Para além das mazelas da colonialidade

Alfredo Johnson Rodríguez

Desde o abominável golpe promovido pelas elites ultra conservadoras deste país, em detrimento da estabilidade das instituições políticas e da dignidade humana do povo brasileiro, sucedem-se experiências violentas e dramáticas que atentam contra a integridade de todos/as, na medida em que os pilares da democracia, da cidadania e do sistema de direitos vêm sendo deliberadamente demolidos e obliterados pelo clã tirânico que usurpou o governo em 2019.

Com efeito, além das investidas genocidas, misóginas e racistas ativadas pelos atuais donos do poder, são notáveis o misticismo, o anticientificismo, o negacionismo e o fanatismo que permeiam a narrativa e as práticas políticas desses déspotas sombrios, protagonizando um nefasto processo de produção da ignorância e da farsa, que potencializa ainda mais o longo percurso de desumanização que os colonizadores europeus nos impuseram desde o final do século XV.

Nunca, na história do Brasil e da América Latina, as mazelas da colonialidade (“do poder”, “do saber” e “do ser”), componentes basilares da famigerada modernidade, ficaram tão evidentes e pungentes em nosso cotidiano, como neste último quinquênio.

Com imenso pesar, constatamos, nesse período, a ampliação da assimetria social nas relações de poder e, consequentemente, o incremento da subalternização, da opressão e da exclusão sociocultural da maioria da população local, que, enfim, consubstancia um intenso e injusto sofrimento humano, que as elites, cinicamente, negam se tratar de uma violação explícita dos direitos humanos.

Os atos governamentais alusivos ao “Bicentenário da Independência do Brasil” neste ano são a mais viva prova dessa lógica perversa, na medida em que tais eventos assumiram um teor eminentemente antidemocrático e indecoroso, configurando um ostensivo sequestro do Estado, da cultura, dos valores e da dignidade nacionais, que redundou na apologia de toda sorte de preconceitos, da violência, da falácia e no oportunismo eleitoreiro do Presidente-candidato.

Lamentavelmente, essa deplorável postura aniquilou a inédita chance histórica de deflagrar um vigoroso debate democrático sobre a realidade e as possibilidades de transformação social da nação, em perspectiva decolonial.

Considero, portanto, que o cerne da disputa política que permeia o processo eleitoral em curso no Brasil jaz, em primeira instância, na inequívoca controvérsia a respeito do posicionamento dos adversários frente ao crescente fluxo de perturbações que ameaçam nossa existência coletiva e nossa convivência democrática e, por conseguinte, ao projeto de sociedade que se pretende realizar.

Imersos(as) nessa desafiante e decisiva condição de escolha política, temos em nossas mãos, por meio do voto, a extraordinária possibilidade e a responsabilidade contra-hegemônica de banir os inimigos da democracia e da paz, que invadiram nosso lar, e retomar a trilha do desenvolvimento humano integral e a construção efetiva e solidária da dignidade e do bem-viver.

Sobre o autor
Doutor em Ciências Humanas. Pedagogo da Rede Municipal de Betim e Professor da Faculdade Pitágoras.


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