros locais da vida pública, a população negra tem sentido na pele as consequências da discriminação.

Recentemente, nos Estados Unidos o assassinato de George Floyd tomou proporções gigantescas e revelou que os crimes contra a raça continuam a ocupar o solo dos países desenvolvidos. O homem negro de 40 anos teve sua vida e futuro roubado por um policial branco que, com os joelhos em seu pescoço, o sufocou até a morte. Mas não precisamos ir tão longe para conhecer casos semelhantes. É bem provável que você já tenha presenciado uma destas cenas no seu bairro, na sua cidade. Em grau menor ou maior, a discriminação nos persegue diariamente e deve ser combatida. Assim, a desigualdade social também é uma marca da sociedade brasileira que, tem as pessoas brancas ocupando as maiores parcelas nos índices econômicos e sociais.

Por isto, as práticas de resistência e enfrentamento ao racismo devem ser diárias. A luta pela liberdade e por direitos que se iniciou nos Palmares deve persistir no século XXI. Isto quer dizer também que o ambiente escolar se torna lugar propício para estas ações, visto que a escola tem o papel de formar cidadãos críticos e conscientes. Neste sentido, a Lei 10.639 de 2003 representa um significativo avanço no combate ao racismo. Isto porque estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, sendo elas públicas ou particulares, do ensino fundamental ao ensino médio.

Esta ação liga-se diretamente à representatividade e à necessidade política de que a história do Brasil seja contada, contemplando todos os sujeitos que a compõem e lhe dão vida. Conhecer a sua história é o primeiro passo para que a população negra se aposse da sua negritude e se reconheça nas distintas esferas da vida social. Assim, este simbólico mês é de comemoração, mas também de reflexão e de continuação das práticas de resistência e enfrentamento ao racismo que assola a nossa sociedade.

 

*Estudante do curso de Licenciatura em História pela Universidade Federal de Pernambuco. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa Interdisciplinar em Formação Humana, Representações e Identidades (GEPIFHRI) e pesquisadora bolsista de Iniciação Científica do projeto Professora Maria Celeste Vidal: formação e militância de uma presa política, que faz parte do Projeto de pesquisa Interinstitucional intitulado A educação de mulheres ao longo dos séculos XIX e XX, orientado pela Prof. Dra. Raylane A. D. Navarro Barreto.


Imagem em destaque: Tomaz Silva / Agência Brasil

 

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