Alessandra Vidal Dias¹
Deixei minha mãe trabalhar o dia inteiro e quando o seu expediente já estava se encerrando, ela começou a sentir um certo desconforto: era eu dando os primeiros sinais que estava pronta para essa vida. Nasci às zero horas e cinquenta e cinco minutos, do dia 12 de agosto de 1999, na cidade de Bagé/RS, carinhosamente conhecida como Rainha da Fronteira. Sou a segunda filha dos meus pais, e foi minha irmã quem escolheu meu nome, Alessandra Vidal Dias.
Naquele ano, minha mãe trabalhava na Universidade da Região da Campanha (Urcamp), e o meu pai estava iniciando seu próprio empreendimento. Com o meu nascimento, minha mãe pode usufruir da licença maternidade e de férias. Em 2001, meus pais precisaram voltar ao trabalho, e eu fui matriculada na Creche Santa Rita, no centro de Bagé e esse foi o meu primeiro contato com a escola.
Em janeiro de 2002, minha família e eu nos mudamos para Balneário Camboriú/SC. Até o início do ano letivo pude ficar com meus avós e pais, mas logo fui matriculada na creche Brilho do Sol, no bairro Estaleiro em Balneário Camboriú. Lembro-me até hoje da minha professora, a Vera. Tenho algumas recordações dela e da minha creche, a estrutura não era muito grande; tinha esculturas da Branca de Neve e dos sete anões na frente do “jardim” e um pátio. Minha mãe conta que eu amava ir para a creche, era bem enturmada e sociável.
No ano de 2004, com quatro anos de idade, comecei a estudar no pré I, na Escola Municipal Giovania de Almeida, hoje Centro Educacional Municipal Giovania de Almeida, desta vez, no mesmo bairro onde moro até hoje. Nesta escola, estudei até o final do ensino fundamental, o 9º ano, e tenho lembranças de professoras e professores muito queridos, e também amigos que o tempo afastou. Nesse período, do ensino fundamental, se você me perguntasse o que eu queria ser quando crescer, eu teria respondido: “Professora!”, com um sorriso bem grande no rosto. Mas ao longo do ensino médio eu mudei muito no que diz respeito a pensar qual profissão eu gostaria de exercer.
No ano de 2014 ingressei no Instituto Federal Catarinense – Campus Camboriú, para cursar o ensino médio integrado ao curso técnico de Controle Ambiental. Foi definitivamente, uma grande mudança, pois minhas responsabilidades enquanto estudante aumentaram, minha dedicação e estudo também. O cansaço era grande, mas o que recompensava era a minha turma, a CA14, que se tornou a minha família.
Foram os três anos de maiores descobertas sobre mim mesma, sobre o mundo, sobre o meu país; percebi que questões políticas e educacionais chamavam a minha atenção, e mesmo que na época não tenha me envolvido tanto quanto queria, foi o necessário para quê, com o tempo, esse interesse aumentasse. No ano de 2016, houve um movimento nacional de ocupação nas escolas, principalmente de ensino médio: um protesto contra a Medida Provisória (MP) 746/2016, que teve como proposta a implementação da Reforma do Ensino Médio e o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) 241, que sugeria um Novo Regime Fiscal, um teto de gastos públicos para o Brasil.
A maioria dos estudantes era contra o teto de gastos e reforma, pois sentiam que os direitos à educação pública de qualidade estavam sendo ameaçados, principalmente nessa última, pela maneira antidemocrática que foi elaborada. Nesse contexto, os centros acadêmicos do IFC-Camboriú, alinhados aos centros acadêmicos de outros IFC, iniciaram as manifestações e juntamente com os alunos que eram contra a reforma do Ensino Médio, organizaram e iniciaram uma ocupação do campus. Foi muito interessante participar desse movimento, sentir que de alguma forma nossas ações se fortaleciam e nossas vozes estavam sendo ouvidas.
Entretanto, a nossa instituição foi uma das poucas, talvez a única, que possuía um movimento contrário à manifestação de ocupação: o “Desocupa IFC”. Esse alunos também achavam que seus direitos à educação estavam sendo prejudicados, mas nesse caso, pelo movimento “Ocupa IFC”. Entendo e respeito a opinião deles porém, o que eles não percebiam, é que estávamos lutando por algo maior, e não impedíamos ninguém de ter aulas; os responsáveis pela movimentação do “Ocupa IFC” fizeram um planejamento no qual organizaram um cronograma de atividades com espaço para debates, e tantas outras atividades que enriqueceram a nossa reflexão crítica.
Nesse mesmo ano, meu último no ensino médio, eu estava decidida a cursar Artes Visuais Licenciatura. Confesso que ainda vejo como uma opção, mas a vida gosta de soprar mudanças, e acabei não conseguindo a nota necessária no vestibular.
Continua…
1Estudante do curso de Licenciatura em Pedagogia do Instituto Federal Catarinense.
Texto escrito inicialmente como atividade avaliativa da disciplina História da Educação, do curso de Licenciatura em Pedagogia do Instituto Federal Catarinense – campus Camboriú, ministrada pela Profa. Dra. Marilândes Mól Ribeiro de Melo.
Imagem de destaque: Fotos Públicas / Roberto Parizotti/ Secom CUT