Ocupações de Belo Horizonte mantém cronograma intenso de atividades – Yolanda Assunção

Ocupações de Belo Horizonte mantém cronograma intenso de atividades

Yolanda Assunção

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O movimento de ocupação iniciado no Paraná, no início de outubro, e seguido por centenas de escolas, faculdades e institutos federais em todo Brasil alterou a rotina das instituições. Para protestar contra a PEC 55 (antes chamada de PEC 241), a MP 746 e outras propostas que afetam a educação e outros serviços básicos, estudantes convocaram assembleias para estabelecer ações em suas próprias instituições de ensino. Em Belo Horizonte, alunos ocuparam os prédios da UFMG, Escolas Estaduais, da UEMG e da PUC-Minas. Alguns decidiram pela paralisação total das atividades, outros preferiram estabelecer acordos com professores e a administração para manter as atividades durante a ocupação.

Tanto nas ocupações que tiveram suas atividades paralisadas quanto nas que coexistem com a rotina normal da unidade, estudantes permanecem mais tempo nas instituições. Neste tempo, as ocupações realizam atividades culturais, didáticas e formativas, públicas e gratuitas organizadas por Comissões de Programação. Em reuniões diárias, os ocupantes levantam necessidades e possibilidades para atividades que contribuam na produção de conhecimento e no debate.

A programação envolve aulões públicos e rodas de conversa sobre diversos assuntos. A ideia é colaborar para o debate em torno das propostas que levam às ocupações e, também, assuntos pertinentes a cada unidade. Esta semana, por exemplo, a Escola de Arquitetura e Design (EAD) da UFMG realizou atividades sobre mobilidade, ocupações e aldeias urbanas. “Nós não queremos que ninguém pense que está de férias. É uma forma nova de pressionar o governo. Resolvemos fazer uma ocupação pra fora, e chamar as pessoas para participar das discussões. Através do conhecimento as pessoas podem mudar alguma coisa. Queremos nos preparar para o debate e tentar fazer uma experiência de educação mais horizontal”, relata uma ocupante da EAD UFMG.

As comissões também estabeleceram um canal de conversa com professores e grupos de pesquisa para alinhar algumas atividades. Na última terça feira, o Núcleo de Pesquisa em Memórias, Representações e Práticas Sociais da UFMG, que é responsável pela disciplina “Memória Social e Ditadura Militar” da graduação em psicologia, integrou a programação da Ocupação do CAD 2, com um aulão sobre “Ditadura e Resistência dos Operários e Povos Indígenas”. Já na Ocupação da Faculdade de Letras, a programação do Simpósio de Pós Graduação em Literatura ocupou parte da programação do último dia 3.

As atividades também estabeleceram uma rede entre as ocupações. Universitários e secundaristas estão transitando entre os espaços para estabelecer diálogos, contribuir para uma discussão com pontos de vista diferentes e auxiliar no processo de ocupação. Em rodas de conversa, aulas especiais e oficinas, os estudantes trocam experiências e enriquecem o debate em torno de questões atuais.

Contudo, as atividades não ficam apenas no plano didático convencional. Davi Pantuzza (Simranjit Singh) é professor de Kundalini Yoga e aluno do mestrado da Faculdade de Educação da UFMG e na última semana deu aulas de Yoga nas ocupações da FaE – UFMG e também na Escola Estadual Governador Milton Campos, o Estadual Central. Segundo ele “em ambos os espaços ouvi que ‘estavam precisando’ devido à tensão. A prática ajuda a resistir ao que oprime, demove e anula.” O professor, que já deu aulas de Kundalini Yoga no Ensino Médio em uma escola que mantém a prática no currículo tradicional, afirma que a experiência poderia fazer parte do calendário letivo já que “é muito benéfica e até necessária para podermos sair dos conhecimentos intelectuais e exageradamente mentais que a escola as exige.”

As atividades também buscam alcançar um público para além da comunidade acadêmica. Esta semana a Ocupação da Faculdade de Letras da UFMG iniciou uma programação de “Tira dúvidas do Enem”. Alunos e voluntários de várias licenciaturas se colocaram à disposição de candidatos que vão prestar o Exame Nacional do Ensino Médio nessa reta final antes da prova. De acordo com a Comissão de Programação do movimento Ocupa FALE – UFMG, a programação deseja alcançar a comunidade acadêmica e também o público externo. “As vezes parece que estamos numa bolha dentro das universidade, e fazemos programação só pra gente, só trabalhos acadêmicos. E esse não é o propósito da ocupação. Uma programação aberta é uma forma de dar retorno pra sociedade. Nem todos têm acesso à universidade e o mínimo que podemos fazer é retornar pra sociedade o conhecimento que adquirimos aqui dentro” declarou um membro da comissão.

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Aulão Público – PEC241 Desconstruindo a justificativa econômica promovido pelo Coletivo FACE sem Temer

Mesmo entre as unidades que não foram ocupadas, a movimentação de alunos busca um debate amplo sobre as ocupações e a causa delas. É o caso do Coletivo Face sem Temer. Formado por alunos da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, o grupo realiza aulas em várias ocupações a respeito das características econômicas da PEC 55. A atividade apresenta noções básicas de economia e pretende esclarecer a situação econômica do país e os caminhos possíveis para contornar a crise. Esta semana o coletivo realizou uma dessas aulas no Viaduto Santa Tereza, importante local de cultura popular e ativismo de Belo Horizonte. A professora da Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais, Luciana Moraes, esteve na aula e nos falou sobre a importância de se discutir a PEC 55 sob várias perspectivas. “Eu vim para captar algumas coisas da economia para ajudar no debate. Dentro das universidades e escolas é um campo importante pra expandir melhor este tipo de informação. Se aproximarmos as informações da nossa realidade desde cedo, para discutirmos melhor sobre o assunto.”

A programação das ocupações de Belo Horizonte são divulgadas diariamente nas páginas do Facebook de cada ocupação.

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