Palavras ou pedras? A agressividade nas redes sociais e a escola
Resolver um conflito utilizando a palavra, e não uma pedra, foi um grande avanço na história da humanidade. Esse exercício de autocontenção possibilitou aos homens fazer acordos, parcerias e compartilhar espaços. Afinal, por meio da palavra tornou-se possível mediar e apaziguar os ânimos.
Ao observar a agressividade com que as pessoas se relacionam nas redes sociais, tenho a sensação de que teremos que voltar à infância da humanidade e reaprender a conviver. Basta correr os olhos nas postagens do Facebook e no Twitter para notar que as palavras ocuparam o lugar das pedras e estão sendo usadas para atacar e ferir.
A internet nos possibilitou transitar na dimensão virtual, o que é, sem dúvida, uma conquista. Entretanto, esquecemos de levar os códigos de convivência para esse ambiente. A honra, a vergonha, o respeito, a preservação da intimidade perderam-se nessa transição. No ambiente virtual, muitas vezes, não há limite: fala-se sem ter provas, blefa-se, lincha-se, ofende-se, deprecia-se e humilha-se as pessoas. Tudo isso utilizando a palavra, o mesmo dispositivo que, num determinado tempo de nossa história evolutiva e cultural, nos colocou em um patamar diferente em relação aos outros animais.
O que fazer nesse caso? Em primeiro lugar, a escola precisa ter clareza de qual parte lhe cabe, para não correr o risco de assumir responsabilidades que são próprias da família. Parto do princípio de que respeitar o próximo e os mais velhos, pedir licença ou desculpas, dar bom dia, escovar os dentes, não jogar papel no chão são exemplos básicos daquilo que se aprende, preferencialmente, em casa. A escola irá, então, reforçar, otimizar e validar esse aprendizado.
Em segundo lugar, a escola não deve aceitar o papel salvífico da “superinstituição”, com poderes e respostas para tudo. Todas as vezes que algum comportamento “estranho” ganha expressão ou visibilidade no âmbito das relações sociais, logo nós, professores, somos inquiridos: “O que vocês estão fazendo?” A escola precisa cuidar disso; inserir aquilo; e falar daquilo outro”. Com o passar do tempo, essa instituição se transformou num depósito das mais diversas expectativas. Alto lá! Aquilo que se espera da escola é, de fato, de sua responsabilidade?
Diante da proliferação no ambiente virtual da agressividade, do desrespeito, das mentiras, das difamações e linchamentos morais, é preciso que a comunidade escolar deixe bem claros os valores que preza e valida, não somente como discurso, mas como prática. Temos que demonstrar indignação e nunca considerar naturais aquelas ações que ferem esses princípios.
A todo momento, seja na sala de aula, no pátio ou nos corredores, estamos diante de oportunidades em que podemos ensinar sobre as virtudes e os princípios morais. Nesse sentido, Yves de La Taille, em seu livro Formação Ética, é altamente esclarecedor e enfático quando exemplifica que ninguém pode ser, sob pretexto algum, humilhado, pois este é um direito absoluto que não admite exceções.
Qual a relevância desse aprendizado? Essa intenção pedagógica está presente em nossos currículos? Quando os alunos fazem ciberbullying, nós, professores, devemos nos dispor a conversar sobre isso, levando-os a perceber que isso é grave e reprovável. Para fazê-los sentir a gravidade disso não basta aplicar uma regra punitiva, mas a reparação moral de quem foi ofendido e a reflexão sobre o ocorrido. Conforme afirma La Taille, a moral é objeto de conhecimento e reflexão.
Aplicar a regra é mais rápido e prático. Entretanto, não teremos regras para tudo, daí precisarmos dos princípios, que são bem mais abrangentes e que nos dizem “em nome do que agir”. La Taille diz que “os princípios estão para as regras como as bússolas estão para os mapas”. Se não avançarmos para além das regras e dos comandos, estaremos formando sujeitos infantilizados e que sempre irão carecer da autoridade externa, pois não pensam por si.
Referindo-se à vida de uma maneira geral, ele lembra que estamos diante de “regimentos obesos”, dirigidos a muitas de nossas ações e atitudes. Devemos nos perguntar sobre os motivos dessa superabundância de regras. A resposta passa pela constatação de que estamos falhando nos princípios e de que carecemos do senso moral. Assistimos não somente ao “crepúsculo do dever”, como estamos promovendo-o, constata La Taille.
Essa reflexão nos remete ao provérbio africano que diz que “é preciso toda a tribo para educar uma criança”. Os estudiosos da psicologia moral nos apontam que ninguém nasce com a capacidade de avaliar o que é o bem e o que é o mal. Isso não é inato. O juízo moral depende das interações sociais pelas quais a pessoa passou durante a sua vida e, nesse sentido, é oportuno ouvir os poetas Milton Nascimento e Wagner Tiso: “Há que se cuidar do broto, para que a vida nos dê flor e fruto”.
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